O criador da série “Futurama” e ex-argumentista de “The Simpsons”, David X. Cohen, está cético quanto ao futuro da animação por causa da Inteligência Artificial (IA) generativa, disse, em entrevista à Lusa.

Estou um pouco cético, o futuro da IA está a preocupar-nos bastante, a todos os que trabalhamos nisto para ganhar a vida”.

Com a nova temporada de “Futurama” a estrear esta segunda-feira no Disney+ Portugal, David X. Cohen considerou que o cenário é mais sombrio para os animadores do que para os argumentistas, pelo menos por enquanto.

“Creio que os argumentistas vão aguentar-se durante mais tempo porque ainda não vi escrita de comédia gerada por IA que seja boa”, afirmou. “Não quer dizer que não esteja a caminho, mas acho que nos vamos aguentar durante algum tempo“.

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A maior preocupação sente-se entre os atores que são usados para dar voz e modelar os personagens animados e os artistas que os desenham.

“Há muitos problemas éticos e questões de carreira”, disse Cohen, referindo o exemplo dos atores de voz e a possibilidade de serem descartados por vozes sintéticas ou anónimas.

“No passado, contratávamos artistas e pedíamos 50 versões do que a nave Planeta Expresso podia ser para termos ideias”, lembrou Cohen. “Agora, podemos dizer ao computador que nos mostre 50 naves espaciais ao estilo de Matt Groening”.

David X. Cohen trabalhou durante cinco anos na série “The Simpsons”, como argumentista, editor e produtor, e desenvolveu “Futurama” com Matt Groening, o próprio criador dos “The Simpsons”.

“É esse o perigo em que nos encontramos, ninguém sabe quem vai sobreviver“, admitiu o cineasta. “Estamos nervosos neste momento”, disse, sublinhando que, para já, os humanos estão a vencer esta ronda. Apesar de suspeitar que pode não ser por muito tempo.

Na nova temporada de “Futurama”, um dos episódios explora a ascensão da IA, numa história em que a protagonista Leela se vê a braços com uma amizade sintética que se revela desastrosa.

O receio de que as ferramentas de IA generativa possam fazer implodir a indústria em Hollywood foi um dos grandes motivos das greves do ano passado, em que os argumentistas e atores exigiram salvaguardas para garantirem que não vão ser substituídos por escritores e atores sintéticos.

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No entanto, o acordo com os estúdios tem uma duração limitada e a rápida evolução das ferramentas de geração de imagens, sons e vídeos continua a preocupar os artesãos da indústria, incluindo veteranos como David X. Cohen, que começou a trabalhar nos “The Simpsons” em 1989.