Ponto prévio: pela primeira vez desde 1982, com uma pequena exceção nos sufrágios de 1989 e sobretudo de 1991, o FC Porto está a ter verdadeiramente aquilo que se pode chamar de campanha eleitoral. Não se pode comparar com uma corrida como as legislativas, embora nos últimos dias tenham existido algumas acusações que mais pareciam remeter para um qualquer jogo político, tem o ponto comum de estar a percorrer vários locais do país e até do estrangeiro (no caso de Villas-Boas, que foi ao Luxemburgo). Em dia de jogo da equipa de futebol, como esta quarta-feira em Guimarães para a Taça de Portugal, é quase um período de “reflexão”. 24 horas depois, as “caravanas” voltaram a mexer, neste caso com André Villas-Boas a passar pelo Auditório Expoeste para uma sessão de esclarecimento com sócios e adeptos dos dragões das Caldas da Rainha.

Talvez mais do que nas restantes passagens, sendo que a última por Lisboa foi um momento “à parte” por ter como principal ponto a apresentação do projeto de Academia em Gaia em caso de eleição, o antigo treinador falou um pouco de tudo. Explanou as suas ideias, respondeu a críticas feitas por Pinto da Costa, não teve problemas em recorrer a exemplos de outros clubes para mostrar o que quer para o FC Porto no futuro. Nota fundamental em mais do que uma questão? Reforçar a força que a lista que encabeça tem ganho e apontar, de forma direta, aqueles que considera serem os principais problemas no presente dos dragões.

“Só agora é que o universo portista, de repente, começa a descobrir determinadas coisas. Sim, o FC Porto tem 500 milhões de passivo. Sim, a nossa situação financeira é débil. Sim, na formação já não ganhamos há não sei quanto tempo. Sim, estamos reféns de interesses alheios. Toda esta conversa só teve lugar agora porque ela não existia. O que é que se passa na formação? Várias coisas. Jogadores que são obrigados a assinar por determinados agentes. Jogadores que, se não assinam por esses agentes, não jogam. Jogadores ostracizados por não assinar por esses agentes.  Estão totalmente fora e há perda o valor absoluto. Falta de infraestruturas. Falta de planeamento rigor e de uma metodologia de formação”, começou por referir.

“Há determinados agentes que detêm neste momento mandatos exclusivos dos atletas da formação para futuras vendas. Estão imediatamente vinculados com determinados agentes. E é por isso que no caso das nossas análises forenses, uma é sobre a bilhética e a outra é sobre as transferências da equipa B. É imediato. Não é possível haver tanta perda de valor relativamente às transferências dos jogadores. Isto é factual e tornou-se evidente”, acrescentou André Villas-Boas ainda a esse propósito, citado pelo O Jogo.

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“O que tem faltado nestes últimos 12 anos é planeamento. Contratámos muito e mal e pagámos um preço muito elevado por estes três títulos que temos nos últimos dez anos. Infelizmente, são uns anos que marcam um caminhar para a ruína financeira do clube e é aqui que nós temos de pôr um travão imediatamente. Vai ser um desafio criar equipas competitivas no próximo ano”, comentou num outro momento, a propósito da possibilidade de ausência da Liga dos Campeões, antes de encontrar no Sp. Braga um exemplo.

“O FC Porto tem de estar próximo das instituições, não só as europeias que governam o futebol mas também as nacionais também. O FC Porto tem de liderar as conversas à volta do futebol português. Esse é um espaço cada vez mais ocupado pelo Sp. Braga, como vocês têm vindo a reparar. A predominância em lançar debate sobre o futebol português, numa reformatação também dos seus quadros competitivos, olhando também, ao futuro, à Liga Centralização dos Direitos Televisivos e à chave da repartição, onde é muito importante criar valor, porque a tendência dos direitos televisivos, no resto dos países, é terem perdido o valor. O FC Porto tem de estar líder nestas conversas, não pode estar indiferente. É preciso dinâmica, planeamento, gestão, transparência. Este é um novo acordar do Dragão, sem dúvida nenhuma”, exemplificou.

“Se calhar pela primeira vez na sua história, está a debate e há conversa sobre o FC Porto como nunca desta vez. Isto é algo que vai trazer mais-valias, seja qual for a candidatura vencedora. Trouxe ideias novas, debate e sobretudo os sócios para o coração desta discussão. O FC Porto sairá valorizado de todo este novo espaço de vida que está a viver. Temos que reencontrar rapidamente o legado de vitórias sem igual. Será sempre uma fonte de pressão e de exigência para esta Direção, se for eleita. Tenho um amor único, tal como vocês, pelo FC Porto. Sinto e vivo o FC Porto. Estou aqui em espírito de missão. Acho que é uma altura do FC Porto de se encontrar e de se lançar para uma nova fase da sua vida. Temos um presidente histórico, que será para sempre honrado, mas é preciso continuar a criar equipas competitivas e é preciso também olhar para o nosso futuro, porque está cada vez mais em risco. Portanto, o momento era agora”, disse o antigo treinador, com a particularidade de utilizar uma frase já antes ouvida nesta campanha mas pela boca de… Pinto da Costa.

Instado a pronunciar-se sobre a recente entrevista do líder dos azuis e brancos à SIC, Villas-Boas voltou a fugir ao “choque”. “Não vi porque estava de visita aos portistas dos Açores mas acompanhei o resumo. O presidente tem o direito de exprimir a sua opinião sobre o que quiser e entender. Estou focado em construir a minha candidatura o mais sólida e forte possível e apresentar aos associados uma opção credível. Esta candidatura ganhou muita força e esperamos que os associados apoiem esta mudança. Mais pressão? Não, pressão nenhuma. Temos uma candidatura muito forte, com uma onda crescente. Temos bons indicadores. É preciso que os sócios ditem essa mudança e executem essa mudança. O futuro está nas mãos dos associados e o que é certo é que temos sentido cada vez mais apoio deles”, comentou o ex-técnico.

Ainda assim, e a propósito da frase de Pinto da Costa em relação a uma conversa de Villas-Boas sobre o treinador, o candidato deixou uma “farpa”: “Identificamos no Sérgio Conceição o puro sentimento portista. Quando fala, e na forma como o faz, demonstra caráter, carisma e veracidade. O Sérgio disse que iria manter-se à parte do ato eleitoral. Fiz exatamente a mesma coisa. É uma pessoa que me merece respeito. E se tem feito as coisas assim até agora, eu também o irei fazer. Sei que é a pergunta do um milhão de dólares mas o Sérgio merece esse respeito e os portistas também. Pinto da Costa disse que ficaria de pé quando me quisesse sentar com Sérgio Conceição? Tenho 46 anos, posso ficar de pé, não preciso de ficar sentado”, atirou.