O risco não foi menor do que entregar as chaves de casa a um desconhecido. Embora todos identifiquem a cara de Francisco Trincão, ninguém sabe muito bem por onde tem andado, o que tem feito e com quem tem estabelecido relações nos últimos tempos. É então de enaltecer a honestidade do jogador do Sporting que, num jogo decisivo, viu as chaves na porta, entrou e, em vez de estragar algum objeto de maior valor, embelezou a parede da sala com uma póster de uma exibição para emoldurar. Ainda assim, no canto da imagem que Trincão deixou, Gyokeres assinou com o seu nome, ficando com os créditos da vitória contra o Farense na Taça da Liga por força do hat-trick apontado.

A exigência para com os jogadores era grande, porque se há quem valorize a Taça da Liga é Rúben Amorim que, enquanto treinador, levantou o troféu três vezes. O certo é que o técnico não demonstrou uma urgência excessiva em enriquecer o currículo com nova vitória na competição e realizou sete alterações no onze em comparação com equipa que alinhou no Bessa, frente ao Boavista. Aparentemente, as mudanças podiam significar uma queda desta prova na hierarquia dos objetivos dos leões, o que está em consonância com o discurso do próprio treinador. “Se olharem para o que disse nos outros anos, desta vez, dei mais ênfase ao campeonato. Não vou estar a escolher entre as competições, mas em caso extremo de dúvida vou sempre cair um bocadinho para o campeonato. Mas temos a obrigação de lutar pela Taça da Liga, de Portugal e ir longe na Europa”, comentou Amorim na antevisão.

Azar era não haver o Geny de Pote numa lâmpada (a crónica do Boavista-Sporting)

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O Farense chegava já com um jogo realizado no grupo C da Taça da Liga. A equipa algarvia venceu o Tondela (1-0) e trazia para Alvalade três pontos. O Sporting, por sua vez, sabia que a derrota valia a eliminação e permitia que o Farense seguisse em frente. “É um jogo decisivo apesar de começarmos agora a competição. Ganhando, o Farense passa já. Podemos dar aqui um passo muito importante para o próximo jogo. Temos também de ir jogar com o Tondela, vencer e ter atenção ao número de golos em caso de empate”, continuou o técnico verde e branco. “Sabemos da importância do jogo e, como disse, é um jogo onde tudo pode acabar. Temos de vencer para seguir em frente”.

Por esse motivo, o Farense encarava a partida com uma certa tranquilidade, mesmo que no encontro que ambas as equipas disputaram para o campeonato, o Sporting tenha vencido por 2-3. “Já fizemos 50% do trabalho – que foi ter vencido o Tondela – e agora gostaríamos de dar seguimento com a vitória em Alvalade”, apontou o treinador José Mota. “Não temos receio de ficar pelo caminho. Vamos fazer um jogo em Alvalade com o líder do campeonato e não temos receio de perder, não temos receio de absolutamente nada. Há aqui algo que joga a [nosso] favor: ganharmos o jogo permite-nos avançar na prova. Isso é que é importante. Isto é um jogo de decisão e os meus jogadores percebem que podemos dar, em caso de vitória, uma alegria tremenda a todos os adeptos, porque nunca estiveram numa prova com esta dimensão”.

Entre as mudanças que Rúben Amorim operou, a grande dúvida era perceber quem jogava ao lado de Daniel Bragança, capitão nesta partida, no meio-campo. Novamente, o técnico leonino voltou a mostrar que utiliza os jogos das Taças para experimentar soluções fora da caixa. Desta vez, foi Gonçalo Inácio a subir no terreno e a desempenhar funções de centrocampista. Dois esquerdinos, dois jogadores que preferem jogar de frente, dois jogadores que podiam muito bem não ser compatíveis.

Ficha de Jogo

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Sporting-Farense, 4-2

2.ª jornada do grupo C da Taça da Liga

Estádio de Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Gustavo Correia (AF Porto)

Sporting: Franco Israel, Esgaio, Diomande (Coates, 72′), St. Juste, Gonçalo Inácio (Pedro Gonçalves, 55′), Matheus Reis (Neto, 65′), Daniel Bragança (Dário Essugo, 72′), Trincão, Nuno Santos, Paulinho e Gyokeres (Edwards, 65′)

Suplentes não utilizados: Adán, Fresneda, Geny Catamo e Hjulmand

Treinador: Rúben Amorim

Farense: Ricardo Velho, Fran Delgado, Artur Jorge, Gonçalo Silva, Talocha, Fabrício Isidoro (Vítor Gonçalves, 56′), Cláudio Falcão (Caseres, 56′), Mattheus Oliveira (Rafael Barbosa, 69′), Marco Matias, Belloumi (Rui Costa, 56′) e Bruno Duarte (Zé Luís, 56′)

Suplentes não utilizados: Luiz Felipe, Zach Muscat, Elves Baldé e Pastor

Treinador: José Mota

Golos: Gyokeres (24′, 28′ e 63′), Mattheus Oliveira (48′), Nuno Santos (56′) e Vítor Gonçalves (79′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Matheus Reis (14′)

Inicialmente, o plano de jogo não passou muito pela dupla de meio-campo. O Sporting colocou Paulinho e Gyokeres a atacarem constantemente a profundidade, procurando resgatar passes longos da defesa. As ligações de jogo diretas começaram a estender o bloco defensivo do Farense e começaram a surgir outros espaços, nomeadamente, junto ao corredor direito, onde Francisco Trincão, em contraste com os colegas do ataque, preferia receber a bola na sola da bota.

O domínio verde e branco estava também a ser expresso ao nível da pressão. O central do Farense, Gonçalo Silva, perdeu a bola dentro da grande área e entregou-a a Matheus Reis. O brasileiro caiu dentro da área e o árbitro assinalou grande penalidade. As imagens que o VAR indicou a Gustavo Correia que fosse ver mostraram ao juiz do encontro que não existia falta. Assim, a decisão inicial foi revertida e o jogador do Sporting viu amarelo por simulação.

A situação não abalou um ataque que continuava a ser produtivo. Francisco Trincão, titular apenas pela quarta vez esta época, picou a bola sobre o carrinho de Artur Jorge e, enquanto o defesa do Farense continuava a deslizar no relvado, o jogador do Sporting avançou no terreno. No timing certo, o extremo serviu de bandeja Gyokeres (24′) que finalizou perante Ricardo Velho. Quatro minutos depois, Trincão sofreu uma carga nas costas por parte de Cláudio Falcão e o árbitro assinalou grande penalidade. De novo com o papel mais difícil a ser desempenhado por Trincão, Gyokeres (28′) foi até à marca dos 11 metros bisar.

O Farense entrou melhor na segunda parte e conseguiu chegar ao golo sem que para isso tenha precisado de chegar à baliza. Tudo porque Mattheus Oliveira (48′) rematou de bem longe e bateu Franco Israel. O Sporting reagiu bem. Nuno Santos (56′), num lance de insistência que deixou Artur Jorge e Ricardo Velho mal na fotografia, colocou de novo a diferença nos dois golos. José Mota arriscou e fez três substituições ofensivas. A manta esticou para um lado e destapou o outro. A equipa algarvia ficou balanceada para o ataque, o que permitiu a Gyokeres receber uma bola longa e ficar numa situação de um para um com o central Artur Jorge. Nesse lance, o sueco fez o hat-trick (63′) e saiu no instante seguinte para ser aplaudido por um Estádio de Alvalade que brindou o avançado com um cântico personalizado.

O Sporting limitou-se a gerir o resto do encontro e, normalmente, quando o faz, dá-se mal. Vítor Gonçalves (79′) marcou de novo para o Farense. A equipa algarvia acabou a jogar com menos um elemento, pois Zé Luís saiu lesionado numa fase em que José Mota tinha esgotado as substituições. O resultado (4-2) deixa o Sporting com o apuramento bem encaminhado, bastando aos leões pontuar na visita a Tondela para seguir para a Final Four da Taça da Liga.