Vários hospitais do país estão a ativar planos de contingência e a aumentar o número de camas de internamento disponíveis face à pressão sentida nos serviços de urgência. A grande afluência acontece numa altura marcada pelo aumento das infeções respiratórias e por tempos de atendimento muito superiores aos recomendados, com algumas unidades a ultrapassar no fim de semana as 20 horas em doentes considerados urgentes. Em declarações ao Diário de Notícias, o bastonário da Ordem dos Médicos alerta que “a situação vai piorar quando se atingir o pico.”
“A resposta volta a falhar e de uma forma perfeitamente inadmissível. Tivemos locais em que alguns utentes tiveram de esperar mais de 20 horas ou 24 horas para serem atendidos, mesmo com um grau de triagem urgente. Não pode ser”, sublinhou. Carlos Cortes mostrou-se “muito preocupado” com a situação. “Se a resposta é esta no início da atividade gripal, então as próximas semanas serão ainda mais difíceis, já que a partir de agora, com o regresso das férias às escolas e aos trabalhos, a probabilidade de difusão da doença é muito maior”, afirmou.
Não vale a pena os conselhos de administração virem dizer que têm as equipas suficientes e que estas estão completas, porque a realidade já está a mostrar que o número de médicos por equipa não é suficiente. Nesta altura, já não há soluções milagrosas, porque estamos em cima do acontecimento.”
Hospitais sob pressão. Tempo de espera para doentes urgentes no Santa Maria chegou às 15 horas
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“Algo falhou”, diz bastonário. Amadora-Sintra atendeu mais de 3 mil pessoas em cinco dias
Para o bastonário, é um sinal de que “o trabalho de preparação não foi bem feito”. “Algo falhou no planeamento para o inverno e na resposta às infeções respiratórias. E as novas medidas, como o reforço das linhas telefónicas, o funcionar em rede, os diagnósticos por digitalização, por exemplo, também não estão a funcionar para os utentes, que continuam a ter a sua vida dificultada”, disse ao DN.
Num ponto de situação aos jornalistas, na segunda-feira, a diretora clínica do Hospital Fernando Fonseca, mais conhecido por Amadora-Sintra, revelou que o plano de contingência foi ativado, notando que mais de 3 mil utentes foram atendidos nos primeiros cinco dias do ano. “Houve um pico de afluência que [resultou num] maior atraso no atendimento de doentes urgentes, mas que apesar de tudo se tem vindo a regularizar nas últimas 48h”, garantiu. Bárbara Flor de Lima alertou, ainda assim, que isso não significa que não possam existir outros picos.
“Reforço a necessidade do contacto com o SNS24 e também a procura de outras respostas ao nível da comunidade, nomeadamente com a consulta de doença aguda [nos centros de saúde], os atendimentos complementares e até mesmo o sub de Mem Martins, que é um urgência básica de atendimentos pouco urgentes”, afirmou.
Hospital de Penafiel implementou várias medidas de contingência
Também o Hospital de Penafiel, que pertence à Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, anunciou na segunda-feira a implementação de várias medidas de contingência, nomeadamente a transformação do antigo arquivo clínico numa área de internamento para 28 doentes para responder a um surto de gripe. De momento, 18 dessas estão ocupadas, mas prevê-se que ao longo da semana as restantes também o sejam.
Em conferência de imprensa, o diretor clínico da ULS explicou que o plano de contingência está no nível 3. “A verdade é que temos doentes muito mais graves na urgência. Estamos a passar de uma média de 50 para 90 doentes laranja. Estamos a passar de uma taxa de internamento média de 8% para 13,7%”, indicou Nélson Pereira. “São sobretudo doentes idosos, com comorbidades, a sofrer de infeções respiratórias”, descreveu, destacando que predominam casos de gripe tipo B e do Vírus Sincicial Respiratório. Ainda assim, apontou, os tempos de espera na urgência “têm estado adequados às diferentes prioridades.”
Hospitais de Norte a Sul adotaram já medidas
Segundo o jornal Público, também a ULS de São José, de Loures-Odivelas, Almada-Seixal, Coimbra e São João avançaram com medidas de contingência. As unidades relatam um maior número de doentes complexos que precisam de internamento.
Ao jornal, a ULS Almada-Seixal revelou que o número de doentes internados com alta clínica “tem vindo a aumentar, rondando na noite de segunda-feira 70 casos, o que acaba por criar uma maior pressão nas urgências”. Ainda assim, o acréscimo de admissões tem acontecido em dias pontuais, com mais de 300 admissões nos dias 2 e 3 de Janeiro. Foi necessário aumentar o número de camas, duas por serviço hospitalar.
Já na ULS Loures-Odivelas, foi possível libertar 32 camas de internamento desde o dia 3 de dezembro, com a ativação do nível de contingência 2. A unidade de saúde relatou que 78% dos atendimentos foram triados como urgentes, com predominância de infeções respiratórias. Na ULS São José, que disse ao Público que a percentagem de doentes admitidos e triados como prioritários (vermelho, laranja e amarelos) cresceu de 50% para 71%, está previsto um aumento de camas nos internamentos e o reforço das contratadas ao exterior à medida dos vários níveis do plano de contingência. Até ao momento foram reconvertidas 20 camas, além das sub-contratadas para os casos sociais e de cuidados continuados.