O desporto não tem propriamente espaço para “vinganças” mas também é feito muitas vezes de “desforras”. Porque quem perde quer mostrar que podia ter ganho, porque quem ganha quer mostrar que não vai perder. Era assim que o Benfica chegava mais uma vez à Final Four da Liga dos Campeões na Arménia (com o flop que se esperava apesar dos 2.000 nas bancadas, numa decisão contestada pelos clubes envolvidos), tendo pela frente um Palma Futsal que não só era campeão em título como tinha afastado os encarnados nas meias da última edição, e com duas nuances: nem os espanhóis estavam tão fortes como em 2023, nem a formação portuguesa atravessava um momento como aconteceu em algumas fases ao longo da época que deixaram a equipa na terceira posição da fase regular. E era isso que as águias queriam demonstrar em Erevan.

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“Individualmente o Palma tem atletas mais capazes de criar desequilíbrios. Naturalmente, tendo esse tipo de jogadores, também podemos tentar aproveitar os desequilíbrios de forma contrária, sermos nós a criar equilíbrios em jogadores que têm mais capacidade de criar desequilíbrios do que em equilibrar. Olhamos para aquilo que foi o jogo do ano passado e creio que jogámos melhor do que o Palma mas competimos pior. Temos de ter essa consciência durante o jogo, que isto é uma competição, que serve para competir, e é a isso que nos propomos”, comentara o técnico dos encarnados, Mário Silva, na antevisão da meia-final.

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“Nas últimas três semanas tivemos o foco exclusivo numa equipa complicada, que faz da sua competitividade a sua mais valia, assim como a reação à perda da bola. Enquanto equipa, acho que estamos no nosso melhor momento e é isso que nos dá essa tal confiança. Depois da nossa eliminação na época passada, propusemo-nos a estar aqui e conseguimos. Queremos fazer agora melhor e isso passa por ultrapassar este adversário e, depois, chegar à final com o objetivo máximo de ser campeão”, assegurara ainda o treinador.

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As meias-finais pareciam uma barreira ensombrada para os encarnados desde a única conquista europeia em 2010, na final diante do Inter em pleno Pavilhão Atlântico, que é hoje Meo Arena, levando quatro derrotas noutros tantos encontros em 2011 (Kairat, 3-3 e 5-3 nas grandes penalidades), 2016 (Gazprom-Ugra, 4-4 e 3-2 nas grandes penalidades), 2022 (Barcelona, 5-4 após prolongamento) e 2023 (Palma, 4-3). À quinta não foi de vez. E no dia de afirmação de Lúcio, jovem internacional que esperava jogar uma final europeia no mesmo dia em que vai fazer 20 anos, a noite acabou da pior forma com nova derrota nos penáltis.

O encontro começou sem grandes oportunidades nos cinco minutos iniciais a não ser um remate de Gordillo após rodar sobre Chishkala para defesa de Léo Gugiel para canto (3′) e com o Benfica a fazer duas faltas nos dois minutos iniciais. Sem haver superioridade de nenhum dos conjuntos, o Palma encontrava uma maior facilidade em chegar a finalizações de meia distância como aconteceu numa tentativa de Cléber para outra intervenção do guarda-redes encarnado (6′). Era no pormenor que se iria fazer diferenças, foi no pormenor que a equipa portuguesa marcou e sofreu: Lúcio inaugurou o marcador na sequência de um canto de Afonso aparecendo na área a fazer o desvio (7′), Gordillo empatou pouco depois numa reposição lateral com um pequeno toque na área (9′) e pelo meio foi Léo Gugiel a manter-se como principal figura, a travar com grandes intervenções as tentativas na sequência de bolas paradas de Rivillos e Neguinho.

O ascendente da partida passava para o Palma mas duraria pouco tempo perante a maturidade competitiva demonstrada pelo Benfica, que voltou a conseguir agarrar no jogo e chegou de novo à vantagem numa das primeiras tentativas de jogo 5×4 com a bola a passar por Léo Gugiel e Silvestre até à assistência de Afonso Jesus para Jacaré (11′). Cléber e Rivillos ainda tiveram depois ameaças com perigo mas os encarnados, que iam apostando no 5×4 com as duas equipas com quatro faltas, iam controlando a vantagem sempre de olho na possibilidade de aumentarem a vantagem com a ajuda da eficácia de Gugiel, que voltou a evitar o empate a Ernesto isolado depois da assistência do ex-benfiquista Chaguinha (17′) e segurou o 2-1 ao intervalo.

A primeira parte acabava da melhor forma, o segundo tempo começava da melhor maneira: em mais um lance em que foi Afonso Jesus a dar o último toque antes do remate, Lúcio bisou no encontro com um tiro cruzado que deixou Carlos Barrón a tentar perceber por onde tinha passado a bola e aumentou para 3-1 (22′). O Benfica ia conseguindo controlar as tentativas ofensivas do Palma apesar de ter feito a terceira falta ainda nos cinco minutos iniciais, promovendo o 5×4 com Léo Gugiel adiantado sempre que os espanhóis tinham uma oportunidade de visar a baliza antes da entrada de Luan Muller, ex-guarda-redes do Fundão naturalizado arménio que dava outros argumentos ao Palma em 5×4… que também não começou bem.

Numa das primeiras tentativas assumidas de adiantar o guardião para o meio-campo contrário, a formação espanhola não só falhou a hipótese de visar a baliza de Léo Gugiel como perdeu a bola mais uma vez com a intervenção de Afonso Jesus e viu Ernesto ser expulso por acumulação de amarelos (30′), permitindo que o Benfica jogasse dois minutos com mais uma unidade sem resultados práticos. Esse acabou por ser um dos momentos chave da partida, com os encarnados a falharem a oportunidade de “matarem” o jogo e a sofrerem pouco depois com Muller a fazer o 3-2 e Rómulo a acertar no mesmo minuto na trave (34′). A emoção iria até ao final: Lúcio fez o hat-trick de baliza a baliza (37′), Marcelo fez o 4-3 em 5×4 com guarda-redes avançado assumido (38′) e Gordillo empatou com 1.22 minutos por jogar, sendo que os encarnados fizeram de seguida a quinta falta e ficaram mais condicionados para aquilo que faltava ainda disputar.

O encontro iria mesmo seguir para prolongamento, com tudo em aberto mas os espanhóis por cima no plano anímico pela forma como conseguiram resgatar o empate quando os encarnados pareciam ter a vantagem já controlada (se é que isso existe no futsal, claro). E se esse tempo extra começou bem, com o Benfica a tentar manter a posse para gerir os minutos como mais lhe convinha, ficou depois um valente susto com Rómulo, que na época passada jogava no conjunto da Luz, a atirar ao lado num livre de dez metros após falta de Lúcio (43′). Os minutos iam passando, com Léo Gugiel a ter o trabalho que Muller continuava a não necessitar mas a segurar o 4-4 que Chishkala tentou também desfazer sem sucesso. A partida iria mesmo seguir para decisão nas grandes penalidades, com Diego Nunes a falhar, Martim a defender a tentativa de Marcelo logo a seguir mas Rocha a desperdiçar também com nova defesa de Carlos Barrón para o 4-3 final.