Olá

835kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

"Club Zero": um culto escolar de tirar o apetite

Filme de Jessica Haustner chega a Portugal depois de ter estreado em Cannes, em 2023. Distúrbios alimentares, febre das boas notas e um coletivo religioso para parar de comer, mas mal apurado.

Em "Club Zero", Mia Wasikowska é miss Novak, uma professora com uma abordagem muito específica à vida escolar e uma pedagogia particular sobre a vida
i

Em "Club Zero", Mia Wasikowska é miss Novak, uma professora com uma abordagem muito específica à vida escolar e uma pedagogia particular sobre a vida

Em "Club Zero", Mia Wasikowska é miss Novak, uma professora com uma abordagem muito específica à vida escolar e uma pedagogia particular sobre a vida

Em Clube Zero, de Jessica Haustner, filme estreado em Cannes do ano passado da Secção Oficial que chega agora às salas portuguesas, a transgressão joga-se a bem do planeta. Não há fumo, só chás dietéticos, meditações questionáveis e planos para mudar vícios numa questão fundamental: comer. É neste limbo entre querer espetar a faca num dos temas mais populares dos dias de hoje e deixar encarregados de educação a questionar as suas próprias escolhas que o filme se insere. No entanto, atacar os problemas do mundo sem ter uma boa história para contar pode deixar o espectador de barriga vazia. É o que acontece aqui.

Uma professora, miss Novak (uma gélida Mia Wasikowska), traz um novo método para um colégio interno internacional que ajudará os alunos, através de uma “alimentação consciente”, a melhorar as notas e a conseguir bolsas de estudo para a próxima fase. A relação com a comida, os distúrbios, a excessiva dependência da escola na educação dos filhos, deixam fugir um pequeno grupo de alunos para um culto onde o objetivo é deixar de comer. Menos uma grafada aqui, fechar a boca ali, tudo sem ser bem explicado aos pais, que acreditam piamente em miss Novak, mulher aprumada, sem filhos, que nunca deve ter dito uma asneira na vida. “Só é preciso ter fé” e os resultados aparecem. Uma sátira (não muito) negra a apontar para as discussões sobre as alterações climáticas com um menu de mensagens atuais sobre o excesso de consumo que está a destruir o planeta e a cabeça dos jovens.

O prato até está bem servido: uma cinematografia que nunca se excede, nem na cor, no guarda-roupa ou nos movimentos de câmara. Os miúdos é que vão transgredir para se libertar, os décors podem estar ridiculamente impecávies. Nem se apressa a esgotar as potencialidades daquele ambiente — o que não tem sido o caso de algumas produções internacionais de maior escala que ficaram obcecados com as vicissitudes da adolescência, ora romantizando-as, ora tornando-as num autêntico filme de terror que serve bem o negócio. O problema são os ingredientes que compõem Clube Zero, que anda a ver se nos consegue dar uma lição de boas maneiras sobre o que raio anda a acontecer nas escolas sem que quem está de fora (os pais, sobretudo) saibam.

[o trailer de “Club Zero”:]

Não é que o filme não acerte no alvo, é querer demasiado que esse alvo vá para casa a pensar de certa maneira. E, pelo meio, não acerta no tom. Nem muito dramático, nem muito cómico. Nem carne, nem peixe. Assim, assim, o que não ajuda. Conhece-se bem o problema deste universo, onde muitas crianças chegam mal nutridas às aulas e só na escola é que tem uma boa refeição, em que cada vez mais adolescentes se deixam apanhar pela superficialidade do corpo perfeito vindo das redes sociais e em que a parte laboral oprime (ou os pais deixam que oprima) o tempo para educar os seus rebentos. Esta grupeta de estudantes, em que cada um com o seu objetivo — que pode ir desde conseguir uma bolsa de estudo para não dar mais despesas à mãe solteira ou melhorar as técnicas de ballet para o espectáculo final do colégio interno — tem uma atitude desprovida de grandes emoções, um bando de jovens zombies à procura de salvação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quase como se Jessica Haustner quisesse mesmo alfinetar todo o processo de criação de discípulos à volta de um líder (miss Novak, neste caso) que costuma pairar em cultos religiosos. Alguns desses momentos têm realmente graça, como os que vemos na cantina, em que simulam que estão a comer, ou nas suas próprias casas, onde as discussões que mantêm com os pais — “não querias que eu perdesse peso?” — subvertem os seus papéis familiares e sociais. O fio do riso perde-se quando já não há mais caminho para talhar. Que é dizer: quando o segredo do método de miss Novak é descoberto e dá-se por terminada a “alimentação consciente” que estava a deixar os alunos em muito maus lençóis.

A transgressão faz parte do nosso crescimento. Só que o mais provável é acabarmos a dizer: não, neste clube nem sequer devíamos ter entrado

Acaba por ser curto o desafio que a realizadora nos propõe, porque nunca arrisca demasiado nem mostra vontade de borrar a bonita pintura que criou à volta das paredes da escola. Mesmo sendo um filme sobre um dos grandes problemas que assombram comunidades escolares, nunca é capaz de ultrapassar essa aparente responsabilidade de não se desviar do que realmente quer transmitir. À australiana Mia Wasikowska, que vai saltando entre produções grandes para crianças e cinema independente, nunca lhe dão espaço suficiente para brilhar, já que a sua simpatia neurótica podia ter piorado a situação dos seus alunos para nosso agrado (caso sejamos espectadores que gostam de boas provocações). Sendo que é o grande nome do filme, ao lado de Sidse Babett Knudsen (Borgen), esperava-se, imagine-se, muito mais protagonismo na tela.

Jessica Hausner, que ganhou um certo nome em festivais como Cannes (além de Clube Zero o ano passado, Amor Louco, 2014, estreou na secção Un Certain Regard nesse ano) ou Veneza (Lourdes, 2009, venceu o Prémio FIPRESCI), tem revelado apetite por temas pesados tratados com sabor a humor. O seu mais recente filme mostra uma viragem para o reino do cinema falado em inglês. Não há problema algum com isso. Menos quando se sente que a cineasta se deixou aburguesar, ser politicamente incorreta mas com maneiras, evitando ser menos ambiciosa do que o próprio tema do filme. Talvez não nos quiséssemos juntar ao Clube Zero, mas claro que o queremos conhecer, nem que seja às escondidas. A transgressão faz parte do nosso crescimento. Só que o mais provável é acabarmos a dizer: não, neste clube nem sequer devíamos ter entrado.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Já é assinante?
Apoio a cliente

Para continuar a ler assine o Observador
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia
Ver planos

Oferta limitada

Já é assinante?
Apoio a cliente

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Desde 0,18€/dia
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Desde 0,18€/dia
Em tempos de incerteza e mudanças rápidas, é essencial estar bem informado. Não deixe que as notícias passem ao seu lado – assine agora e tenha acesso ilimitado às histórias que moldam o nosso País.
Ver ofertas