Foi ministro no Bloco Central e, mais tarde, de Aníbal Cavaco Silva. Foi o cabeça de lista do PSD nas primeiras eleições europeias que se realizaram por sufrágio universal, presidente da Câmara Municipal de Cascais durante dez anos e conselheiro de Estado. Rompeu com Pedro Passos Coelho e foi expulso do partido até regressar em 2019. Agora, não poupa elogios à escolha de Luís Montenegro para as próximas eleições europeias, condena as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, critica Pedro Nuno Santos e a forma como está a “radicalizar” o PS, e condena as críticas de Pedro Passos Coelho à atual direção do PSD.
Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, António Capucho defende que Sebastião Bugalho tem “uma capacidade de intervenção absolutamente acima do normal” e “está muitos furos acima” dos demais candidatos. “Em termos de campanha eleitoral, vinte valores. A escolha de Sebastião Bugalho parece-me que é mais do que satisfatória. Pode dar dez a zero a qualquer dos outros candidatos”, diz.
O antigo ministro assume ser amigo de “longa data” de Marcelo Rebelo de Sousa, mas não poupa críticas às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre Luís Montenegro, António Costa e a relação do Estado português com as antigas colónias. “Achei completamente deploráveis, disparatadas, inoportunas e lamentáveis”, lamenta.
António Capucho fala ainda da posição de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o filho e o “Caso das Gémeas”. “É muito estranha a forma como anuncia publicamente o corte de relações com o filho, a confirmar-se que foi assim que se passou. Não me parece que tenha sido muito abonatório para um pai, mesmo que esteja chateado com o filho na forma como atuou, basta vir pedir desculpa, qualquer coisa. Tudo menos afirmar publicamente o corte de relações com o filho.”
Sobre as declarações de Pedro Passos Coelho, o ex-autarca diz que foram “completamente inoportunas” e admite que o antigo primeiro-ministro pode ter ambições políticas, seja para voltar a liderar o PSD ou ensaiar uma candidatura presidencial. António Capucho, de resto, tem outra ideia: Leonor Beleza. “Seria a primeira Presidente mulher. Era ótimo.”
[Ouça aqui a Vichyssoise com António Capucho]
“Bugalho pode dar dez a zero a qualquer dos outros candidatos”
É inevitável começarmos por aqui, tem uma larga experiência europeia, o que lhe parece a escolha de Sebastião Bugalho para liderar a lista da Aliança Democrática às eleições europeias?
Acho uma escolha inteligente, uma escolha arriscada, porque não se trata de um militante do PSD, mas trata-se de alguém que tem uma bagagem política manifestamente reconhecida em geral, por toda a gente, e que tem uma presença nos debates televisivos, e uma capacidade de intervenção absolutamente acima do normal. Portanto, em termos de campanha eleitoral, vinte valores.
Mas ainda assim, é importante notar que Sebastião Bugalho não tem percurso político e partidário, não tem experiência. É sinal de que o PSD não tem, dentro do próprio partido, quadros capazes de protagonizar esses desafios?
Tem, tem variadíssimos quadros capazes para esse desafio. A verdade é que ou não avançaram, ou não estavam disponíveis, porque são pessoas que já têm as suas ocupações profissionais. De qualquer maneira, a escolha de Sebastião Bugalho parece-me que é mais do que satisfatória. É uma aposta interessante, embora arriscada. É uma lista que faz frente, sem nenhuma dificuldade, quer nos debates eleitorais, quer em qualquer outra ocasião, a qualquer dos outros.
Para além de Sebastião Bugalho, a lista tem vários autarcas e ex-autarcas. Isso é sinal de que há uma desgraduação das listas às europeias?
Não, não sou capaz de responder de uma forma muito rigorosa a essa pergunta, porque, para ser franco, como estou afastado da vida política ativa, não conheço muitos dos candidatos nos lugares subsequentes. Mas estou convencido de que aqueles que conheço são valores acrescentados na lista e ainda por cima com valências diversificadas, que é o que importa no Parlamento Europeu. Se é que o Parlamento Europeu importa para muita coisa, mas enfim, isso é outra conversa…
Ainda sobre a escolha de Sebastião Bugalho, é arriscada por ser fora dos partidos, pelo pensamento europeu dele, que não se sabe qual é? Qual é a sua perspetiva?
É arriscado no sentido em que ele é independente. Eu não tenho nada contra os independentes, pelo contrário, acho que só vêm enriquecer as nossas listas, quando têm qualidade, como é manifestamente o caso de Sebastião Bugalho. Mas é arriscada porque era muito mais cómodo para o partido ter alguém intimamente ligado às opções programáticas do partido e à liderança de Luís Montenegro. Bom, mas eu acho que essa aposta, apesar de tudo, e no Parlamento Europeu, não preclude essa vantagem que teria um candidato mais ligado ao partido.
Mas pode ter um risco maior do ponto de vista do resultado eleitoral, por exemplo?
Não, do resultado eleitoral não, pelo contrário. Eu acho que ele pode ter um resultado surpreendente. Surpreendentemente alto, que combate, nomeadamente, o voto útil, que não vai existir. Existiu bastante nas eleições legislativas, como sempre acontece, mas é muito residual nas eleições para o Parlamento Europeu, e ele aí, na campanha eleitoral, pode ter um resultado espetacular, na minha opinião. Tem uma capacidade de intervenção e de diálogo e de afirmação política muito superior a qualquer dos outros adversários, embora haja adversários, desta vez, tirando o adversário do Chega, que me parece muito fraquinho, há uma melhoria qualitativa da generalidade dos candidatos adversários. Seja como for, na minha opinião, ele está muitos furos acima. E se esta campanha for muito determinada, muito realizada à base dos debates, como foi na campanha legislativa, ele aí pode dar dez a zero. Desculpe o exagero, o plebeísmo, pode dar dez a zero a qualquer dos outros candidatos.
Estas Europeias serão um momento que pode ser definidor para a longevidade deste Governo?
Era importante que este Governo contasse com um resultado positivo, muito positivo, aliás, que ganhasse as eleições para o Parlamento Europeu. Não será fácil, fundamentalmente pela razão que referi anteriormente, ou seja, não há o voto útil que normalmente beneficia o PSD, mas em contrapartida temos um candidato que pode majorar muito a inclinação do voto na lista do PSD. Embora seja sempre uma incógnita, dada a enorme dimensão habitual do abstencionismo.
“Intervenção de Marcelo foi um disparate completo”
António Capucho, esteve na direção do PSD com o Marcelo Rebelo de Sousa, foi depois Conselheiro de Estado. Como é que reage a estas declarações do Presidente sobre Luís Montenegro e António Costa?
Tenho enorme dificuldade em falar nisso, porque sou amigo de longa data de Marcelo Rebelo de Sousa, mas não posso deixar de dizer que foram deploráveis as declarações dele, seja a caracterizar o líder do PSD, e primeiro-ministro, e António Costa, quer sobre a história das reparações aos PALOP. Achei completamente disparatadas, inoportunas e lamentáveis.
Essas declarações sobre as reparações foram uma traição, como diz a direita?
Não, mas evidentemente que ele deu o corpo às balas, ou seja, ele proporcionou combustível aos três partidos, à nossa direita, para o atacarem em plena Assembleia da República, com o pretexto da traição à pátria – que evidentemente é um exagero acho que foi um disparate completo, mas não é uma traição à pátria. Mas é verdade que quer o Chega, quer a Iniciativa Liberal, quer o CDS, esfregaram as mãos de contentes para, numa celebração do 25 de Abril que devia ser tudo menos um ataque violento ao Presidente da República, devia ser a comemoração da liberdade, fosse prejudicada por essas três intervenções. E a culpa é exclusivamente do próprio Presidente da República, porque se pôs a jeito.
Já com estes acontecimentos dos últimos dias em conta, que avaliação é que faz dos mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa?
Acho que tem um mandato igualmente positivo, designadamente as sondagens mostram isso, ou mostraram isso até há pouco tempo, pela forma popular como tinha contacto com as pessoas, a forma descontraída como convivia com o público, e a forma como interveio, de uma forma moderada. Isso veio a ser completamente estragado nos últimos tempos, pela forma como, de uma maneira extremamente intensa, cada vez que vinha um microfone tinha que falar sobre tudo e sobre nada, nomeadamente sobre competências que não são dele, que são do Governo. E aí estragou muito a sua imagem, como aliás as sondagens vieram a demonstrar.
E a questão do caso das gémeas e do filho pode também manchar aqui esta reta final?
Já manchou, como é óbvio, por muita transferência de culpas que já passaram para o filho, não há dúvida nenhuma que as coisas não correram bem, e em termos de imagem, ele é tido, na opinião pública, como corresponsável por uma situação que é extremamente desagradável, que tem a ver com as gémeas. É muito estranha a forma como anuncia publicamente o corte de relações com o filho, a confirmar-se que foi assim que se passou. Não me parece que tenha sido muito abonatório para um pai, mesmo que esteja chateado com o filho na forma como atuou, basta vir pedir desculpa, qualquer coisa. Tudo menos afirmar publicamente o corte de relações com o filho único que tem. Além de uma rapariga.
Ainda no que toca a Marcelo, acha sensato ter um Presidente da República a referir-se a um plano “maquiavélico” da Procuradora-Geral da República? Teme que esteja aqui a existir uma interferência da política na Justiça?
Bom, estou como Presidente da Assembleia da República. Apesar de todos os sinais em contrário, estou tentado a acreditar que essa interferência não existe. Apesar de tudo, apesar das coincidências entre a forma como algumas iniciativas do Ministério Público atuaram no momento em que se estava a desencadear um processo político importante, por exemplo, nas eleições na Madeira, mas enfim… Eu acho é que se o Presidente da República acha isso, tinha que ir mais longe, tinha que bater o pé, tinha que fazer uma declaração ao país. Não podia ficar com uma declaração avulsa a atirar para o ar essa boca. Não me parece que seja correto e, portanto, estou como Presidente da Assembleia da República. Era importantíssimo que uma falha grave da senhora Procuradora-geral, que é a falta de informação e de esclarecimento ao público a propósito de todas estas questões, ela possa vir a prestar essas declarações na Assembleia da República.
“Pedro Nuno fez aquelas declarações patéticas a propósito do 25 de Abril”
Disse que se algum partido chumbar o próximo Orçamento do Estado será responsabilizado nas urnas. Luís Montenegro ainda pode conseguir uma maioria absoluta?
É impossível fazer essa previsão a esta distância. A esta distância porque não sabemos o que é que vai acontecer nos próximos dias. Dependerá da forma como resolver o problema do IRS, como é que vão resultar as negociações com os professores, com as forças policiais, etc. Tudo isso é determinante para saber se ele consegue cumprir minimamente, apesar de ter um governo minoritário, as promessas eleitorais. Se não conseguir cumprir é porque obviamente a oposição não deixa.
Não pode ser porque prometeu demasiado na campanha, como a oposição tem dito?
Acredito que seja essa a crítica da oposição, mas também quero acreditar que se fez as promessas eleitorais é porque tem cenários macroeconómicos e perspetivas de crescimento que lhe permitem avançar com essas promessas. E são promessas que ele vai ter que cumprir, que deveria cumprir a relativamente curto prazo. O IRS está a ser discutido na Assembleia, os acordos com os professores, com as forças policiais, militares, etc., já se iniciaram e portanto ele vai ter que tentar cumprir. Se depois não conseguir por força, por obstrução da oposição, a oposição é a responsável. Isso é evidente. E essa é a postura que têm visto na oposição. É impossível prever qual vai ser o desfecho da evolução política nos próximos tempos imediatos. Pode correr bem, pode não correr bem. Se não correr bem e houver, a partir de setembro, dissolução da Assembleia por responsabilidade das oposições, Luís Montenegro pode captar a simpatia do eleitorado, tal como, em circunstâncias diferentes, Cavaco Silva.
Defende entendimentos ao centro. Vê algum dos líderes do PS e do PSD disponíveis para isso ou já estão ambos em modo pré-campanha eleitoral?
A eleição do doutor Pedro Nuno Santos não facilitou as coisas.
Teria sido mais fácil com outro líder do PS?
Claro que era. Claro que era. Ainda ontem Pedro Nuno fez aquelas declarações patéticas a propósito do 25 de Abril, em que estava a gente da esquerda, da direita, do centro, de cima e de baixo, e que aquilo mostrava claramente que o povo queria um governo de esquerda, depois da esquerda ter sido largamente derrotada nas eleições que tiveram lugar há poucos dias.
Acha que o PS está mais radicalizado com Pedro Nuno Santos?
Claro que está. Aliás, mais radicalizado e com menos capacidade política. A intervenção dele na Assembleia da República ontem [na sessão do 25 de Abril] foi mais do que fraca.
“Leonor Beleza seria a primeira Presidente mulher. Era ótimo”
António Capucho pedia-lhe também um comentário às declarações de Pedro Passos Coelho, que acabaram por marcar a agenda política e mediática. Foi uma deslealdade do antigo primeiro-ministro à nova direção do PSD e a Luís Montenegro?
Acho que foram completamente despropositadas. Mas eu sou suspeito. Como sabem, entrei em rutura com Pedro Passos Coelho, em desacordo com as políticas que ele desenvolveu. Agora, a única coisa que se pode dizer é que foram completamente inoportunas nesta fase. Tem todo o direito de manifestar as suas impressões. Agora, também tem o dever de saber, no tempo, quando é que essas declarações, quando é que essas considerações podem ferir os interesses do PSD.
Mas, pelo que lê e pelo que ouve, acredita que Pedro Passos Coelho tem um plano, uma ambição de voltar à liderança do PSD? Ou estará a ensaiar uma candidatura presidencial? O que é que lhe parece?
As duas coisas são possíveis. As duas coisas são possíveis. Evidentemente há quem pense que ele está à espera que o Governo atual caia, e que com isso caia também o atual primeiro-ministro. Que pode aparecer no PSD como salvador da pátria, como D. Sebastião, que pode finalmente fazer um acordo com o Chega – e eu estou visceralmente contra isso. Por outro lado, não há dúvida nenhuma que ele tem características, e nisso tenho que o elogiar, para se candidatar à Presidência da República. À direita, não há muito mais gente aparentemente disponível, embora haja outros, ou outras, que pudessem configurar uma candidatura mais próxima do PSD e do centro da social-democracia.
Em quem é que está a pensar? Quando diz “outras” está a pensar em alguém? Tem alguém em mente?
Não sei se ela não vai ficar ofendida comigo, até porque estou convencido que ela não aceitará, mas referia-me a Leonor Beleza, por exemplo. Seria a primeira Presidente mulher. Era ótimo.
Mas ainda sobre Pedro Passos Coelho. Disse que é visceralmente contra qualquer acordo entre o PSD e o Chega. Mas a verdade é que há 50 deputados à direita do PSD que funcionam como bloqueio ao atual Governo. Como é que se resolve essa questão?
Como sabe, sou um dos poucos militantes do partido que sempre defendeu uma aproximação entre o PS e o PSD, não necessariamente em termos de bloco central, mas em termos de acordos de natureza parlamentar. Estou convencido que este país não vai a lado nenhum, enquanto não se reformar a Justiça, por exemplo. E essas reformas só são possíveis, não à direita, mas ao centro, entre o PS e o PSD. Mas fico muito, muito preocupado com a subida do Chega, que em grande parte é devida à posição do centro e da esquerda e do Presidente da República. Ainda agora se viu, a propósito dessas últimas declarações do seu Presidente da República, que o Chega aproveitou para marcar mais uns pontos.
“Nunca, jamais, em tempo algum. Não é não. Chega nunca”
Vamos avançar para o segundo bloco desta nossa entrevista, o bloco “Carne ou Peixe”. Só pode escolher uma de duas opções. Preferia ter uma partida de ténis contra Pedro Passos Coelho ou contra Pedro Santana Lopes?
Contra o Pedro Santana Lopes.
Com quem é que preferia fazer uma prova de vela? António Costa ou Luís Montenegro?
Luís Montenegro.
E com quem preferia ir às Festas do Mar em Cascais? Carlos Carreiras ou Miguel Pinto Luz
Vou sozinho.
Preferia fazer parte de um governo do Bloco Central em que o primeiro-ministro fosse Pedro Nuno Santos ou fazer parte de um governo liderado por Pedro Passos Coelho?
Depende. Se o PSD fosse maioritário, por quem o PSD indicasse. Se o PS fosse maioritário, por quem o PS indicasse.
Então vamos complicar o jogo. Preferia fazer parte de um governo do Bloco Central em que Pedro Nuno Santos fosse o primeiro-ministro ou fazer parte de um governo liderado por Pedro Passos Coelho mas com uma aliança com Chega?
Nunca, jamais, em tempo algum. Não é não. Chega nunca.