A vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina deixou em êxtase a extrema-direita e a direita conservadora mundial e o Chega não foi exceção. Demorou pouco até que, nas redes sociais, André Ventura desse os parabéns ao novo chefe de Estado argentino e as publicações estenderam-se a vários dirigentes do partido. Mas a direita em Portugal está dividida quanto às mudanças em Buenos Aires: o PSD está preocupado e a IL num silêncio cauteloso.

O vice-presidente do PSD Paulo Rangel, em declarações ao Observador, reconheceu que o partido vê com “preocupação a situação na Argentina”. “O país encontra-se num caos económico. E isso explica em grande parte este resultado. Algumas das ideias do novo Presidente são preocupantes, muitas delas parecem mesmo inexequíveis. Isso torna o futuro próximo imprevisível”, refere, resumindo com “linguagem médica: diria que o prognóstico é reservado“.

Se esta é a posição oficial do partido, não foi a única. Tiago Moreira de Sá, que é coordenador do PSD na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas na Assembleia da República, fez questão de lembrar que a alternativa a Milei era pior. “A esquerda peronista destruiu a Argentina perante o silêncio geral, mas agora a intelectualidade do costume garante que Milei é o fim do país e da democracia. O novo [Presidente da Argentina]  é uma incógnita. Mas, como disse Nuno Gouveia, na política externa ele é melhor para a Europa e Estados Unidos. Apoia fortemente a Ucrânia e Israel, quer aprofundar as relações com os Estados Unidos, não quer o seu país na esfera de influência da China, afasta-se dos Brics e da Venezuela de Nicolas Maduro”, escreveu o deputado social-democrata no X (ex-Twitter).

Ao Observador, Moreira de Sá sublinhou que esta é uma opinião que apenas o vincula a si e não ao partido e explicou que tem “muitas dúvidas sobre o que o fenómeno significa”, em particular porque é preciso perceber o que fará Milei no futuro, por ser uma “incógnita política“. Ainda assim, reitera que alinha numa “política externa mais favorável” do que o antecessor, Alberto Fernández.

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Chega festeja “grande vitória”

Quando a vitória de Milei foi conhecida, o presidente do Chega não só festejou como puxou a si a narrativa de que é possível fazer o mesmo em Portugal. “Os meus parabéns a Javier Milei! A luta pela defesa da sociedade trava-se em vários territórios e na Argentina a primeira batalha está ganha! Segue-se Portugal a 10 de março”, escreveu Ventura nas redes sociais.

Mais tarde, quando partilhou uma montagem de um evento do Vox em que ambos foram oradores, afirmou que “a vitória de Milei é uma premonição para as eleições de 10 de março em Portugal”. Outra das reações veio de um dos deputados e dirigente do Cheg, Rui Paulo Sousa, que se referiu a uma “grande vitória nas eleições”, sublinhando que “seja na Europa ou nas Américas a direita está a vencer e a acabar com o socialismo”. Também ao Observador, Diogo Pacheco Amorim, deputado, ideólogo do Chega e o primeiro responsável pelas relações externas do partido, considerou que esta foi uma “grande vitória para a direita nacional e internacional”, frisando que estes resultados são a prova de que a direita radical está a “despertar” países em todo o mundo.

IL fica em silêncio

A Iniciativa Liberal, contactada pelo Observador, não respondeu com uma posição oficial sobre o resultado das eleições presidenciais da Argentina até à publicação deste artigo.

Nas redes sociais, Tiago Mayan Gonçalves, ex-candidato presidencial do partido, surgiu como uma das opiniões mais controversas, ao escrever sobre a vitória do novo Presidente da Argentina. “Muitas felicidades e, sobretudo, muita responsabilidade sobre Javier Milei”, escreveu, reforçando “sigamos pela liberdade”. Pouco antes, o liberal tinha dito que torcia pela vitória de Milei e esclareceu: “Antes que comece essa narrativa, a extrema-direita não vai ganhar na Argentina, seja como for. Isso é porque, pura e simplesmente, nenhum dos candidatos a representa.”

Javier Milei venceu as eleições presidenciais argentinas com cerca de 56% de votos, depois de ter conseguido tornar-se famoso a fazer comentário sobre economia na televisão. Tornou-se uma estrela em ascensão na política e chegou a chefe de Estado pouco tempo depois de começar na política. Dirigiu-se aos “argentinos de bem”, e apontou como solução para a profunda crise económica que a Argentina atravessa, com uma inflação galopante, a “liberdade”.

Da televisão à presidência da Argentina. Quem é Javier Milei, o economista que prefere “a máfia ao Estado”?