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Em junho de 2009, Yunus-Bek Yevkurov seguia de carro quando um bombista suicida num Toyota cheio de explosivos chocou propositadamente com a comitiva do então Presidente da República da Inguchétia (pertencente à Federação Russa). O incidente que envolveu os vários carros provocou uma grande explosão e matou o motorista. Apesar de ter ficado gravemente ferido, Yevkurov sobreviveu e é agora vice-ministro da Defesa da Rússia, além de um dos homens de maior confiança de Putin — motivo pelo qual foi enviado para Kursk, para que a região russa não caia nas mãos de Kiev.

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A maior parte dos seus 61 anos de vida foram dedicados ao exército russo. Com apenas 19 anos Yunus-Bek Yevkurov juntou-se às Forças Armadas da então União Soviética, fazendo parte do Corpo de Fuzileiros. Sete anos depois começou a servir na Força Aérea e nunca mais deixou este ramo.

Desde então, o seu percurso militar foi sempre notório, chegando a ser reconhecido como Herói da Federação Russa — a mais alta condecoração militar do país — tendo direito a uma medalha de ouro. Um dos motivos para esta distinção foi ter liderado a equipa que tomou o controlo do aeroporto de Pristina, no Kosovo, antes da entrada das tropas da NATO em 1999, escreve o New York Times. E ainda ter conseguido localizar e libertar doze militares russos do cativeiro, de acordo com o site patriótico russo “Heróis do País”.

Isto levou Yunus-Bek Yevkurov a tornar-se um dos homens próximos e de maior confiança de Vladimir Putin. Em 2008, quando trabalhava para as secretas russas, Dmitri Medvedev, então Presidente da Rússia, chamou Yevkurov a assumir o governo da República da Inguchétia. A região autónoma, com cerca de 410 mil habitantes, localiza-se na cordilheira do Grande Cáucaso e faz fronteira com a Chechénia.

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Foi atribuída ao russo a missão de reconquistar a confiança do povo e acalmar as tensões provocadas por um grupo de separatistas que lutava por um estado islâmico independente na região (e que acabou por conquistar o apoio popular).

Para tal, adotou uma abordagem de abertura à população, chegando a reunir-se com ativistas da região. E arrendou ainda uma casa modesta onde viveu, optando por deixar de lado o palácio presidencial ao qual tinha direito, escreveu o New York Times. Esta postura levou a que o russo ganhasse reputação como pacificador e negociador. O Kremlin começou a ver Yevkurov como alguém com “uma certa delicadeza diplomática”, dizia o especialista Andreas Heinemann-Gruder à France24.

Yevkurov foi a solução de Inguchétia e assim se manteve durante uma década, quando Vladimir Putin o nomeou vice-ministro da Defesa da Rússia. Nesse mesmo dia, a 8 de julho de 2019, o Presidente russo também promoveu o militar a tenente-coronel, anunciou o Kremlin no seu site.

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Da República Centro-Africana a Kursk

Anos mais tarde, em 2023, Yevkurov voltou a ser a solução da Rússia para um problema. Em setembro desse ano, a agência Reuters escrevia que tinha sido detetado um avião militar que transportava uma delegação russa até ao Burkina Faso e, no dia seguinte, à República Centro-Africana (RCA). Desde 2018 que mercenários do grupo russo Wagner operavam neste país, aumentando a influência russa no terreno e auxiliando o Presidente da RCA, Faustin Archange Touadera, a enfrentar os rebeldes.

Mas com a morte do líder dos Wagner, Yevgeny Prigozhin, num acidente de avião no final de agosto, o cenário mudou — e o controlo da RCA ficou em risco. Na altura, a presidência de Burkina Faso disse que tinham sido levadas a cabo negociações com esta delegação russa — que era liderada pelo vice-ministro da Defesa Yevkurov — e que tinham discutido uma possível cooperação militar entre os países.

Wagner. Dentro da máquina de guerra de Putin

Três meses depois a Rússia começou a formar o grupo que apelidou de “Corpo Africano”, cujo objetivo era substituir as estruturas do grupo Wagner que operavam no continente africano, adiantou o jornal diário Vedomosti. Esta organização ficou subordinada ao exército russo, sendo supervisionada pelo vice-ministro da Defesa do país, Yunus-Bek Yevkurov.

Este domingo, Putin recorreu, uma vez mais, ao salvador e protetor dos interesses russos. A Ucrânia iniciou uma nova ofensiva na província russa de Kursk e a jogada do líder de Moscovo foi enviar para o local Yevkurov. O militar terá chegado a Kursk poucas horas depois de os tanques de Kiev começarem a progredir no território.

Segundo o jornal britânico Telegraph a nova ofensiva ucraniana está a deixar Vladimir Putin preocupado, uma vez que faltam quinze dias para a tomada de posse do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump. Se a Ucrânia tiver sucesso nesta ofensiva, a Rússia não estará tão bem colocada na mesa das negociações, levantando ainda a moral das tropas ucranianas.