O Governo anda a vitimizar-se com o processo que está a ser investigado, considera Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD, nos habituais comentários na SIC. “O governo anda a vitimizar-se. Quer passar a ideia que é vítima da justiça. Não é convicção. É tática política”, diz, criticando quando se fala em cabala, golpe ou perseguição política. “Delírio total”, reforça.

O Ministério Público tem no topo a procuradora geral da República (PGR). “Quem a escolheu foi António Costa”. O Presidente nomeou-a, mas a escolha foi do primeiro-ministro. “A PGR escolhida pelo António Costa ia fazer um golpe contra o primeiro-ministro? Isto é do domínio da ficção científica. De uma tontaria monumental. O que há são erros. Não é cabala. São erros. Primeiro, são erros políticos”. Os erros políticos que levaram à demissão do primeiro-ministro têm a ver com as “ligações perigosas de António Costa a amigos e colaboradores altamente promíscuos. Estava mal rodeado. É o único responsável pela situação. Se tivesse escolhido melhor os colaboradores, seria primeiro-ministro pelo menos até ao final do mandato”.

Mas assume que existem erros no Ministério Público, onde “não há só magistrados competentes. Também há muita incompetência. Não é agenda política. É falta de competência”. E acusa Lucília Gago de falta de liderança. “Não tem nenhuma capacidade para liderar o organismo”.

Ainda assim, em relação à atuação do Ministério Público na Operação Influencer, Marques Mendes realça a derrota nas medidas de coação, mas defende: “Isto é o funcionamento da Justiça. O MP propõe e o juiz decide. Umas vezes concordando com o MP. Outras vezes, não”.

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E em relação ao facto de terem “para já” caído os indícios de corrupção, o jurista recorda que caíram os de corrupção, mas não os de tráfico de influência. “Foi por um crime de tráfico de influências que Armando Vara foi condenado a prisão efetiva. Não é uma coisa banal”.

As eleições no PS. Não vai ser um passeio para Pedro Nuno

Pedro Nuno Santos, no entender do comentador, é o favorito na corrida ao PS, por ter mais apoios no aparelho. Mas para Marques Mendes não vai ser um passeio para o ex-ministro já que José Luís Carneiro surpreendeu, no seu entender, esta semana com apoios de peso, sobretudo o que diz serem senadores do partido.

Correndo Pedro Nuno pela  ala mais de esquerda do partido, e José Luís Carneiro pela ala mais moderada, o ministro da Administração Interna quer mostrar que tem melhor imagem para primeiro-ministro e que tem mais peso nos eleitores. Marques Mendes diz que vão surgir sondagens a indicar isso mesmo e que haverá novos apoios que “podem surpreender”. Não vai ser um passeio para Pedro Nuno. Mas comenta que o verniz estalou nesta campanha socialista, com as declarações deste domingo de Pedro Nuno Santos.

Pedro Nuno Santos: “Se há alguém que sabe como garantir a autonomia do PS sou eu”. José Luís Carneiro responde

Quanto ao apoio de Francisco Assis a Pedro Nuno o comentador diz que haverá já um entendimento para o presidente do conselho económico e social poder avançar como candidato presidencial em 2026. E, por isso, diz: “Este é um bom “negócio” para ambos”. Para Pedro Nuno que mostra uma imagem de moderação e para Assis porque ganha apoio para uma legítima ambição: ser candidato a Presidente” que, com Costa, não seria possível. Assis pode ser candidato presidencial apoiado pelo PS em 2026, se Pedro Nuno Santos for líder do PS.

Marques Mendes ainda critica o facto de o PS ter feito cair o agravamento do IUC (imposto único de circulação) que era proposto pelo Governo devido a questões eleitorais. “Caiu uma medida injusta”, mas “a forma como caiu é o cúmulo do descaramento político”. Não caiu por causa da petição de 400 mil pessoas nem das críticas populares, mas “apenas por causa das eleições, para o PS não perder votos. Isto é a descredibilização total da política. É o oportunismo político em todo o seu esplendor”.

Centeno tem “uma relação muito difícil com a verdade”

Mário Centeno é uma pessoa competente, diz Marques Mendes que, no entanto lhe aponta um lado “mau”: “Tem uma relação muito difícil com a verdade”, disse o comentador lembrando o caso de António Domingos na Caixa a quem, referiu Marques Mendes, prometeu mundos e fundos e depois deixou-o cair.

Agora aconteceu, no seu entender, outro caso desses. No dia 12 de novembro Centeno disse ao FT: “Recebi um convite do PR e do PM para considerar a possibilidade de liderar o governo” Menos de 24 horas depois, no dia 13, desmentiu-se a si próprio, dizendo: “É inequívoco que o PR não me convidou para chefiar o governo”.

Marques Mendes acredita que Centeno não se demitirá nem será demitido “claro que não”, mas “um governador que diz uma coisa e o seu contrário e que leva um puxão de orelhas do Presidente é um governador que fica fragilizado”

Fragilizado pelo lado político, mas também pelo lado da supervisão. Isto porque Marques Mendes recorda que quando a polémica estalou foram os banqueiros que vieram defender o presidente do banco central. “Quando um governador precisa do apoio dos banqueiros não fica mais forte, fica mais fraco e não fica mais independente, fica mais dependente. Não cai, mas fica na corda bamba”, conclui.

Centeno ficou ferido na sua independência por ter sido escolha do PS para primeiro-ministro sem eleições? Comissão de ética do BdP analisa