O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) mostrou-se preocupado com a estabilidade política em Portugal, receando a ausência de um interlocutor estável para o terceiro setor após as eleições de março.

“É verdade que estamos preocupados mais do que ansiosos, estamos preocupados”, afirmou Manuel Lemos, à margem da cerimónia de tomada de posse para mais um mandato.

A preocupação, explicou, é não se saber como será o Governo que sairá das eleições legislativas de 10 de março e se haverá ou não “um interlocutor credível”.

“Uma coisa é ter um Governo sustentado por uma maioria no Parlamento e outra é olharmos para um governo que pode cair de uma semana para outra”, exemplificou.

Isto “porque não basta ser combativo, é preciso ser combativo com alguém, é preciso que exista do lado de lá, alguém que permita isso”, afirmou Manuel Lemos, que se mostra preocupado com a polarização política.

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“Não mudamos a nossa posição, assim o Estado não mude, [mas] é claro que os discursos mais ou menos demagógicos, mais ou menos radicais, mais ou menos populistas, nos preocupam, como é óbvio”, salientou.

No discurso de posse para o seu sexto mandato (2024-27), o dirigente avisou esta quarta-feira os representantes das misericórdias presentes que se assiste a “um tempo difícil e não será em 2024 e 2025 que as coisas vão melhorar”.

Isto porque “não se preveem maiorias claras”, o que pode conduzir a que não haja “interlocutores claros”, pelo que as misericórdias terão de “aguentar mais uma vez”.

Mas quem “superou a ‘troika’, a covid e ultrapassou a inflação saberá enfrentar as incertezas” políticas, disse Manuel Lemos.

Lemos salientou ainda que as “santas casas constituem assim um instrumento decisivo da liberdade”, que assumem uma “atitude de modernidade” numa sociedade que hoje é mais complexa e a “resposta a esta evolução só pode ser dada pela busca do compromisso, que pressupõe formas de diálogo estruturada”.

A UMP “tem procurado desenvolver uma capacidade de resposta proativa” e a atividade das misericórdias “não se esgota” no apoio social, mas tem também atenção à educação, saúde ou preservação do património, avisou.

Por seu turno, a ministra da do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, destacou a “grande parceria ao longo destes últimos quatro anos”, permitindo “quebrar muito muros que existiam” entre as duas partes.

Trata-se de “uma parceria tão importante que não pode acabar, nem [pode acabar] esta forma de trabalhar em conjunto”, afirmou a governante, sublinhando que o “trabalho articulado entre o setor social e o Estado tem depois resultados concretos na vida das pessoas”, como a “gratuidade das creches, alargamento da resposta de aumento de lugares ou novas respostas para o envelhecimento”.

Foi nesse sentido que foi renovado em 2021 o Pacto de Cooperação que tinha sido assinado pela primeira vez pelo então primeiro-ministro António Guterres, com compromissos até 2030, disse Ana Mendes Godinho.

A parceria, explicou, faz-se através de “respostas diretas, nomeadamente através da mobilização de prestações sociais” ou pela “capilaridade com a presença no território das instituições do setor social, que tem uma grande proximidade e uma capacidade de resposta permanente”.

No passado recente, a “pandemia quebrou muitas desconfianças e muitos muros que existiam muitas vezes na relação entre as várias entidades”, numa “relação sem preconceitos e sem desconfiança”, acrescentou a governante, em declarações aos jornalistas.

Na sua intervenção, a ministra destacou várias ações do governo e referiu um “caminho extraordinário que mostra mesmo que o repto do papa Francisco – ‘todos, todos, todos’ – faz sentido”, nomeadamente durante a pandemia.

“Só com todos é que conseguimos, naquele tempo tão crítico e numa grande lógica e princípio de confiança total, deitar abaixo muros de desconfiança que existiam”, como foi exemplo o trabalho conjunto da saúde e da segurança social ou o fim de entraves burocráticos para o alargamento da oferta das creches.

Porque o “setor social consegue responder onde precisa e quando precisa”, disse Ana Mendes Godinho, elogiando o presidente da UMP pelo “grande movimento de transformação” do terceiro setor.