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"Na Ponta dos Dedos": vocês os três, façam uma espiral de (des)amor

Podia ser uma história de ficção científica com um twist romântico; podia ser um dilema amoroso a três. Pelo caminho, o novo filme da Apple TV+ perde-se entre a expectativa e a realidade.

Jessie Buckley e Riz Ahmed, os protagonistas deste dilema que podia dar uma história bem mais elaborada
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Jessie Buckley e Riz Ahmed, os protagonistas deste dilema que podia dar uma história bem mais elaborada

Jessie Buckley e Riz Ahmed, os protagonistas deste dilema que podia dar uma história bem mais elaborada

Segundo dados do Pordata e dos Censos, em Portugal há 60 divórcios por cada 100 casamentos. É um dado que facilmente nos vem à cabeça quando no filme Na Ponta dos Dedos (Fingernails no original, estreado agora na Apple TV+) há uma cena na qual a protagonista, Anna, está sentada na sala de espera de um instituto que garante testar com eficácia se duas pessoas estão mesmo apaixonadas e tem um cartaz à sua frente. No cartaz lê-se: “No more uncertainty. No more wondering. No more divorce. Take the test today” (“Nada de incertezas. Nada de ficar a pensar. Nada de divórcio. Faça o teste hoje”). Estamos aqui perante um presente alternativo, ao estilo Black Mirror, no qual a comunidade científica tenta responder à questão de se é possível colocar o amor num tubo de ensaio e resolver de vez todos os problemas com relações.

Além de Black Mirror, a série da Netflix que alterou a bitola do sci-fi actual, também o clássico O Despertar da Mente (Eternal Sunshine Of The Spotless Mind) nos vem à cabeça ao ver o novo filme do realizador grego Christos Nikou (também um dos guionistas, juntamente com Sam Steiner e Stavros Raptis). É que o filme com Jim Carrey e Kate Winslet é um dos mais marcantes no que a estas questões de amor e ciência diz respeito e é muito difícil não encontrar paralelismos.

Aqui, a história não envolve cérebros apagados, mas sim unhas arrancadas, como sugere o título. Anna (Jessie Buckley, de uma das temporadas de Fargo) é uma professora primária desempregada que arranja emprego a realizar testes a casais no Love Institute, uma espécie de laboratório Germano de Sousa, mas para o amor verdadeiro em vez do colesterol e da covid. O teste passa pela análise de uma unha de cada um dos membros do casal, assim como algumas provas que implicam estar debaixo de água, atirar-se de um avião ou reconhecer o cheiro do parceiro. Anna tem uma relação duradoura — e cientificamente testada — com Ryan (Jeremy Allen White, protagonista de The Bear), mas tudo será posto em causa devido a um colega de trabalho, o muito profissional e algo frio Amir (Riz Ahmed de The Sound Of Metal).

[o trailer de “Na Ponta dos Dedos”:]

Não conta como spoiler constatar o óbvio: o filme é sobre um triângulo amoroso, sobre a dúvida que atormenta Anna. De um lado, uma relação com o resultado perfeito, mas que é pautada pela monotonia e pela mentira. Do outro, a incógnita do que ultrapassa o relatório científico aparentemente imbatível. O IMDB categoriza o filme como um romance dramático de ficção científica, mas isto retira da equação algo que está obviamente muito presente no cinismo e acidez de várias cenas: o humor.

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Na Ponta dos Dedos não é para levar tão a sério como o ar sofrido das personagens dá a entender. A espaços, é assumidamente uma comédia, como quando uma das provas dos casais passa por terem de cantar músicas em francês porque só essas são verdadeiramente românticas ou como quando uma das funcionárias do Love Institute pergunta ao chefe (Luke Wilson, de The Royal Tenenbaums) como deve fazer o teste da unha se alguém no casal não tiver braços.

O que o filme mais renega, na verdade, é o lado sci-fi. Na Ponta dos Dedos começa com uma citação que atribui a um Cientista Desconhecido, como que a tentar dar alguma substância à ideia original: “Os sinais mais precoces de problemas de coração são geralmente encontrados nas manchas, quebras ou descoloração das unhas”. Destes “problemas no coração” extrapola-se para o tal amor que pode ser testado nas lâminas córneas, mas em parte alguma se tenta justificar mais do que isto.

Jeremy Allen White é Ryan, com quem Anna tem uma relação que tem tanto de bom como de "isto já não vai a lado nenhum"

Não há investigadores estilosos a colocar o mundo em causa em laboratórios topo de gama, explicando ao espectador o sentido que tudo aquilo faz. Antes pelo contrário: o filme não se passa num 2023 a fingir que é 2043, mas sim num 2023 disfarçado de 1983. Nada aqui é sequer contemporâneo, que fará futurista. É um mundo de maquetes artesanais em reuniões em vez de powerpoints, de telefones fixos em vez de telemóveis, de músicas dos anos 80 em vez de êxitos de sonoridade corrente, de tons amarelados em vez de metalizados garridos.

Ao longo de Na Ponta dos Dedos, há quem acredite no teste e quem o recuse; quem o use como âncora para relações afundadas e quem o repita para ter mesmo a certeza. O símbolo de tudo isto é um dedo com uma ligadura, indicando uma unha acabada de arrancar, uma dor estridente para tentar prevenir uma dor mais profunda. Todo o conceito é interessante e, apesar dos exemplos semelhantes já citados, tem alguma frescura. A isto acresce uma excelente química entre alguns dos melhores atores da sua geração. O problema é que talvez estivesse aqui, de facto, um episódio de Black Mirror com uma hora de duração e não um filme com quase duas. Na Ponta dos Dedos arrasta-se nas suas próprias dúvidas, para depois ser algo atabalhoado na sua conclusão. É um triângulo amoroso, que descamba noutra forma geométrica: uma espiral de incerteza que poderia ser mais satisfatória.

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