100 gramas. Foi o que bastou para afastar Vinesh Phogat da final de luta livre feminina 50kg. Iria disputar o ouro com a norte-americana Sarah Ann Hildebrandt no combate desta quarta-feira, 7 de agosto, à tarde. Já não vai. Esta manhã o anúncio chegou. Foi desclassificado. Não conseguiu manter o peso até 50 quilos. Tinha 100 gramas a mais.

Na rede X, o comité olímpico da Índia anunciava: “É com pesar que o contingente da Índia partilha a notícia da desqualificação de Vinesh Phogat”. E acrescentava: “Apesar dos melhores esforços da equipa durante a noite, ela pesava poucos gramas acima dos 50 quilos esta manhã. Não serão feitos mais comentários”, pedindo respeito pela privacidade da atleta.

Cortou o cabelo, tirou sangue, não dormiu nem bebeu água para tentar reduzir os gramas a mais, mas nada resultou, conta o Hindustan Times.  O Indian Express acrescenta que a atleta na terça-feira apresentava dois quilos acima do permitido. Corrida, ginástica, bicicleta foram exercícios também insuficientes. Acabou, segundo o mesmo jornal, por ter de ser assistida no centro médico da aldeia olímpica com sinais de desidratação.

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E apesar de ter vencido a meia final que a levou à final não lhe será concedida qualquer medalha e pior “será eliminada da competição e ficará em último sem qualquer posição atribuída”, segundo ditam as regras da luta livre. Em 24 horas salta de um feito histórico — seria a primeira final da Índia nesta categoria — para uns olímpicos para esquecer.

O seu lugar na final vai ser preenchido precisamente por quem derrotou nas meias finais, a cubana Guzman Lopez Yusneylis. A medalha de bronze será disputada entre a japonesa Susaki Yui e a ucraniana Livach Oksana.

Já não é a primeira vez que Phogat luta por se manter dentro do peso desta categoria, menos do que os 53 quilos na qual habitualmente competia. Também sentiu essas dificuldades durante as qualificações para os Jogos Olímpicos, escreve o Indian Express.  O Hindustan Times completa que o peso “natural” da atleta de 29 anos é de 56-57 quilos.

Há cerca de um ano, conta a CNN, Phogat estava a dormir nas ruas de Nova Deli num protesto convocado por atletas para denunciar casos de assédio sexual neste desporto. Phogat e outros atletas da modalidade acamparam, durante semanas, nas ruas da cidade pedindo ação, reclamando medidas contra o presidente da Federação de Wrestling da Índia (WFI). E escreveram ao líder da associação olímpica indiana clamando por uma investigação a Brij Bhushan Sharan Singh, que também é um poderoso político do partido Bharatiya Janata. A atleta disse mesmo ter sido alvo de assédio mental e tortura por parte deste responsável depois de ter falhado a medalha nos Jogos de Tóquio, acrescentando que até pensou em suicídio.

Uma promessa de investigação pelo ministro do desporto levou ao fim dos protestos, que voltaram depois de meses sem qualquer conclusão. Chegou a ser detida nessas manifestações, mas libertada pouco depois.

“Estas medalhas que decoram os nossos pescoços já não significam nada. Qual é o sentido da vida quando se compromete a dignidade”, declararam, ameaçando atirar as medalhas ao rio Ganges.

Em maio deste ano, Singh foi acusado de assédio, com o responsável a negar qualquer conduta imprópria.