Depois dos escritores, é a vez de os músicos se juntarem para pedir um uso responsável da inteligência artificial (IA). Mais de 200 músicos, incluindo vários portugueses, assinaram um manifesto intitulado “Parem de desvalorizar a música”, apelando a que se pare de “desvalorizar os direitos dos artistas humanos”.

O manifesto pede aos programadores de IA, às empresas tecnológicas e às plataformas digitais de música que prometam “não desenvolver ou implementar tecnologia para gerar música com IA, conteúdo ou ferramentas que possam minar ou substituir a capacidade artística humana dos compositores e artistas”. Também é pedida “uma compensação justa pelo trabalho”.

A lista de signatários é extensa e com artistas de diversas nacionalidades e estilos musicais. Entre os portugueses contam-se nomes como António Zambujo, Carlão, Carolina Deslandes, Diogo Piçarra, Marisa Liz, Pedro Abrunhosa, Rui Massena, Sérgio Godinho ou T-Rex. Na vertente internacional, há figuras como Billie Eilish, os herdeiros de Bob Marley e de Frank Sinatra, Elvis Costello, Pearl Jam, Sam Smith ou J Balvin.

A carta, divulgada através da plataforma Medium pela Artist Rights Alliance, salienta que os artistas acreditam que “a IA tem um enorme potencial para fazer avançar a criatividade humana”. Mas lamentam que algumas empresas estejam a implementar a tecnologia para fazer o que consideram ser “sabotagem da criatividade e uma ameaça a artistas, compositores, músicos e donos de direitos de autor”.

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“Quando é usada de forma irresponsável, a IA representa ameaças enormes à nossa capacidade de proteger a nossa privacidade, identidades, música e meios de subsistência”, é explicado. Os artistas contestam também o uso do seu trabalho, “sem permissão”, para treinar modelos de IA, um trabalho que consideram ser de substituição e que visa reduzir os direitos de autor que são pagos aos artistas. “Para muitos músicos trabalhadores, artistas e compositores que estão a tentar pagar as contas, isto seria catastrófico.”

Consideram que o uso que está a ser feito da IA por algumas empresas para gerar música é “predatório” e que “viola os direitos dos criadores e destrói o ecossistema musical”.

Há cada vez mais empresas a desenvolver geradores musicais com IA, como a Adobe e a Stability AI. As empresas garantem que estão a usar músicas que foram licenciadas ou livres de direitos de autor para treinar os modelos, mas continua a existir o receio de que isso possa diminuir o trabalho de muitos artistas.

Mas nem todos os modelos estão a ser treinados desta forma. No ano passado, tornou-se viral nas redes sociais uma música que imitava o porto-riquenho Bad Bunny, produzida pelo utilizador do TikTok FlowGPT. O artista criticou os fãs que estavam a partilhar a música, de acordo com a Billboard.

Não são só os músicos a pedir um uso mais responsável da IA. No ano passado, um grupo de escritores avançou com um processo contra a OpenAI depois de descobrirem que várias obras foram usadas para treinar o ChatGPT. George R.R. Martin, John Grisham, David Baldacci ou Sylvia Day denunciaram o “roubo sistemático em grande escala”.

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Quase no fim do ano passado, iniciou-se mais uma batalha em tribunal devido aos direitos de autor nesta tecnologia, quando o jornal New York Times processou a OpenAI e a Microsoft, também devido ao ChatGPT.

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A IA também divide opiniões no mundo das artes visuais, principalmente depois de obras geradas pela tecnologia vencerem alguns concursos nos EUA.

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Já este ano, artistas como Add Fuel (Diogo Machado), Jorge Jacinto, Nadir Afonso, Regina Pessoa e Vhils (Alexandre Farto) foram notícia por um processo judicial de direitos de autor nos EUA, após se ter descoberto algumas das obras foram usadas para treinar modelos de IA.

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