Dezenas de casas ficaram submersas após uma chuva intensa na quinta-feira no bairro de Mahate, arredores do centro da cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

“A chuva começou a cair durante a madrugada e, quando me levantei, estava tudo alagado, incluindo a nossa comida”, disse à Lusa  Raimundo Taliki,  70 anos de idade, um pai de cinco filhos que há quatro anos vive no bairro.

Naquele bairro dos subúrbios de Pemba, as enxurradas afetaram pouco mais de 50 famílias, numa zona considerada pantanosa e de risco pelas autoridades, mas que alberga centenas de agregados.

Dias depois da chuva, Raimundo Taliki agora faz contas à vida, embora a sua casa continue submersa.

“Parece-me fomos esquecidos”, atira o camponês.

Entre as famílias afetadas, há também deslocados que estão a viver em Pemba depois de terem fugido ao conflito armado entre rebeldes e forças governamentais em distritos mais a norte da província.

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“Perdi muitas coisas que consegui comprar quando cheguei aqui a Pemba fugindo da guerra. Perdi galinhas, baldes e também meu telefone” lamentou Muanassa John, uma deslocada do distrito do Quissanga de 58 anos.

Naquele bairro, a água inundou quarteirões, obrigando algumas famílias a abandonarem o local, mas houve quem preferisse ficar.

“Não temos mais nada, mesmo roupa. Perdemos tudo e temos de uma vez mais recomeçar”, enfatiza o deslocado Assane Nangongori, o marido de Muanassa John.

A chuva que se faz sentir na província de Cabo Delgado provocou interrupção de algumas vias de acesso principais, tendo cortado a circulação de viaturas na EN380 no troço Macomia — Muidumbe.

As chuvas, acompanhadas de trovoadas e vento com rajadas, começaram a assolar o norte de Moçambique na terça-feira, com a precipitação a atingir até 50 milímetros em 24 horas, segundo Instituto Nacional de Meteorologia (Inam).

Moçambique vive um pico do período chuvoso, com as autoridades a alertar para o risco de inundações devido ao mau tempo em diversos pontos do país nas últimas semanas.

Há pouco mais de uma semana, o sul de Moçambique foi atingido pelo mau tempo, que provocou a morte de nove pessoas e afetou outras 12 mil, deixando centenas de casas alagadas, sobretudo nos subúrbios.

A atual época chuvosa em Moçambique, que começa em outubro, já provocou a morte de 135 pessoas e afetou outras 116.334, indica-se num relatório consultado pela Lusa.

Dos 135 óbitos registados desde outubro, 57 foram causados por raios, 31 por cólera, 24 por afogamentos, 20 por desabamento de casas e três por ataques de animais, refere-se no relatório do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD).

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.