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As crescentes dificuldades de locomoção aumentaram os rumores sobre a renúncia, mas Francisco diz que governa com a cabeça, não com os joelhos

Grzegorz Galazka/Archivio Grzegorz Galazka/Mondadori Portfolio via Getty Images

As crescentes dificuldades de locomoção aumentaram os rumores sobre a renúncia, mas Francisco diz que governa com a cabeça, não com os joelhos

Grzegorz Galazka/Archivio Grzegorz Galazka/Mondadori Portfolio via Getty Images

Depois de Bento XVI, Francisco também vai renunciar? Tentativas de eleger Papa mais conservador e abertura da Igreja podem adiar saída

A morte de Bento XVI fez aumentar a especulação sobre uma eventual renúncia do Papa Francisco. Mas o atual rumo do pontificado leva a crer que o argentino vai ficar no cargo até ao início de 2026.

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Quando, no dia 18 de dezembro do ano passado, o jornal espanhol ABC divulgou uma longa entrevista com o Papa Francisco, o título aparentemente bombástico do artigo terá apanhado poucos de surpresa nos meios eclesiásticos. “Já assinei a minha renúncia em caso de impedimento médico”, lia-se na citação do Papa colocada na grande manchete do diário espanhol daquele dia.

Mais concretamente, perante uma “pergunta delicada” do jornalista sobre se não seria “conveniente” a criação de uma regulamentação própria para o caso em que um Papa fica impedido de exercer as suas funções devido a problemas de saúde ou acidentes, o Papa Francisco foi perentório: “Eu já assinei a minha renúncia. Era [o cardeal] Tarcisio Bertone o secretário de Estado. Assinei-a e disse-lhe: ‘Em caso de impedimento por questões médicas ou seja o que for, aqui está a minha renúncia. Já a têm.’ Não sei a quem a terá dado o cardeal Bertone, mas dei-lha quando era secretário de Estado.”

Apesar dos muitos sinais que Francisco foi deixando ao longo dos últimos anos apontando para uma forte possibilidade de o seu pontificado acabar por renúncia e não pela sua morte, aquela era a primeira vez que o Papa argentino assumia frontalmente que tinha essa carta preparada. “É a primeira vez que o digo”, afirmou o Papa Francisco perante os repórteres espanhóis, que até tiveram de lhe perguntar: “Quer que se saiba?”

"Eu já assinei a minha renúncia. Era [o cardeal] Tarcisio Bertone o secretário de Estado. Assinei-a e disse-lhe: ‘Em caso de impedimento por questões médicas ou seja o que for, aqui está a minha renúncia. Já a têm.’ Não sei a quem a terá dado o cardeal Bertone, mas dei-lha quando era secretário de Estado."
Papa Francisco, em entrevista ao jornal ABC

A resposta do Papa, entre risos: “Por isso mesmo o digo. Agora, alguém vai pedir a Bertone: ‘Dê-me o papelinho!’”

Se é verdade que, praticamente desde o início do pontificado, o Papa Francisco já tinha várias vezes dado a entender que um dia seguiria o exemplo do seu antecessor, é igualmente sabido que nunca o faria enquanto Bento XVI fosse vivo. “Ele nunca equacionaria renunciar enquanto não sepultar Bento XVI”, dizia em 2021, numa entrevista ao Observador, o biógrafo do Papa Francisco, o inglês Austen Ivereigh.

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A existência de um Papa emérito a viver como monge nos jardins do Vaticano já era suficientemente complexa, devido ao facto de muitos na ala mais conservadora da Igreja continuarem a gravitar em torno de Bento XVI e a considerá-lo tão ou mais Papa que Francisco, pelos riscos de interferência de Ratzinger no pontificado do sucessor (que se traduziram em meia dúzia de polémicas públicas) e até pela tensa relação entre os dois papas, recentemente exposta em livro pelo antigo secretário particular de Bento XVI. Por isso, Francisco não permitiria que no Vaticano convivessem três papas — um em funções e dois eméritos.

Por razões semelhantes, durante os últimos dez anos, o Papa Francisco absteve-se de avançar com qualquer tipo de regulamentação sobre o cargo de “Papa emérito”. Com efeito, não havia propriamente um precedente histórico para a situação de Bento XVI (as abdicações anteriores tinham mais de 600 anos e não resultaram na convivência pacífica entre dois pontífices, bem pelo contrário), pelo que o Vaticano teve de navegar à vista e de improvisar bastante para encontrar um lugar para Bento XVI.

Inicialmente, especulou-se que o antigo Papa voltasse ao seu estatuto de cardeal, à sua batina preta e até talvez à sua residência na Alemanha. Mas a opção escolhida foi a de permanecer “Papa emérito”, ainda de batina branca, mas já sem uma série de outros elementos de vestuário que significavam o poder e a jurisdição do Papa, e a de ficar a viver em recolhimento nos jardins do Vaticano.

Se o Papa Francisco tivesse decidido regulamentar o estatuto do Papa emérito enquanto Bento XVI fosse vivo, corria o risco de qualquer decisão que tomasse ser vista como um ataque direto ao antecessor ou como uma forma de o colocar no seu lugar. “Seria mal interpretado”, diz ao Observador o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa. Todos os ecos que foram chegando do Vaticano ao longo dos últimos dez anos apontavam num mesmo sentido: quando Bento XVI morresse, Francisco ganharia uma nova liberdade para legislar sobre o estatuto do Papa emérito e para, ele próprio, renunciar ao cargo.

A morte de Bento XVI, a 31 de dezembro de 2022, abriu ambas as portas. Porém, o Papa Francisco vê-se agora num momento decisivo para a Igreja Católica: nos bastidores do Vaticano, especula-se sobre o risco de os cardeais conservadores se organizarem para forçar a saída de Francisco e para elegerem um Papa mais conservador como sucessor do argentino (e o antigo secretário particular de Bento XVI, Georg Gänswein, poderá revelar-se como uma figura central nestes esforços); por outro lado, o Papa Francisco tem em curso um inovador processo sinodal destinado a transformar por dentro o modo como a Igreja toma decisões, tornando-a numa organização mais democrática e dando voz a todos os fiéis e não apenas ao clero.

O Papa Francisco presidiu ao funeral do Papa emérito Bento XVI — e a morte do antecessor abriu a porta à especulação sobre a sua renúncia

dpa/picture alliance via Getty I

A sessão de abertura deste sínodo está agendada para outubro deste ano e a de encerramento para outubro de 2024 — mas, como disse ao Observador uma fonte diretamente envolvida nos trabalhos do Sínodo no Vaticano, é praticamente certo que um Papa de tendência mais conservadora colocará fortes resistências ao andamento do sínodo na direção pretendida pelo Papa Francisco. Por isso, a expectativa é de que o Papa argentino aguente no cargo pelo menos até concluir este processo.

Perante este cenário, como perspetivar os próximos meses do pontificado de Francisco, um homem de 86 anos com fragilidades físicas cada vez mais evidentes — mas que já afirmou, preto no branco, que “se governa com a cabeça, não com os joelhos”?

Em declarações ao Observador a partir de Roma, o vaticanista John Allen Jr., editor do jornal Crux e um dos maiores especialistas em política do Vaticano, alertou que “com o Papa Francisco nunca devemos usar a palavra ‘nunca’”. “Ele é o Papa das surpresas. Quando achamos que o conseguimos compreender, ele engana-nos”, diz o editor e autor de vários livros sobre os três últimos pontificados.

Ainda assim, Allen tem na cabeça os sinais de uma cronologia fundamental para analisar os próximos tempos do Papa Francisco: o estado da saúde física de Bergoglio na sequência das viagens a África (final de janeiro) e Portugal (agosto), a sua vontade de levar até ao fim o processo sinodal em curso (entre outubro de 2023 e outubro de 2024) e a sua intenção de presidir ao Jubileu de 2025 (que termina em janeiro de 2026). Tendo em conta estes marcos temporais, e excluindo a possibilidade de algum problema de saúde grave surgir pelo meio, Allen acredita que Francisco se manterá no cargo até “ao início de 2026”. Já quanto à questão do lugar que ocupará depois de uma eventual renúncia, há mais certezas: Francisco não pretende copiar Bento XVI, usando o título de “Papa emérito”, nem quer possibilitar equívocos sobre o seu real poder como pontífice reformado ao manter-se vestido de branco no interior do Vaticano.

Francisco quer ser bispo emérito e voltar a vestir-se de preto

Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013. Quando entrou na Praça de São Pedro a bordo do papamóvel, o Papa Bento XVI sabia que aquela seria a sua última audiência geral das quartas-feiras. Na intervenção que fez perante uma praça cheia de fiéis, falou sobre a questão que por aqueles dias mais inquietava os teólogos católicos: o que seria de Bento XVI quando a sua abdicação entrasse em vigor? Continuaria a ser Papa, seria o Papa emérito ou voltaria a ser cardeal? Perdia o título e a jurisdição ou apenas a jurisdição? Mas seria possível perder uma jurisdição tão particular como a do Papa, associada à eleição e detida pelo eleito até à morte?

Todas estas questões dariam pano para mangas em teses de doutoramento em Direito Canónico onde não faltariam expressões latinas como munus, ministerium ou officium — termos distintos, mas interconectados, que densificam as funções, os cargos, os direitos e a natureza dos titulares dos cargos eclesiásticos. Ainda hoje há grandes dúvidas entre os teólogos sobre qual a melhor solução para lidar com a abdicação de um Papa. Percebendo-o, Bento XVI fez questão de abordar, na sua última audiência geral, aquilo que antevia vir a ser a sua vida dali em diante.

“Quem assume o ministério petrino deixa sempre de ter privacidade. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja. A sua vida é, por assim dizer, totalmente despida da sua dimensão privada. Pude experienciar, e estou a experienciá-lo agora mesmo, que recebemos a vida precisamente quando a damos”, disse Bento XVI. “Este ‘sempre’ também é um ‘para sempre’. Não há um regresso à vida privada. A minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga isto. Não vou voltar a uma vida privada, a uma vida de viagens, de encontros, de receções e de conferências. Não abandono a cruz, mas permaneço com o Senhor Crucificado de uma nova forma. Deixo de carregar comigo o poder de governo da Igreja, mas no serviço da oração, continuo, por assim dizer, no recinto de São Pedro.”

A solução encontrada para Bento XVI foi, desde o início, compreendida como uma solução temporária, destinada exclusivamente ao alemão. Com a porta da renúncia aberta a futuros pontífices, tornou-se rapidamente claro que seria necessário, em algum momento, criar legislação interna na Igreja Católica para formalizar o lugar de um Papa que abdica — tal como já existem várias disposições legais sobre os bispos eméritos e os cardeais que deixam as funções.

Mas era igualmente claro que qualquer tentativa de o fazer enquanto Bento XVI fosse vivo seria mal interpretada, sobretudo pelos setores mais conservadores da Igreja Católica. Ao Observador, o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, defende que Francisco estava de mãos atadas até à morte de Bento XVI, porque qualquer decisão que tomasse “pareceria um ataque” direto a Ratzinger e poderia ser vista como uma forma de mostrar que era ele, e já não Bento XVI, quem mandava na Igreja. “Agora, o Papa Francisco estará em condições para o fazer, até para se autodefinir”, acrescenta o sacerdote, olhando para a possibilidade de Francisco vir a renunciar num futuro próximo.

Na verdade, o Papa Francisco até já tinha começado a deixar algumas pistas sobre aquilo que pretende fazer quanto a uma eventual regulamentação do lugar de um Papa que abdica — e, nessas pistas, fica bem claro que a sua ideia não é exatamente aquela que foi aplicada com Bento XVI.

Numa entrevista dada em julho de 2022 ao canal mexicano Televisa, o Papa Francisco falou abertamente da sua eventual renúncia, em termos concretos. Questionado sobre como deverá ser regulamentado o lugar de um Papa que renuncia ao cargo, Francisco salientou que “a própria história vai ajudar a regulamentar melhor” e assumiu que “a primeira experiência correu muito bem”, uma vez que Bento XVI era “um homem santo e discreto”. Contudo, acrescentou, “será melhor definir as coisas ou explicá-las melhor” no futuro.

E foi nesse momento da entrevista que Francisco deixou escapar aquela que seria a sua visão para o seu próprio futuro. “Eu sou o bispo de Roma. Nesse caso [de renunciar], seria o bispo emérito de Roma”, afirmou Francisco, explicando que provavelmente ficaria a residir nas instalações da basílica de São João de Latrão, a sede da diocese de Roma, e continuaria o seu “apostolado”, visitando os doentes e ouvindo confissões.

Para quem quis ouvir, as palavras de Francisco foram muito claras. Ao contrário do seu antecessor, não usaria o título de Papa emérito, mas o de bispo emérito de Roma. “E isto não quer dizer continuar vestido de branco e dentro do Vaticano”, analisa o padre José Manuel Pereira de Almeida. Renunciar ao título de Papa emérito, às vestes brancas e até à residência no interior do Vaticano significa não deixar margem para que o seu sucessor tivesse de conviver com outro Papa durante o exercício das suas funções, como aconteceu com Bento XVI e Francisco, com resultados muitas vezes controversos — uma decisão que Francisco nunca poderia ter tomado durante a vida de Bento XVI sem ser interpretado como uma tentativa de reduzir a relevância de Ratzinger.

"Eu sou o bispo de Roma. Nesse caso [de renunciar], seria o bispo emérito de Roma."
Papa Francisco, em entrevista à Televisa

Mas é preciso ter igualmente em conta que qualquer decisão de Francisco sobre o lugar de um Papa que renunciou ao cargo “só o iria vincular a ele próprio”, como adverte ao Observador o vaticanista John Allen Jr.

No entender de Allen, o Papa não pode publicar legislação que limite o espectro de ação de um Papa futuro. O vaticanista aponta para o que o próprio Código de Direito Canónico diz sobre o lugar do Papa, que “goza na Igreja de poder ordinário, supremo, pleno, imediato e universal, que pode exercer sempre livremente”. Ou seja, o Papa “pode fazer aquilo que quiser” — e o sucessor de Francisco poderá decidir de outra maneira sobre a sua própria vida após a abdicação. “O melhor que o Papa Francisco pode fazer é um documento a dizer: ‘Se eu renunciar, isto é o que eu vou fazer’”, explica Allen.

Na semana passada, durante a apresentação de um livro justamente dedicado à reflexão teológica acerca da renúncia de um Papa, dois importantes cardeais da Cúria Romana mostraram-se favoráveis à posição do Papa Francisco de abandonar as vestes brancas, o título de Papa e todos os sinais que possam conduzir à ideia de que alguém que abandona o trono petrino continua a gozar de algum tipo de autoridade que se sobrepõe à do Papa reinante.

“Só pode haver um Papa”, afirmou explicitamente o cardeal alemão Gerhard Müller, antigo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e proeminente figura da ala mais conservadora da Igreja. E, acrescentou ainda Müller, isto tem de se refletir não apenas nos símbolos primordiais do papado, como o anel do pescador com o brasão pontifício (o de Bento XVI foi destruído depois da renúncia), mas também nos chamados “símbolos secundários”, como as vestes brancas e o próprio título de “Papa” que é dado ao bispo de Roma. Para Müller, a necessidade de ser “inequívoco” quanto a isto é especialmente importante “na nossa era mediática”.

“O título de ‘Papa emérito’ é algo que não posso aceitar”, acrescentou ainda Müller.

Outro cardeal presente na apresentação, o jesuíta italiano Gianfranco Ghirlanda, muito próximo do Papa Francisco, concordou com Müller e destacou que a renúncia de um Papa não pode, de maneira alguma, criar na opinião pública a ideia de uma “primazia dividida” entre dois Papas. O título de “Sua Santidade” e as vestes brancas devem ser abandonadas, defendeu Ghirlanda.

“Encontrará muitos canonistas com opiniões diferentes”, explica John Allen Jr., sublinhando que tem havido um intenso debate sobre os fundamentos de uma renúncia papal, tema sobre o qual ainda não tinha havido possibilidade de um debate académico aprofundado. Ainda assim, para Allen, a discussão poderá ser inútil para muitos fiéis.

epa10314151 A handout photo made available by the Vatican Media shows Pope Francis during a special audience with members of Doctors with Africa CUAMM at the Vatican, 19 November 2022.  EPA/Vatican Media / HANDOUT  HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

O Papa Francisco já tem precisado de usar cadeira de rodas para várias deslocações no Vaticano

Vatican Media / HANDOUT/EPA

“Nos Estados Unidos, se George W. Bush entrar agora numa sala, toda a gente lhe vai chamar ‘Senhor Presidente’, mas ninguém vai achar que ele ainda manda no país”, exemplifica o vaticanista. “Há muitas pessoas que não acham isto um problema muito grande.”

De qualquer modo, continua John Allen Jr., as eventuais regulamentações de Francisco sobre a renúncia papal não deverão ser conhecidas no curto prazo. “Eu ficaria surpreendido se o Papa Francisco fizesse agora um conjunto de regras”, diz o vaticanista. “Pareceria falta de respeito fazê-lo cinco minutos depois de Bento XVI morrer”, acrescenta, salientando que talvez dentro de um ano o Papa Francisco o possa fazer. Até porque, acrescenta, desengane-se quem acha que, agora que Bento XVI morreu, Francisco não fica muito tempo no cargo. Tanto John Allen Jr. como o padre José Manuel Pereira de Almeida convergem numa coisa: salvo problemas de saúde graves, a aposta mais provável é a de que Francisco continue no cargo por mais três anos, até ao início de 2026.

Sínodo e Jubileu deverão manter Francisco no Vaticano até 2026

Para compreender este horizonte temporal é vital ter em mente uma palavra-chave, bem conhecida nos meios eclesiásticos, mas potencialmente estranha para quem anda fora deles: o Sínodo.

O Sínodo dos Bispos é um organismo da Igreja Católica que ganhou existência formal na década de 1960, com o Concílio Vaticano II, e que, na prática, é a tradução moderna dos antigos concílios e assembleias de bispos. O Direito Canónico define o Sínodo dos Bispos como “a assembleia dos Bispos escolhidos das diversas regiões do mundo, que em tempos estabelecidos se reúnem para fomentarem o estreitamento da união entre o Romano Pontífice e os Bispos, para prestarem a ajuda ao mesmo Romano Pontífice com os seus conselhos em ordem a preservar e consolidar a incolumidade e o incremento da fé e dos costumes, a observância da disciplina eclesiástica, e bem assim ponderar as questões atinentes à acção da Igreja no mundo”.

Habitualmente, o Sínodo dos Bispos reúne-se a cada três ou quatro anos, subordinado a diferentes assuntos: nos últimos tempos, já houve sínodos sobre a família, a juventude, a evangelização, a Igreja na Amazónia e vários outros tópicos.

"Estou convencido de que a Jornada Mundial da Juventude não é um marco no seu pontificado, mas o sínodo é. Para mim, ser ele a abrir o sínodo é óbvio, e acho que encerrar o sínodo também."
Padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa

Mas, em outubro de 2021, o Papa Francisco lançou uma proposta que obrigou a Igreja Católica a olhar para si própria: a ideia de realizar um sínodo sobre a sinodalidade. Trata-se de um conceito ainda largamente misterioso, que a própria Igreja tem vindo a descobrir nos últimos tempos e que procura traduzir o modo ideal de a Igreja Católica avançar: num caminho conjunto, em que todos têm algo a dizer. Numa época especialmente marcada pela crise dos abusos de menores, que o Papa Francisco tem atribuído insistentemente ao problema do clericalismo — ou seja, à forma como na Igreja o clero se transformou numa elite que gravita em torno do poder e da autoridade —, o Papa Francisco trouxe a sinodalidade para o centro do debate na Igreja, com o objetivo de promover uma instituição menos dependente do clero e mais participada por todos os seus membros.

Este sínodo será diferente: em vez de se resumir a uma reunião magna de bispos no Vaticano, o Papa lançou uma proposta de caminho sinodal em várias fases, a começar nas paróquias e a terminar no Vaticano. Quando, em outubro de 2023, os delegados do Sínodo se reunirem em Roma, já terão em mãos uma série de documentos preparados com a participação dos fiéis católicos de todo o mundo — o documento português, por exemplo, fala de uma Igreja “demasiado hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente, estagnada, resistente à mudança”. E, como tem promovido insistentemente o Papa Francisco, quando a última sessão for encerrada, em outubro de 2024, o resultado mais importante do sínodo não será o documento final, mas as lições aprendidas com o processo atualmente em curso.

O sínodo sobre a sinodalidade é um dos projetos em que o Papa Francisco está pessoalmente mais empenhado — e é também uma das principais marcas da sua luta por uma Igreja menos clericalista, que agrada pouco aos setores mais conservadores da instituição.

Por isso mesmo, o Papa Francisco estará pessoalmente comprometido com o sucesso da iniciativa e não pretenderá deixar nas mãos de um sucessor a conclusão do sínodo. “Parece-me que o Papa Francisco investiu tanto, pessoalmente e institucionalmente, no processo sinodal, que quer vê-lo até à conclusão”, diz John Allen Jr. Sobretudo se for tida em conta a possibilidade de o Papa Francisco ser sucedido por um Papa mais conservador.

“Não é certo que o próximo Papa vá ser mais conservador. Neste momento, dois terços dos cardeais foram nomeados pelo Papa Francisco”, assume John Allen Jr. Ainda assim, para o vaticanista, há um ponto óbvio: “Se o próximo Papa for mais conservador, o sínodo sobre a sinodalidade ia ser diferente e não teria os resultados que o Papa Francisco quer. Isso é, provavelmente, um incentivo para o Papa se manter cá até 2024.”

O padre José Manuel Pereira de Almeida é da mesma opinião. “Estou convencido de que a Jornada Mundial da Juventude não é um marco no seu pontificado, mas o sínodo é. Para mim, ser ele a abrir o sínodo é óbvio, e acho que encerrar o sínodo também”, diz o sacerdote, sublinhando que Francisco quer “institucionalizar” a ideia de que “a sinodalidade é a maneira de a Igreja viver no terceiro milénio”.

Concordando que um Papa mais conservador poderia pôr em causa os resultados deste sínodo, o sacerdote português acrescenta que “quanto mais tempo o Papa Francisco aguentar, mais cardeais ele pode fazer”. Efetivamente, durante o ano de 2023 há cerca de uma dezena de cardeais a completar 80 anos de idade, o que os tira de um próximo conclave e obriga o Papa Francisco a nomear novos elementos para o colégio cardinalício — um colégio crescentemente alinhado com as ideias do Papa argentino.

"Parece-me que o Papa Francisco investiu tanto, pessoalmente e institucionalmente, no processo sinodal, que quer vê-lo até à conclusão."
John Allen Jr., vaticanista e editor do jornal Crux

Se Francisco chegar a outubro de 2024 como Papa, “depois é só um par de meses até ao Jubileu”, nota John Allen Jr.

Em 2025, como acontece habitualmente a cada 25 anos, a Igreja vai viver um ano de Jubileu, ou Ano Santo — um ano de especial celebração e de perdão dos pecados —, e o Papa Francisco já manifestou intenção de ser ele o pontífice a presidir às celebrações. Na semana passada, Francisco reuniu-se durante uma hora com o presidente da câmara de Roma, Roberto Gualtieri, para discutirem os planos da cidade para os eventos do Jubileu de 2025. As celebrações do Jubileu deverão durar entre o Natal de 2024 e a Epifania de 2026 — o que significa que, se Francisco quiser presidir aos principais momentos do Jubileu, será Papa pelo menos até ao início de 2026.

Até lá, para compreender o rumo da ação do Papa Francisco, será necessário estar atento a alguns sinais — a começar pelas duas viagens apostólicas que o Papa tem agendadas para os próximos meses.

A primeira está marcada já para o final de janeiro. Francisco vai visitar a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro. Trata-se de uma viagem fundamental para o Papa Francisco, que ao longo do seu pontificado marcado pelo encontro das periferias tem optado por realizar viagens fora dos destinos habituais dos Papas e procurado chegar a lugares onde não era comum encontrar um pontífice, apesar da existência de grandes comunidades católicas. A ida do Papa àqueles dois países africanos estava inicialmente marcada para o verão de 2022, mas teve de ser adiada pelo Vaticano devido ao agravamento dos problemas de joelhos do Papa Francisco. Entretanto, o risco de violência armada na região leste da República Democrática do Congo obrigou o Vaticano a alterar os planos da viagem e a evitar aquela zona do país.

A segunda deslocação do Papa Francisco ao estrangeiro ocorrerá em agosto a propósito da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. O Papa Francisco deverá estar na capital portuguesa nos primeiros dias de agosto para o encontro mundial de jovens católicos, no qual são esperados mais de um milhão de participantes.

Jornada Mundial da Juventude. Dentro da máquina que está a preparar um dos maiores eventos de sempre em Portugal

No entender de John Allen Jr., “as viagens a África e a Portugal são importantes no que toca à forma física” do Papa Francisco. “Quando voltar, vai precisar de tempo para recuperar? Vai cancelar compromissos?” Para o vaticanista, é importante estar atento ao que vai acontecer nos dias que se vão seguir àquelas duas viagens particularmente exigentes do ponto de vista físico. Se o Papa precisar de um grande esforço para recuperar, isso poderá indicar uma redução da agenda de Francisco no futuro e até um acelerar do caminho rumo à renúncia.

Outro aspeto a ter em conta é o andamento dos trabalhos do sínodo. “Quanto é que ele fala dele? Faz visitas aos escritórios ou recebe visitas dos responsáveis? Continua a nomear oficiais? Fala dos documentos?”, questiona o vaticanista. “O sínodo é o motor neste momento. Quanto mais envolvido no sínodo estiver o Papa Francisco, menos provável é que ele venha a renunciar.” O que é certo, porém, para Francisco, é que com Bento XVI a renúncia papal deixou de ser uma possibilidade remota e tornou-se num cenário real ao dispor de todos os chefes da Igreja daqui em diante — incluindo para ele próprio.

Para Francisco, Bento XVI abriu uma porta que já não se vai fechar

Muitos anos antes da entrevista ao ABC em que admitiu ter a carta de resignação preparada, o Papa Francisco começou a dar sinais de que o seu pontificado poderia não se prolongar até à morte — e de que a renúncia ao cargo era uma hipótese bem real que estaria sempre em cima da mesa.

Em maio de 2014, quando era Papa havia cerca de um ano, Francisco já falava abertamente sobre o assunto. Durante uma conferência de imprensa a bordo do avião que o transportou para Roma no final de uma viagem à Terra Santa, foi questionado por um jornalista sobre se admitiria seguir os passos de Bento XVI e renunciar ao papado caso um dia não se sentisse em condições para continuar. Na resposta, Francisco revelou a sua linha de pensamento sobre o assunto.

“Vou fazer o que o Senhor me disser para fazer. Rezar, procurar a vontade de Deus. Mas acredito que Bento XVI não seja um caso único. Aconteceu que ele não tinha a força e, honestamente — ele é um homem de fé, muito humilde —, ele tomou esta decisão”, disse Francisco, sublinhando que, com a sua atitude, o Papa Ratzinger tinha criado “uma instituição”.

“Há 70 anos, quase não havia bispos eméritos. Agora, há imensos. O que vai acontecer com o Papa emérito? Penso que temos de olhar para ele como uma instituição. Ele abriu uma porta, a porta dos Papas eméritos. Vai haver mais ou não?”, perguntou Francisco. “Só Deus sabe. Mas a porta está aberta: acredito que um bispo de Roma, um Papa que sente que a força lhe está a falhar — porque, agora, vivemos muito tempo — tem de se perguntar a si mesmo as perguntas que o Papa Bento XVI se perguntou.”

"Há 70 anos, quase não havia bispos eméritos. Agora, há imensos. O que vai acontecer com o Papa emérito? Penso que temos de olhar para ele como uma instituição. Ele abriu uma porta, a porta dos Papas eméritos."
Papa Francisco, em conferência de imprensa

Três meses depois, em agosto de 2014, numa nova conferência de imprensa a bordo do avião papal, o Papa Francisco foi novamente questionado sobre a relação com o antecessor, Bento XVI, e voltou a falar sobre o seu pensamento acerca de uma possível renúncia, repetindo grande parte do que dissera antes.

“Temos uma relação normal, porque, regresso a esta ideia, da qual talvez alguns teólogos não gostem, e eu não sou um teólogo: penso que o Papa emérito não é uma exceção, mas ao fim de muitos séculos este é o primeiro emérito. Pensemos, como ele disse: ‘Envelheci, não tenho força.’ Foi um belo gesto de nobreza e também de humildade e coragem”, afirmou Francisco, a bordo do avião que o trouxe da Coreia do Sul.

“Penso: há 70 anos, até os bispos eméritos eram uma exceção, não existiam. Hoje os bispos eméritos são uma instituição. Acho que o ‘Papa emérito’ já é uma instituição. Porquê? Porque a nossa vida prolonga-se e, numa certa idade, não há capacidade para governar bem, porque o corpo fica cansado, talvez a saúde seja boa, mas não há capacidade para carregar todos os problemas de um governo como o da Igreja”, acrescentou. “Creio que o Papa Bento XVI fez este gesto que, de facto, institui os Papas eméritos. Repito: talvez algum teólogo me diga que isso não é correto, mas eu acho que sim. Os tempos dirão se é assim ou não, veremos. Poderão dizer-me: ‘E se você, um dia, não se sentir capaz de seguir em frente?’ Farei o mesmo, farei o mesmo! Rezarei muito, mas faria o mesmo. Ele abriu uma porta que é institucional, não é excecional.”

No ano seguinte, numa entrevista à estação mexicana Televisa, a possível renúncia de Francisco voltou a ser tema. Questionado sobre as várias vezes que já tinha dito que o seu pontificado seria “breve”, Francisco assumiu: “Tenho a sensação de que o meu pontificado vai ser breve. Quatro ou cinco anos. Não sei, ou dois ou três. Bem, dois já passaram. É como uma sensação um pouco vaga.” Novamente questionado sobre se ponderaria renunciar ao pontificado, o Papa argentino voltou ao seu argumento favorito: “Creio que o que o Papa Bento XVI fez foi abrir uma porta. Há 70 anos, não havia bispos eméritos e hoje temos 1.400.”

“Creio que o que fez Bento XVI, como muita valentia, foi abrir a porta dos Papas eméritos. Não há que considerar Bento XVI como uma exceção, mas sim uma instituição”, afirmou Francisco. A jornalista devolveu com uma nova pergunta: se a comparação é com os bispos eméritos, será de considerar uma idade limite, como acontece nesse caso? “Não me agrada muito colocar uma idade [limite]”, respondeu Francisco, salientando que o melhor método é o de seguir o exemplo de Bento XVI e renunciar quando sentir que chegou o momento.

Enquanto Bento XVI esteve no recolhimento do mosteiro como Papa emérito, Francisco visitou-o várias vezes e garantiu-lhe um lugar nas celebrações e no protocolo

via REUTERS

Devido a este tipo de declarações, todas elas com grande eco na imprensa internacional, passou a pairar permanentemente sobre o Papa Francisco a ideia de uma renúncia futura. Tanto assim foi que, em maio de 2016, durante um encontro com jovens no Vaticano, a primeira questão que surgiu no período em que o Papa se disponibilizou a responder às perguntas dos jovens foi: “Alguma vez, desde que foi eleito Papa, pensou em deixar de sê-lo porque há demasiada responsabilidade?”

“Não me ocorreu deixar de sê-lo pela responsabilidade e até vos faço uma confidência: nem me tinha ocorrido que me iam eleger a mim. Foi uma surpresa para mim”, respondeu o Papa Francisco. “Mas, desde esse momento, Deus deu-me uma paz que dura até ao dia de hoje. E isso mantém-se. Essa é a graça que recebi. Por outro lado, sou por natureza inconsciente, pelo que vou seguindo em frente.”

Francisco deixava claro que não seria o excesso de responsabilidade a motivar uma eventual renúncia. O Papa argentino, que já chegou ao trono de São Pedro com alguns problemas de saúde (incluindo uma doença respiratória que, na juventude, o tinha levado a ser operado e a retirar parte de um pulmão), mais facilmente sairia do cargo por questões de saúde física do que pelo peso das funções. Antes, numa entrevista a um jornal argentino, já se tinha assumido como “cobarde perante a dor física” — e os anos seguintes viriam a mostrar um Papa muito fragilizado, a precisar de se deslocar em cadeira de rodas em alguns momentos.

Ao fim de cinco anos de pontificado, em maio de 2018, Bergoglio voltaria a colocar em cima da mesa o tema da sua possível renúncia.

Durante a homilia da sua celebração matinal na residência de Santa Marta, onde vive, Francisco refletiu sobre a passagem das escrituras em que São Paulo abandona Éfeso para seguir para Jerusalém e faz um paralelismo com a capacidade dos bispos para compreender quando chegou o seu momento de ir embora. “É um movimento decisivo, um movimento que alcança o coração, e é também um movimento que nos mostra o caminho para cada bispo quando chega o momento de deixar o cargo”, afirmou o Papa, numa homilia dirigida a um conjunto de bispos. “O grande amor de Paulo é Jesus Cristo. E o seu segundo amor é o seu rebanho. Tomem conta uns dos outros e do rebanho inteiro. Mantenham-se atentos ao rebanho: são bispos de um rebanho para cuidar dele e não para avançar na vossa carreira eclesiástica.”

E acrescentou ainda: “Quando leio isto, penso em mim próprio, porque eu sou um bispo e terei de sair e afastar-me.”

No verão de 2021, depois de o Papa Francisco ter sido submetido a uma cirurgia aos intestinos, começou a circular na imprensa italiana o rumor de que era desta que o pontífice ia renunciar. O Papa procurou desfazer os rumores numa entrevista à rádio espanhola Cope. “A mim nem me passou pela cabeça”, disse o Papa. “Não sei de onde tiraram [a informação de] que ia apresentar a minha renúncia.” Aliás, o Papa revelou que só foi informado daqueles rumores vários dias depois da sua publicação, porque só costuma ler um jornal italiano todos os dias e não vê televisão. “Sempre que um Papa está doente, corre uma brisa ou um furacão de conclave”, ironizou.

"Penso que na minha idade e com estas limitações, tenho de poupar (energia) e ser capaz de servir a Igreja, ou caso contrário pensar na possibilidade de me afastar."
Papa Francisco, em conferência de imprensa

Mais recentemente, durante uma viagem ao Canadá, o Papa Francisco voltou a deixar em aberto a possibilidade de vir um dia a renunciar. Classificando a viagem como “um teste”, Francisco assegurou que “a porta está aberta” e que “não é estranho” que um Papa possa sair. “Não é uma catástrofe. É possível mudar o Papa”, disse. “Penso que, na minha idade e com estas limitações, tenho de poupar (energia) e ser capaz de servir a Igreja, ou caso contrário pensar na possibilidade de me afastar.”

Mas os sinais deixados por Francisco foram muito além das palavras em entrevistas e conferências de imprensa: os gestos foram igualmente determinantes. Por exemplo, em agosto do ano passado, numa altura em que as crescentes fragilidades de saúde já faziam aumentar a especulação sobre uma possível renúncia, o Papa Francisco foi à cidade italiana de L’Aquila e visitou o lugar onde está sepultado o Papa Celestino V, que renunciou ao cargo no século XIII e é apontado habitualmente como o principal precedente histórico de uma abdicação voluntária de um Papa. Essa visita teve um grande simbolismo, não só pelo óbvio paralelismo estabelecido entre Celestino V e Francisco, mas também porque o Papa Bento XVI tinha visitado aquele local alguns anos antes de renunciar — e tinha ali deixado o seu pálio, faixa de tecido usada ao pescoço que simboliza o poder e a jurisdição do Papa.

O facto de o Papa Francisco ter publicado em 2022 a constituição apostólica Praedicate Evangelium, documento que colocou em vigor a reforma da Cúria Romana, também fez aumentar a convicção de que a renúncia do Papa estaria mais próxima. A reforma da Cúria, tornando-a mais transparente e menos dependente do clero, era a grande bandeira do pontificado de Francisco e a sua conclusão trouxe ao Vaticano um sentimento de missão cumprida — que consolidou a ideia de que, agora, o Papa estaria livre para renunciar.

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