A esperança do Benfica começou a esfumar-se com a derrota no Dragão. Tornou-se quase inexistente com a derrota em Alvalade. Desapareceu com a vitória do Sporting em Famalicão. E ficou definitivamente arrumada com o triunfo dos leões frente ao V. Guimarães. Mas na quinta-feira, com a eliminação da Liga Europa contra o Marselha, o Benfica perdeu mais do que a esperança: perdeu a honra. 

Para além dos sete pontos de desvantagem para a liderança do Sporting, que esta segunda-feira eram virtualmente dez face à tal vitória dos leões contra o V. Guimarães, o Benfica desperdiçou a chance de salvar a temporada com a Liga Europa — e fê-lo numa eliminatória teoricamente acessível e depois de ganhar em casa na primeira mão, oferecendo a segunda mão em França e acabando por cair nas grandes penalidades por demérito próprio. Esta segunda-feira, visitava o Farense. E estava naturalmente obrigada a vencer para adiar ao máximo a conquista do Campeonato por parte do Sporting.

Ficha de jogo

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Farense-Benfica, 1-3

30.ª jornada da Primeira Liga

Estádio de São Luís, em Faro

Árbitro: Gustavo Correia (AF Porto)

Farense: Ricardo Velho, Talys, Gonçalo Silva, Igor Rossi, Pastor, Cláudio Falcão (Vítor Gonçalves, 90+1′), Fabrício Isidoro (Facundo Cáseres, 56′), Rafael Barbosa (Elves Baldé, 69′), Marco Matias (Cristian Ponde, 69′), Belloumi, Zé Luís (Rui Costa, 56′)

Suplentes não utilizados: Miguel Carvalho, Fran Delgado, Zach Muscat, Talocha

Treinador: José Mota

Benfica: Trubin, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Álvaro Carreras, Florentino (João Neves, 62′, Fredrik Aursnes, 73′), João Mário, Di María (Rollheiser, 84′), Kökçü, Tiago Gouveia (David Neres, 62′), Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 84′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Morato, Tengstedt, Rafa

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Kökçü (16′), Belloumi (23′), Arthur Cabral (34′), Álvaro Carreras (67′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Florentino (26′), a João Mário (44′), a Cláudio Falcão (53′)

“Não seremos campeões esta época, mas não vamos desistir nem cruzar os braços. O Sporting está a jogar de forma consistente, perdemos alguns pontos, por isso têm um avanço de sete pontos. É uma grande vantagem, mas nada está decidido. Temos de fazer o nosso papel, vencer os próximos cinco jogos para termos uma hipótese no Campeonato. Quando assinei o contrato com o Benfica foi para fazer o meu trabalho da melhor forma possível. O clube é exigente, quer sempre vencer títulos e tentei fazê-lo. Mas perdemos jogos decisivos ao longo do caminho, na Taça da Liga, na Taça de Portugal e agora também na Liga Europa. Claro que estou desiludido, mas como treinador tenho de ter a capacidade de analisar o nosso comportamento em campo, a motivação, o desempenho”, explicou Roger Schmidt na antevisão da partida.

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Neste contexto, o treinador alemão aproveitava para realizar uma autêntica revolução no onze, deixando Aursnes, João Neves, Rafa, David Neres e Tengstedt no banco e apostando em Álvaro Carreras, João Mário, Tiago Gouveia, Kökçü e Arthur Cabral, mantendo Di María e Florentino. Do outro lado, num Farense com apenas uma vitória nos últimos 11 jogos, José Mota tinha os habituais Zé Luís, Belloumi e Marco Matias no tridente ofensivo.

O Benfica começou melhor, demonstrando uma facilidade muito grande na hora de atacar o último terço do Farense pelos corredores — e essencialmente pela ala direita, onde o entrosamento entre Di María e Bah revelava-se uma verdadeira arma na hora de quebrar linhas e encontrar espaços. Kökçü teve o primeiro lance de perigo, com um remate ao lado (4′), e Di María também ficou perto de inaugurar o marcador com um pontapé em jeito que Ricardo Velho defendeu (10′).

À passagem do quarto de hora inicial, porém, os encarnados conseguiram mesmo inaugurar o marcador. Di María e Bah voltaram a combinar, com o dinamarquês a tirar um cruzamento tenso e rasteiro para a área, onde Kökçü apareceu praticamente sozinho a desviar para a baliza (16′). A equipa de Roger Schmidt baixou as linhas depois do golo, recuando os setores e apostando menos nas transições rápidas e na exploração da profundidade nas costas da defesa do Farense, e os algarvios aproveitaram para chegar mais perto da baliza de Trubin.

Tal como já tinha acontecido nos primeiros minutos, o conjunto de José Mota não precisava de muito tempo para chegar ao último terço do Benfica e causava perigo quase sempre que o alcançava, beneficiando de alguma fragilidade defensiva do adversário. Menos de 10 minutos do golo de Kökçü, apareceu o empate: canto na direita, primeiro desvio ao primeiro poste e alívio incompleto de Bah, com Belloumi a aproveitar para atirar um pontapé forte e cruzado para bater Trubin (23′).

Os encarnados voltaram a crescer depois do empate, permitindo novamente muito pouco ao Farense e afunilando grande parte do ataque pela direita, e o segundo golo apareceu de forma natural e com a mesma fórmula. Di María desequilibrou, Bah apareceu a cruzar e Arthur Cabral surgiu na área a desviar de calcanhar para recuperar a vantagem (34′). O brasileiro ainda poderia ter bisado logo depois, com um pontapé de fora de área que acertou em cheio no poste (37′), mas o Benfica foi mesmo para o intervalo a vencer o Farense pela margem mínima.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o jogo voltou algo mais incaracterístico, com muitas perdas de bola e escassas aproximações às balizas. O Benfica mantinha o ascendente e o Farense não conseguia propriamente colocar o resultado em causa, ficando claro que a intenção dos encarnados era mesmo gerir a vantagem com bola, ficar à espera do adversário e apostar na transição rápida e na exploração da profundidade.

José Mota foi o primeiro a mexer, lançando Rui Costa e Cáseres ainda antes da hora de jogo, e Roger Schmidt respondeu pouco depois com as entradas de Neres e João Neves para os lugares de Florentino e Tiago Gouveia. O Farense foi crescendo no jogo, numa dinâmica demasiado concedida pelo Benfica, e Belloumi ficou perto de bisar nesta fase com um pontapé de fora de área que Trubin defendeu a dois tempos (63′). Pouco depois, porém, os encarnados fizeram xeque-mate.

Di María voltou a desequilibrar, tirou um passe longo perfeito da direita para a esquerda e Álvaro Carreras recebeu na área para ultrapassar um adversário e atirar rasteiro e junto ao poste para aumentar a vantagem do Benfica (67′), estreando-se a marcar de forma profissional em toda a carreira. José Mota fez mais duas substituições, lançando Elves Baldé e Cristian Ponde, e Schmidt viu-se forçado a retirar João Neves dez minutos depois de o lançar na sequência de um choque do jovem médio com Ponde.

Já pouco aconteceu até ao fim, à exceção das entradas de Marcos Leonardo e Rollheiser, e o Benfica venceu o Farense no Algarve, mantendo os sete pontos de desvantagem para a liderança do Sporting, que continua obrigado a conquistar mais duas vitórias para carimbar o Campeonato. Num dia em que era preciso defender a honra encarnada, Di María manteve a titularidade no meio da revolução, esteve nos três golos e mostrou que há certos toques de bola que nem as desilusões conseguem apagar.