Com a notícia da demissão de João Galamba, anunciada na tarde desta segunda-feira, viria outra de surpresa. Além do ministro, o Presidente da República tinha exonerado o secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio. O comunicado do Ministério da Economia chegaria minutos depois, com a garantia de que “o pedido de demissão não está relacionado com os temas que têm vindo a público nos últimos dias”. O ministro da tutela, António Costa Silva, estava a poucos minutos de subir ao palco da Web Summit quando se deu esta sucessão de eventos. Falaria aos jornalistas pela primeira vez sobre a Operação Influencer, onde consta o seu nome, logo depois de carregar no botão que, por tradição, inaugura a cimeira tecnológica em Lisboa. E deixou garantias e as suas certezas.

“O que aconteceu foi zero”. Foi assim que o ministro da Economia classificou as suspeitas em torno de si próprio, e de possíveis contactos que teria recebido de Diogo Lacerda Machado, no âmbito do projeto do centro de dados da Start Campus. Costa Silva começou por garantir que nunca teve qualquer contacto com Diogo Lacerda Machado. “O que aconteceu é isto: nada”. E diz que nunca ponderou sair do cargo “Está fora de causa, é uma mão cheia de nada”.

“Aproveitem a cidade, gastronomia e o vinho”. Com Governo de saída (e um secretário de Estado demissionário) Costa Silva abriu a Web Summit

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O nome do ministro é mencionado numa escuta, que terá sido mal transcrita pelo Ministério Público. Nessa conversa, que consta no despacho de indiciação, Lacerda Machado diz que “se for finanças, eu falo logo com o Medina ou com o António Mendes, que é o Secretário de Estado. Se for economia, arranjo maneira depois de chegar ao próprio António Costa”. Segundo avançou este domingo o advogado de Lacerda Machado, essa referência seria a Costa Silva.

Mas o contacto, que teria como objetivo uma intervenção do Governo junto da Comissão Europeia no sentido de promover uma alteração aos códigos de atividade económica para os Data Centers, nunca aconteceu, garante Costa Silva. “Não tenho comentários a fazer, foi um erro factual que aconteceu, somos imperfeitos, aconteceu esse erro”. Disse ainda que não foi contactado pelo Ministério Público.

Ainda em reação ao surgimento do seu nome na Operação Influencer, Costa Silva diz estar “de consciência tranquila” com tudo o que fez no Governo e nega alguma vez ter recebido pressões.

“Vivemos num estado de direito e ninguém está acima da lei, se houver suspeições elas devem ser investigadas e não podemos compactuar com a corrupção, a corrupção mina a democracia, distorce o mercado, envenena a vida publica e é intolerável, tudo o que pode ser feito para combater deve ser combatido”, sublinhou.

Menos de uma semana depois da demissão do primeiro-ministro e da convocação de eleições para 10 de março, o ministro mostrou-se “triste” por António Costa estar sob investigação. “Deixa-me muito triste que o nome do primeiro-ministro tenha sido envolvido nisto tudo. É uma pessoa de integridade absoluta, tem mais de 30 anos de serviço à causa pública. Nunca esteve minimamente envolvido no que quer que seja. Eu, que respeito o sistema de justiça, a independência dos tribunais e a autonomia do MP, espero que a investigação seja célere e conduza a uma conclusão”, manifestou, notando ainda que “as pessoas têm presunção de inocência e não podemos aceitar um sistema que julga as pessoas na praça pública”.

Costa Silva foi ainda questionado sobre as duas saídas do Governo conhecidas hoje, João Galamba e Pedro Cilínio. “João Galamba entendeu demitir-se, apresentou as suas razões, toda a gente tem direito a escolher a sua vida”, defendeu. Sobre o seu secretário de Estado, também não se alongou em justificações.

“Todos temos direito a escolher a nossa vida, a prosseguir o nosso caminho, este Governo está em fim de funções”. A saída “foi a pedido do próprio e não tem nada que ver com estes processos. São questões de opção dele, não tenho mais nada a comentar”.

Sobre o possível impacto da Operação Influencer na atração de investimento estrangeiro, o ministro destacou que Portugal tem “uma democracia estável” e que “estas situações não são benéficas”, mas para já não há “nenhum sinal de que o investimento estrangeiro vá sofrer” com a investigação. Para o ministro, o caminho passa por o sistema democrático “encontrar uma solução que assegure estabilidade e que todos os ganhos dos últimos anos não sejam perdidos”. Costa Silva voltará à Web Summit na próxima quinta-feira para encerrar o evento.