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"O Colecionador de Almas": filme que muito quer (ser como outro) muito perde

Às vezes, querer ser muito uma coisa leva precisamente ao destino contrário. É o que acontece com "O Colecionador de Almas" no exercício de ser "O Silêncio dos Inocentes".

Maika Monroe é Lee Harker, acabou a formação e começou a sério no FBI. Há mortos. Haverá quem os matou. E a questão é: será que já vimos isto antes?
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Maika Monroe é Lee Harker, acabou a formação e começou a sério no FBI. Há mortos. Haverá quem os matou. E a questão é: será que já vimos isto antes?

Maika Monroe é Lee Harker, acabou a formação e começou a sério no FBI. Há mortos. Haverá quem os matou. E a questão é: será que já vimos isto antes?

Na campanha de marketing de O Colecionador de Almas existe um esforço cuidado com as referências a O Silêncio dos Inocentes, nomeadamente a adaptação realizada por Jonathan Demme a partir dos livros de Thomas Harris. Foi esta que, em parte, tornou pop os assassinos em série e, noutro nível, escancarou portadas para um novo tipo de investigação no audiovisual — teriam produções como Ficheiros Secretos ou Profiler sido possíveis nos se Jodie Foster não tivesse sido Clarice Starling daquela maneira? Também por isso, é inevitável tentarmos perceber quanto do filme de 1991 existe neste que agora se estreia. Não é um bom princípio e isso é sintomático.

O que a promoção de O Colecionador de Almas tenta esconder é exatamente o óbvio: Oz Perkins tentou recriar o filme de Demme para um novo público. Nada de mal na intenção, mas a forma que o faz é muito aborrecida. Aborrecida para quem conhece O Silêncio dos Inocentes e é convidado para as inevitáveis comparações (não é o espectador que o quer, é o filme que o exige, quase como forma de se validar), aborrecida para quem não conhece o filme, em grande parte porque sente que tem de explicar tudo ao espectador, tem de se lhe dar a mão com medo que este fique desamparado e não entenda as nuances ou o real significado das coisas.

[o trailer de “O Colecionador de Almas”:]

E aí existe o principal problema de O Colecionador de Almas. Não é tanto a “questão O Silêncio dos Inocentes” — pelo contrário, porque é bom as coisas renovarem-se, encontrarem a sua forma noutra época —, mas o paternalismo com que olha para o espectador, neutralizando todas as potenciais subtilezas do enredo e deixando-o com pouco para pensar assim que o filme termina. Acontece e esgota-se naqueles 101 minutos. O que é pena.

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O filme atira o espectador para os 1990s, com a fotografia de Bill Clinton num escritório numa das primeiras cenas. Lee Harker (Maika Monroe) acaba de sair da escola e de entrar no FBI. Na primeira missão, num aborrecido exercício de ir bater nas portas à procura de um assassino revela uma habilidade psíquica — ou intuição — para descobrir onde o criminoso está. Isso chama a atenção de Carter (Blair Underwood), agente com uma série de homicídios que decorreram ao longo de três décadas em casas de famílias. Pontos em comum? Cartas crípticas deixadas por um tipo que assina como Longlegs (Nicolas Cage); uma miúda na família cujo aniversário é no dia 14 do mês em que foi assassinada; zero vestígios de alguém do exterior que tenha cometido aqueles crimes. Isto é, tudo afunila para que tenha sido alguém da casa.

Não há um Hannibal Lecter na história, Longlegs vive numa cave muito semelhante à de Buffalo Bill da história de Harris e do filme de Demme. Não haver Lecter importa, porque era ele que trazia Starling para dentro da sua própria narrativa. Em O Colecionador de Almas, Harker já existe na de Longlegs (e não é preciso chegar a meio do filme para o descobrir, isso é dado de bandeja logo no início), o que convida a que a protagonista não duvide de si e que raramente exista numa situação de conflito. Aliás, o filme não tem conflito, vive da exposição, do mostrar, confia nisso para que funcione.

O filme olha com paternalismo para o espectador, neutralizando todas as potenciais subtilezas do enredo e deixando-o com pouco para pensar assim que termina

Funciona em momentos. O Colecionador de Almas é muito melhor quando se está a expor — sobretudo na parte central do filme — do que quando se começa a explicar, a justificar todo e qualquer gesto no terceiro ato. E é aí que o espectador se sente tratado como pateta, pela forma como a narrativa esconde informação e até menoriza o próprio papel das personagens.

O melhor é mesmo o Longlegs de Nicolas Cage. O ator não está a encontrar uma segunda vida ao interpretar personagens bizarras ou a reinterpretar estereótipos à sua maneira muito particular. Ou seja, não encontrou uma fórmula como Liam Neeson fez pós-Taken. Está, sim, com rumo e a assumir com lugar próprio o tipo de papéis que sempre fez muito bem. A presença que tem no pouco tempo que lhe é dado é suficiente para ficar na memória. Na memória também fica a curta presença de Kiernan Shipka (a filha dos Draper em Mad Men), numa das poucas cenas realmente excecionais de O Colecionador de Almas. Ela e Cage são os únicos adultos na sala, num filme que teria tudo para ser aquilo que promete se não estivesse a ser feito para ambições infantis.

 
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