Quando se olha para as bancadas do Estádio José Alvalade todos os anos, existe uma natural predominância do verde e branco mas salpicado sempre com as cores dos equipamentos alternativos. No caso da presente temporada, tratando-se de uma segunda camisola branca, não havia muito que enganar. No entanto, como forma de assinalar uma data importante na história do clube, foi criado um terceiro modelo. Um modelo que não era apenas mais um modelo. Um modelo que nunca vendeu tantos modelos e que se tornou um caso de estudo pela capacidade que teve em colocar até adeptos rivais nas filas da loja para comprarem um exemplar. E esse exemplo foi um dos destaques da intervenção do Sporting no Business of Football Summit organizado pelo Financial Times, tendo como pano de fundo a camisola com que Cristiano Ronaldo realizou a última partida pelos leões (mais corretamente, uma segunda parte) antes de rumar a Manchester.

“O fundamental da ligação com os adeptos continua a ser o mesmo, queremos falar com eles também para criar valor para todos. Depois, a forma como isso se faz mudou muito, a mensagem é muito mais forte, tem maior facilidade de passagem. No caso do Sporting, aquilo que fizemos este ano foi desenhar um terceiro equipamento com uma ligação entre clube, Ronaldo e a Nike, um pouco à semelhança do que aconteceu no passado com a versão Jordan. Quando olhamos para os números, às vezes uma marca individual consegue ter mais força. As pessoas já ligam mais em alguns casos a jogadores do que a marcas”, começou por referir André Bernardo, diretor de Estratégia e Operações e administrador da Sporting SAD.

“Aquilo que fizemos foi contar uma história, neste caso aproveitando o 20.º aniversário da construção do nosso Estádio. Foi o dia em que fizemos a estreia frente ao Manchester United, foi no dia em que decidiram que queriam contratar o Cristiano Ronaldo, foi no dia em que começou toda a carreira internacional que conhecemos. Inspirámo-nos nesse jogo há 20 anos e foi o nosso produto mais vendido de sempre, com um total sete vezes maior do que a camisola que até hoje tinha sido mais vendida. Essa também é uma das formas de conseguir chegar aos nossos adeptos. Na verdade, a única coisa que mudou foi mesmo a forma como direcionamos as mensagens aos nossos adeptos”, assinalou ainda sobre essa aposta.

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“A geração Z tem sobretudo mais oportunidades para passar o seu tempo, não só nas redes sociais mas com toda uma oferta que antes não havia. O tempo é o nosso principal adversário nesse sentido, em todas as plataformas porque até nas redes sociais temos competição com a Netflix, com jogos online… Não temos os dados para comparar e dizer que vão mais ou menos ao futebol. Aquilo que percebemos, de forma clara, é que existe uma ligação através das gerações mais velhas que trazem os mais novos. Um dia a geração Z vai mudar, terá filhos, mais dinheiro… Indo mais ou menos aos estádios, aquilo que se percebe é que os seus comportamentos são diferentes. Por exemplo, existe uma ligação mais forte das mulheres ao futebol, a linha que lançámos teve um grande sucesso. Têm um impacto maior, as principais influencers também são mulheres em Portugal”, referiu mais tarde, sobre a mudança do tipo de adeptos nas últimas duas décadas.

[Já saiu o primeiro episódio de “Operação Papagaio”, o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir também o trailer aqui.]

“Não conseguimos fazer comparações com aquilo que tínhamos há 20 anos porque nessa altura não havia essa recolha de dados que agora temos. Ou seja, não conseguimos falar de gerações diferentes nesse sentido. Temos outro exemplo: lançámos a Golden Echo, uma linha inspirada em Ayrton Senna e na sua primeira vitória na Fórmula 1, em Portugal, no Estoril, e percebi que quando estávamos a pensar na ideia algumas das pessoas não conheciam a história. No entanto, até os mais novos ligaram-se a essa linha. Quando conhecem a história, tudo é amplificado porque o pai sabe e acrescenta mais coisas, depois fala com amigos. A geração Z pode não estar tão ligada ao futebol quando falamos numa perspetiva mais tática e técnica mas mantêm a ligação de uma outra forma”, completou ainda sobre o modelo 97T que inspirou um dos produtos mais recentes do conjunto de Alvalade e que está a ter um grande sucesso a nível de vendas sobretudo junto do público brasileiro, através dos pedidos feitos pela Loja Verde online.

Participaram ainda no painel “Envolvimento dos fãs e como nos dirigirmos à geração mais jovem de fãs” David Jackson, vice-presidente para Marketing e Marca da EA Sports FC (que tem trabalhado também com o Sporting), David Ingham, líder da Cognizant, e Claire Cronin, diretora do Marketing do Chelsea que deu também vários exemplos de como a base dessa ligação aos adeptos está no profundo conhecimento que é possível ter nos meses nas mais variadas áreas, algo que irá ajudar a perceber o que querem no novo estádio que irá substituir o velhinho Stamford Bridge, nos novos equipamentos e nos novos lançamentos que são feitos a nível de merchandising. Outros casos referidos foram as possibilidades que a Inteligência Artificial oferece para que a comunicação com cada fã seja agora mais personalizada.