Um dirigente da associação ambientalista Zero defendeu esta segunda-feira que as primeiras medidas após o incêndio da ilha da Madeira passam por elaborar um relatório de avaliação e avançar com trabalhos antes das chuvas.

“A região autónoma tem condições e pessoas muito capacitadas para programar estas intervenções e para elaborar um relatório” de avaliação num prazo de 15 dias, afirmou Paulo Lucas, da direção da Zero — Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Para o dirigente da Zero, as intervenções a seguir devem ocorrer “o mais breve possível”, idealmente antes da chegada das chuvas.

O especialista, que coordena as áreas de sistemas de conservação, biodiversidade e florestas, salientou à Lusa que a urgência na elaboração do relatório de avaliação decorre de as chuvas fazerem “o arrastamento das cinzas e também do próprio solo, o que é indesejável”.

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“Se deixamos que o solo seja arrastado, não proporcionamos as condições ideais para a vegetação recuperar”, bem como as árvores, explicou Paulo Lucas, acrescentando que existem várias técnicas para ajudar à recuperação, nomeadamente a estilha e incorporação no solo do resto das árvores parcialmente queimadas, mas têm de ser descritas e de acordo com cada local.

Para o especialista da Zero, “o ideal é sempre aproveitar o que existe já no local” e não trazer “coisas de fora”, embora possam ser necessários “postes de outro lado, que são instalados nas linhas de água, por exemplo, para pequenas barragens de contenção das cinzas e do próprio solo, mas efetivamente o que é importante é haver um relatório”.

O documento de avaliação “é precioso porque tem as medidas específicas para cada local e identificam-se os locais mais suscetíveis à erosão, ou seja, não é gastar dinheiro à toa em todo o lado, pois nem todos os locais vão necessitar de grandes investimentos”, reiterou.

Depois, será preciso atuar “o mais rapidamente possível antes” da época chuvosa, pois com “as chuvas há imensa erosão associada”, ainda por cima em “zonas muito declivosas”, e será preciso verificar como atuar em zonas da rede Natura 2000 e nas zonas especiais de conservação (ZEC), que tinham florestas autóctones, ‘habitats’ protegidos no âmbito da União Europeia.

“Aí vai ter que se prescrever diferentes medidas de estabilização, ou não, depende da avaliação que deve ser feita e das características desses habitats em concreto, para que efetivamente voltem a recuperar”, advogou Paulo Lucas, notando que se trata de árvores que levam “muitas dezenas de anos” a crescer.

O responsável da organização não governamental (ONG) de ambiente considerou ainda que a reflorestação pode não ser a melhor solução logo após o incêndio, pois “as sementes caem no solo e a vegetação vai recuperar com base nesse banco de sementes”, portanto, há que “verificar se isso está, ou não, a acontecer”.

Nesse sentido, a reflorestação pode nem ser precisa, dependendo das espécies que estavam no local e de cada tipo de comunidade vegetal da região.

“A Madeira tem diferentes comunidades vegetais e especialistas nessa matéria vão obviamente aconselhar o governo da região autónoma. Também o Instituto das Florestas e da Conservação Natureza tem técnicos suficientemente habilitados para esse efeito e, portanto, irão definir para cada local quais são as medidas prescritas”, frisou o especialista.

“Todas essas zonas especiais de conservação têm plano de gestão aprovado e devem pelo menos prever que esta situação poderia ocorrer e a vegetação ser fortemente afetada, portanto, há aqui uma situação a conhecer e ser avaliada”, vincou.

Após a estabilização das áreas mais críticas numa primeira fase, então se deverá avaliar “se é necessário ou não essa reflorestação”, pois tudo depende das diferentes espécies e “da severidade do fogo”, diferente “em função dos locais por onde passou”, rematou o dirigente.