Depois dos triunfos com Grécia e Rep. Checa a abrir o Campeonato da Europa, a derrota com a Dinamarca e sobretudo uma segunda parte em que os tricampeões mundiais dispararam para uma vantagem final de dez golos entre muitos erros de Portugal foi como uma chamada à terra para o contexto em que se encontra a Seleção. No entanto, foi também esse período de 30 minutos que funcionou como uma rampa de lançamento para dar um resposta na main round, a fase decisiva de apuramento para as meias-finais mas também de qualificação para o torneio pré-olímpico para os Jogos de Paris-2024 que envolvia várias seleções. E se tudo apontava para esse objetivo, numa penúltima etapa para voltar a repetir o histórico apuramento de Tóquio-2020, a capacidade de superação da Seleção abriu outras metas que superavam os próprios sonhos.

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A partir sem pontos para a main round, Portugal começou por conseguir surpreender a Noruega por 37-32, quebrando um histórico de mais de duas décadas sem triunfos diante dos nórdicos em grandes competições. Seguiu-se a Eslovénia, outra potência da modalidade com histórico altamente positivo diante da formação nacional, e mais um triunfo por 33-30 que colocava a Seleção na terceira posição. Mais: com a vitória da Dinamarca frente à Suécia por 28-27, Portugal, mesmo com várias baixas para este Europeu como Daymaro Salina, Victor Iturriza, Fábio Magalhães e André Gomes, chegava à penúltima jornada da main round a jogar para ficar num dos dois primeiros lugares do grupo com consequente apuramento para as meias da prova, um feito inédito que poderia superar o sexto lugar de 2020 que foi a melhor participação de sempre.

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“Esta Suécia é um velho conhecido da nossa Seleção. Temos feito boas partidas contra a atual campeã europeia nos últimos anos e eles sentem que a nossa equipa tem armas fortes para lhes poder ganhar. A Suécia tem um dos melhores centrais do mundo [Jim Gottfridsson], que é a base de uma equipa, possui uma excelente defesa 6:0, não muito dinâmica, mas com elevado sentido posicional e muita competência nos duelos 1×1. A qualidade técnica e eficácia considerável dos seus extremos também é uma característica perigosa, à qual teremos de dar uma boa resposta na nossa defesa”, comentara o técnico Paulo Jorge Pereira, que cumpriu no decorrer da main round o centésimo jogo no comando de Portugal com os melhores resultados de sempre que uma formação nacional alcançou na história em grandes competições.

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O saldo era tudo menos positivo diante da Suécia nos sete encontros em que as equipas se cruzaram antes em grandes provas como Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos mas nem isso era uma “sentença de derrota antecipada”. No último Mundial, no ano passado, os suecos venceram por 32-30 num encontro equilibrado que acabou com o sonho nacional. Antes, nos Jogos de Tóquio de 2020, o triunfo foi por 29-28, com Portugal a ter no segundo tempo possibilidade de no mínimo pontuar. Ainda antes, no Europeu de 2020, a Seleção conseguira a única vitória contra os nórdicos e logo em Malmö, com uma goleada por 35-25 que foi uma das melhores exibições nacionais do que há memória. Agora, depois de uma primeira parte equilibrada, tudo acabou por ruir no segundo tempo. No entanto, se o sonho das meias chegou ao fim, a possibilidade de lutar pela melhor participação de sempre mantém-se em aberto para o próximo jogo com os Países Baixos.

O jogo começou com a Suécia a mostrar o porquê de ser uma das melhores formações mundiais, sobretudo no jogo ofensivo organizado: uma primeira linha a conseguir com facilidade momentos de remate também pela magia de Jim Gottfridsson, muitas combinações a colocarem a bola para remate de ponta ou no pivô, velocidade de execução em todas as saídas. Olhando para esse contexto, seria praticamente impossível evitar que os nórdicos “disparassem” no marcador. Não foi isso que aconteceu, longe disso, e com uma grande personalidade da equipa nacional: Gustavo Capdeville conseguiu travar cinco dos 12 primeiros remate com num livre de sete metros pelo meio, Pedro Portela esteve irrepreensível nos livres de sete metros e Francisco Costa abriu o livro com Martim mais “tapado” para uma primeira vantagem no jogo de 8-7 aos 13′.

A Suécia não demorou a responder, com Max Darj e Lucas Pellas a surgirem de forma certeira nas ações de finalização para a recuperação da vantagem inicial mas a distância nunca passou de um/dois golos, com Francisco Costa em plano de evidência no ataque entre as muitas substituições que Paulo Jorge Pereira ia fazendo por uma questão de gestão física e também pelas tentativas de encontrar modelos no plano defensivo que trouxessem mais problemas aos suecos. Até quando existiam falhas técnicas no ataque os Heróis do Mar nunca entravam numa espiral negativa que afundasse de vez a equipa, estando sempre dentro do encontro e voltando a passar para a frente aos 22′ por 14-13, o que levou Andreas Palicka para o banco dos nórdicos por troca com sucesso com o outro guarda-redes, Tobias Thulin. O técnico nacional ainda pediu um tempo técnico num parcial de 3-0 dos suecos mas o intervalo chegou mesmo com a desvantagem de 19-15.

Os minutos finais da primeira parte marcavam essa diferença entre os dois conjuntos, com Portugal a voltar dos balneários sabendo que teria de encontrar outras formas de travar os suecos na frente e, em paralelo, de atacar de forma organizada sem estar dependente da primeira linha dos irmãos Costa (que quando aparecia ia fazendo a diferença). Diogo Rêma entrou para o lugar de Capdeville como tinha acontecido na partida com a Eslovénia, a defesa foi tentando arriscar mais mesmo sabendo que essas nuances abriam espaços entre os pontas e os laterais para as entradas mas nem por isso o rumo da partida sofreu grandes alterações, com Portugal a chegar ainda ao 21-19 antes de quebrar e ter seis golos de diferença entre falhas técnicas e remates falhados (25-19), naquela que era a maior distância na partida até esse momento aos 38′.

Paulo Jorge Pereira travou de imediato o encontro, recordando também aquilo que aconteceu no jogo frente à Dinamarca em que o resultado “disparou” nos dez minutos iniciais após o intervalo, mas Thulin estava em grande na baliza e travou por três vezes remates 1×0 quando a Seleção estava a atacar mais um, numa fase a 20 minutos do final que sentenciou em definitivo a partida. Sendo certo que o guarda-redes suplente teve grande influência no avançar do jogo, Portugal ficou a dever a si próprio uma outra capacidade de andar “colado” ao resultado durante mais tempo com erros que em alguns momentos mais pareciam um reflexo do cansaço físico acumulado na prova. Martim Costa, com uma série de de golos seguidos, ainda fez o 31-26 a dez minutos do final mas a história do encontro estava escrita com os suecos a ganharem por 40-33 com dez golos de Lucas Pella (muitos de sete metros) e oito de Martim, que esteve “fora” na primeira parte.