J.K. Rowling e Daniel Radcliffe deixaram de manter contacto há vários anos, confirmou o ator que protagonizou os oito filmes da saga Harry Potter. Na base do afastamento estão o que o ator diz serem as posições transfóbicas que a escritora assumiu nas redes sociais em 2020.

“Fico muito triste porque olho para a pessoa que conheci, para os momentos em que estivemos juntos, para os livros que ela escreveu e para o mundo que ela criou”, afirmou Radcliffe em entrevista ao “The Atlantic”, citada pela CNN.

Há quatro anos, Rowling publicou uma série de tweets em resposta a um artigo que utilizava a expressão “pessoas que menstruam” e defendeu que o movimento trans está a minar os direitos das mulheres. Na altura, Radcliffe divulgou uma declaração em sentido contrário: “Mulheres transgénero são mulheres”. E acrescentou: “Qualquer declaração em contrário apaga a identidade e a dignidade das pessoas transgénero e vai contra todos os conselhos dados por associações profissionais de saúde que têm muito mais conhecimentos sobre este assunto do que [Rowling] ou eu”.

Tanto o ator como os seus colegas de elenco, Emma Watson e Rupert Grint, expressaram individualmente o seu apoio à comunidade transgénero nos últimos anos, posições que os meios de comunicação social têm considerado como um distanciamento dos protagonistas em relação à escritora que criou o mundo mágico transportado para as salas de cinema.

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“Há uma versão de ‘Serão estes três miúdos uns fedelhos ingratos?’ que as pessoas sempre quiseram escrever e que finalmente conseguiram”, afirmou o ator na entrevista já citada. Mesmo admitindo que a sua carreira não seria certamente a mesma sem a criação de Rowling, Radcliffe entende que isso não significa que fique a “dever as suas crenças a alguém por toda a sua vida”. “Vou continuar a apoiar os direitos de todas as pessoas LGBTQ e não tenho mais comentários a fazer”, acrescentou.

Rowling continua a publicar regularmente no X (antigo Twitter) sobre o tópico. “A disforia de género é uma condição real e muito dolorosa e não sinto nada a não ser simpatia por quem sofre dela. Quero que sejam livres de se vestirem e de se apresentarem como quiserem e quero que tenham exatamente os mesmos direitos que qualquer outro cidadão em matéria de habitação, emprego e segurança pessoal”, escreveu numa publicação de 6 de abril.

Em contraponto, a escritora não considera que “as cirurgias e as hormonas de sexo cruzado transformem literalmente uma pessoa no sexo oposto”. “Nem acredito na ideia de que cada um de nós tem uma ‘identidade de género’ nebulosa que pode ou não corresponder aos nossos corpos sexuados”, acrescenta, assinalando que “a ideologia que prega estes princípios causou, e continua a causar, danos muito reais a pessoas vulneráveis”.