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O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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Dentro dos escritórios instalados na antiga Manutenção Militar, em Lisboa, uma centena de pessoas trabalham todos os dias para preparar a JMJ

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Dentro dos escritórios instalados na antiga Manutenção Militar, em Lisboa, uma centena de pessoas trabalham todos os dias para preparar a JMJ

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Jornada Mundial da Juventude. Dentro da máquina que está a preparar um dos maiores eventos de sempre em Portugal

A Jornada Mundial da Juventude trará a Portugal mais de um milhão de jovens para um encontro com o Papa. Será um dos maiores eventos de sempre no país. Fomos conhecer a estrutura que o está a montar.

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À exceção de duas carrinhas com o logótipo do evento e de duas bandeiras de sentinela à velha porta, quando transpomos os enormes portões de ferro verdes do número 84 da Rua do Grilo, no bairro do Beato, em Lisboa, entramos num lugar amplo e imponente, mas aparentemente abandonado. Contudo, a pacatez dos antigos edifícios industriais contrasta com o trabalho intenso que ali é feito diariamente por uma centena de pessoas para preparar um dos mais complexos eventos da história recente do país: a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, agendada para o verão de 2023.

O complexo industrial pertence à antiga Manutenção Militar, histórica instituição criada no final do século XIX para assegurar as necessidades logísticas da tropa portuguesa — no seu auge, incluiu uma enorme panificadora, uma torrefação de café, um matadouro, uma refinaria de açúcar, uma serração, uma lavandaria, uma tipografia, uma cantina, gabinetes médicos e todo o tipo de estruturas necessárias para garantir o abastecimento dos militares portugueses. O encerramento gradual destas unidades resultou, na última década, num gigante complexo industrial fantasma, cujos edifícios têm vindo a ser adaptados e convertidos não só em espaços de restauração, mas principalmente em sedes de jovens empresas e de indústrias criativas. Em maio deste ano, nos antigos escritórios do complexo, foi inaugurada a sede da organização da JMJ 2023, o grande encontro dos jovens católicos com o Papa, que acontece em Lisboa em agosto do próximo ano e no qual são esperados mais de um milhão de jovens de todo o mundo.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Dentro dos antigos edifícios da Manutenção Militar foi instalada a sede da organização da JMJ 2023

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A nove meses do acontecimento — que o secretário-executivo da organização, Duarte Ricciardi, descreve como “um dos maiores eventos de sempre em Portugal” —, a preparação avança a todo o vapor. Desde que, no final de outubro, o Papa Francisco abriu oficialmente o período de inscrições, mais de 200 mil jovens de todo o mundo já abriram o processo. Distribuídos por vários escritórios em open space nos dois pisos do antigo edifício militar, cerca de uma centena de pessoas trabalham diariamente a tempo inteiro para fazer tudo isto acontecer: da gestão dos processos de inscrição à logística do evento, passando pela produção dos conteúdos teológicos e pastorais, pela gestão das redes sociais e pelo trabalho com dezenas de empresas e entidades parceiras.

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Papa Francisco abriu inscrições para a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa

A este intenso trabalho de secretária soma-se também o trabalho no terreno, que decorre a cerca de 10 quilómetros dali, no enorme Parque Tejo, uma área com quase 100 hectares, distribuídos entre os concelhos de Lisboa e Loures, que vai acolher o ponto alto da JMJ: a vigília final e a missa com o Papa Francisco, onde poderão reunir-se mais de um milhão de pessoas. A obra, orçamentada em cerca de sete milhões de euros, vai transformar uma área abandonada num grande parque verde que deverá perdurar muito além de agosto de 2023 — e requalificar toda a frente ribeirinha daquela parte da cidade, a norte da Ponte Vasco da Gama.

Esta semana, quando o Observador visitou o terreno na companhia do secretário-executivo da JMJ, já estava a ser desmantelada a plataforma montada no lugar onde se vai erguer o grande palco a partir do qual o Papa Francisco vai presidir à missa final do evento. A plataforma, que serviu para consolidar o terreno, vai agora dar lugar a uma obra arquitetónica que ainda não foi revelada — mas cuja base terá 12 metros de altura e cuja cobertura poderá chegar aos 30 metros. No terreno, que está atualmente sob jurisdição da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), empresa municipal de Lisboa responsável pela obra, garante-se que o andamento dos trabalhos corre como previsto e tudo deverá estar concluído em abril, no prazo definido.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

No enorme terreno desocupado do Parque Tejo as obras decorrem a bom ritmo — e o local onde se vai erguer o palco da missa final já está pronto

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Mas a JMJ 2023 não tem sido imune a polémicas, sobretudo no que diz respeito ao orçamento milionário do evento. No final do verão, estalou a tensão entre a câmara de Lisboa e o Governo sobre quem pagaria o quê, depois de o executivo liderado por Carlos Moedas (PSD) ter sublinhado a indisponibilidade financeira para cumprir todos os compromissos assumidos no mandato de Fernando Medina (PS), quando a preparação do evento começou. A estabilidade foi alcançada ainda em agosto, com um novo acordo — mas o que é certo é que o evento deverá custar mais de 70 milhões de euros.

Adicionalmente, a JMJ 2023 deverá acontecer poucos meses depois de a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa publicar o seu relatório final. O conteúdo desse relatório ainda é uma incógnita, mas os dados preliminares já apontam para mais de 400 testemunhos e para o envolvimento de vários bispos portugueses no encobrimento de situações de abuso. Duarte Ricciardi garante que a organização não tem medo de que o relatório ensombre o evento: pelo contrário, se for essa a vontade dos jovens, a crise dos abusos poderá ser um dos temas da JMJ, que será “um excelente exemplo de sinodalidade”, onde as perspetivas e as opiniões dos jovens católicos sobre a realidade da Igreja vão ter protagonismo.

Profissionais emprestados, voluntários e uma estrutura empresarial: a máquina por trás da JMJ

É preciso recuar até à edição anterior da Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em janeiro de 2019 no Panamá, para conhecer a origem do evento que Portugal se prepara para acolher no próximo verão. Em dezembro de 2018, já tinha começado a circular a notícia de que a edição de 2022 (seria a pandemia a obrigar ao adiamento de um ano) poderia acontecer em Lisboa, mas só no início de janeiro de 2019, antes da partida da delegação de bispos portugueses para o Panamá, é que a Conferência Episcopal Portuguesa confirmou oficialmente que o Patriarcado de Lisboa tinha apresentado uma candidatura para receber o maior evento mundial da Igreja Católica — frequentemente batizado como o “Woodstock católico”.

Na missa final da JMJ 2019, com Marcelo Rebelo de Sousa e Fernando Medina (então presidente da câmara de Lisboa) na audiência, chegou o anúncio formal do Vaticano: a próxima edição seria em Portugal, concretamente em Lisboa, com a organização a caber ao Patriarcado de Lisboa. A reação do Presidente da República virou meme nas redes sociais — “Conseguimos, Portugal, Lisboa. Esperávamos, desejávamos, conseguimos. Vitória!” — e, logo no próprio dia do anúncio, o autarca da capital portuguesa garantia que seriam feitos os “investimentos necessários” para receber o evento, já que Lisboa tinha “uma história grande na realização de eventos, mas nenhum com esta dimensão”.

A história da JMJ remonta a 1984, ano em que o Papa João Paulo II organizou um encontro de jovens em Roma, por ocasião do Domingo de Ramos. A participação nesse evento superou largamente as expectativas: apareceram 250 mil jovens de todo o mundo, quando as previsões apontavam para cerca de 60 mil participantes. O sucesso do encontro levou o Papa polaco a repeti-lo no ano seguinte, de modo mais estruturado, com pequenos eventos de oração e catequese por toda a cidade de Roma, terminando com a missa na Praça de São Pedro com 300 mil jovens.

Pope John Paul II Reading During Mass

A Jornada Mundial da Juventude foi uma ideia do Papa João Paulo II, fotografado nesta imagem na edição de 1993, em Denver

Corbis via Getty Images

A partir daquelas duas primeiras experiências bem sucedidas, o Papa João Paulo II instituiu formalmente a Jornada Mundial da Juventude. Trata-se de um evento que decorre a duas velocidades: anualmente, continua a ser celebrado a nível local por altura do Domingo de Ramos, data original; a cada dois ou três anos, toma a forma de um grande evento mundial, numa cidade escolhida pelo Papa. Além de Roma, a JMJ já aconteceu em Buenos Aires, Santiago de Compostela, Czestochowa, Denver, Manila, Paris, Toronto, Colónia, Sydney, Madrid, Rio de Janeiro, Cracóvia e Cidade do Panamá. E foi sempre crescendo: nas últimas edições, já participaram milhões de jovens — e é também essa a perspetiva para a primeira edição da JMJ em Portugal, embora os organizadores não se comprometam com números.

A partir do anúncio feito no Panamá, foi preciso começar a dar corpo a uma máquina complexa que fosse capaz de colocar de pé um evento de dimensões inéditas em Portugal — mesmo numa comparação com a Expo 98 é preciso ter em conta que a JMJ deverá receber mais de um milhão de pessoas numa só semana, enquanto a Expo acolheu 11 milhões de visitantes ao longo de mais de quatro meses.

O primeiro passo foi dado pelo Vaticano, que, através do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, tutela a realização da JMJ. Depois do anúncio no Panamá, aquele organismo delegou formalmente no Patriarcado de Lisboa a missão de organizar a próxima edição da JMJ. Com esse mandato, e seguindo o exemplo das dioceses que acolheram anteriores edições, o Patriarcado de Lisboa criou o Comité Organizador Local (COL), responsável pela organização do evento — sempre em coordenação com o Vaticano, já que se trata de um encontro em que o anfitrião é o Papa. E, por fim, foi criada a Fundação JMJ, para dar um enquadramento legal ao COL — já que, como explica Duarte Ricciardi ao Observador, “há muitas coisas legais para assinar, contratos que têm de se fazer, e para isso tem de haver uma entidade”.

O COL é presidido, por inerência, pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, mas é o bispo auxiliar D. Américo Aguiar quem está a coordenar formalmente os trabalhos — e, no terreno, a responsabilidade operacional e executiva está nas mãos de Duarte Ricciardi.

O primeiro desafio foi, precisamente, o de montar uma equipa: a organização de um evento como a Jornada Mundial da Juventude exige um grande número de pessoas dedicadas ao evento a tempo inteiro durante pelo menos três anos, mas, pela própria natureza do evento, não é uma empresa onde se possam criar postos de trabalho permanentes. A solução passou pelo empréstimo de trabalhadores por parte de empresas que se quiseram associar à JMJ. Duarte Ricciardi é um deles. O gestor, de 37 anos, trabalha na Brisa, onde até 2020 era o responsável pelos novos negócios de mobilidade — mas está, desde há dois anos, cedido à organização da JMJ pela própria empresa.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Duarte Ricciardi, gestor de 37 anos, é o secretário-executivo da organização da JMJ de Lisboa

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“Foi o meu administrador na Brisa que me falou deste projeto, como um projeto que o próprio grupo via com muito entusiasmo”, explica Duarte Ricciardi ao Observador. “Já tinha uma relação com a Igreja como praticante, já fiz missões em África, já estive muito envolvido com a Igreja, mas nunca tinha trabalhado para a Igreja. Foi uma experiência nova.”

Uma parte significativa do núcleo duro da organização da JMJ foi constituída desta maneira, através da colaboração de um conjunto de empresas que quiseram associar-se ao evento. “A forma de essas empresas se associarem, ou uma das formas de se associarem, foi ceder uma pessoa durante algum tempo e continuar a pagar-lhe o salário. A maior parte continuou a pagar o salário por inteiro, houve uma ou outra que fez um sistema misto em que nós pagávamos uma parte e a empresa continuava a pagar outra”, diz o secretário-executivo.

Além destes trabalhadores a tempo inteiro, que ocupam maioritariamente cargos de chefia na estrutura empresarial da JMJ, há várias centenas de voluntários integrados nas equipas: alguns disponibilizam uma hora ou duas por semana para uma determinada função, outros são voluntários a tempo inteiro e há ainda um conjunto de “voluntários de longa duração”, que vêm de todo o mundo para ajudar na dimensão internacional do evento. Segundo Duarte Ricciardi, estão a trabalhar com o COL um total de 22 voluntários internacionais de longa duração, que recebem uma ajuda de custo e apoio no alojamento e ficam em Lisboa até agosto do próximo ano.

Esmeralda Sosa, de 25 anos, natural do Panamá, é uma delas. Encontramo-la sentada à secretária, no primeiro piso dos escritórios da Manutenção Militar, numa sala ocupada pelo departamento de comunicação da JMJ. É a responsável pelas redes sociais do evento em língua espanhola.

Formada em comunicação social, Esmeralda conta que estudou português do Brasil na universidade e que o contacto com a língua portuguesa a motivou a conhecer Portugal. “Tinha muito interesse em conhecer uma nova cultura, na Europa”, diz. Não é a primeira vez que a jovem panamense trabalha na organização de uma JMJ: Esmeralda foi voluntária na edição anterior, que ocorreu justamente no seu país, trabalhando no centro de atendimento criado para prestar apoio aos participantes. Quando, em 2021, se mudou para Portugal para estudar a língua e a cultura portuguesas, Esmeralda decidiu tornar-se voluntária de longa duração na JMJ de Lisboa.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Esmeralda Sosa, de 25 anos, no escritório onde trabalha o departamento de comunicação da JMJ 2023

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Durante estes meses, Esmeralda está a viver com uma família portuguesa de acolhimento, um processo que é facilitado pela organização da JMJ para os voluntários estrangeiros. “Sinto que são os meus pais portugueses, por assim dizer”, conta. Todos os dias, é ela quem gere as páginas de Facebook, Twitter e Instagram da JMJ em língua espanhola (que têm centenas de milhares de seguidores), produzindo e traduzindo conteúdos e respondendo às dezenas de dúvidas que chegam diariamente através das redes sociais da parte dos muitos jovens espanhóis e latino-americanos que pretendem participar no evento.

Sob a direção de Duarte Ricciardi, a organização da JMJ está dividida em sete departamentos concretos, todos instalados nos velhos escritórios da antiga Manutenção Militar: a logística (que está a acompanhar os trabalhos no terreno e a definir as localizações dos eventos que vão compor a semana da JMJ), a pastoral (que está a produzir os conteúdos teológicos dos eventos), a comunicação (que inclui a gestão das redes sociais, o marketing e a relação com a imprensa), o “Caminho 23” (responsável pela promoção da participação na JMJ nas universidades, grupos da Igreja, outros países, etc.), o acolhimento e voluntariado (para apoiar os voluntários e coordenar o processo de check-in e receção dos peregrinos), e ainda a direção financeira (que é responsável não apenas pela dimensão financeira do evento, mas também pelo estabelecimento de parcerias com empresas, grupos económicos e outras entidades que vão participar na organização do evento) e o secretariado. A estas sete direções juntam-se dois gabinetes operacionais — o gabinete de Diálogo e Proximidade e o gabinete do Diálogo Ecuménico e Inter-religioso.

Mas a estrutura do COL é apenas uma das peças da máquina, a que se junta o Grupo de Projeto criado pelo Governo e ainda as equipas operacionais das câmaras municipais de Lisboa e de Loures, que estão a repartir responsabilidades sobre a organização do evento. “Faltam nove meses e estamos ansiosos para que chegue o dia 1 de agosto”, diz Duarte Ricciardi, garantindo que o processo de preparação do evento está “a andar em linha com o plano”. Mas, nos próximos meses, tudo se vai intensificar: se, para já, o evento ainda está a ser preparado à secretária por uma centena de pessoas, em breve começará o complexo processo de recrutamento e formação dos cerca de 20 a 30 mil voluntários que vão garantir o funcionamento de todos os aspetos da JMJ.

O que vão fazer 1 milhão de jovens em Lisboa numa semana?

Embora as principais expectativas estejam concentradas no que vai acontecer no Parque Tejo nos dias 5 e 6 de agosto de 2023 — a grande vigília noturna e a missa com o Papa Francisco, onde são esperados mais de um milhão de jovens —, a JMJ vai ocupar toda a semana entre 1 e 6 de agosto com dezenas de eventos espalhados não só por toda a cidade de Lisboa, mas por todo o território das dioceses de Lisboa, Santarém e Setúbal.

Mas, de acordo com Duarte Ricciardi, a maioria do programa da JMJ ainda está em aberto, uma vez que o Vaticano ainda não começou a preparar o programa da visita do Papa Francisco a Portugal. Para já, há apenas um programa provisório que inclui os principais momentos da JMJ.

O programa provisório da JMJ para os dias 1 a 6 de agosto de 2023

No dia 1 de agosto, terça-feira, da parte da tarde, deverá acontecer a missa de abertura da JMJ. Esta primeira celebração não conta ainda com a presença do Papa Francisco e deverá ser presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, contando com a participação dos jovens participantes na JMJ — que, na semana anterior, estarão distribuídos por todo o país a participar em atividades locais nas várias dioceses portuguesas. O local deste primeiro grande evento de massas ainda não está fechado: embora a hipótese do Parque Eduardo VII tenha sido discutida nos debates preliminares entre a Igreja, o Governo e a câmara de Lisboa, ainda não há uma decisão final. Segundo Duarte Ricciardi, o único local que está confirmado é mesmo o Parque Tejo, para os dois dias finais. “Os outros sítios não precisarão de obras como esta, são sítios que à partida já têm capacidade para receber as pessoas”, explica o secretário-executivo, sublinhando que a decisão final depende do plano de mobilidade que está a ser preparado pelo Governo. É esse documento que vai servir para dar luz verde aos locais escolhidos, uma vez que é necessário garantir o funcionamento do fluxo de pessoas entre os alojamentos e os locais dos grandes eventos.

Esse lugar, que poderá ou não ser o Parque Eduardo VII, receberá ainda mais dois grandes eventos na semana da JMJ: a celebração de acolhimento do Papa (agendada para a noite de quinta-feira, dia 3 de agosto) e a Via-Sacra, também com a participação do Papa, na noite de sexta-feira, dia 4 de agosto.

O fim de semana de encerramento da JMJ, 5 e 6 de agosto, ficará marcado por uma grande peregrinação a pé desde o centro de Lisboa até ao Parque Tejo — um acontecimento que deverá parar uma grande parte da cidade de Lisboa, uma vez que tudo indica que perto de um milhão de jovens participem nesta longa caminhada até ao lugar da vigília com o Papa. No Parque Tejo, os participantes na JMJ vão ser distribuídos pelos vários setores e ali vão ficar cerca de 24 horas: na tarde/noite de sábado acontece a vigília com a presença do Papa, uma celebração que se prolonga por toda a noite. A ideia é, depois, que os jovens durmam ao relento, no Parque Tejo, e que já estejam a postos para a missa de encerramento da JMJ, no domingo de manhã.

O Parque Tejo, atualmente um enorme descampado com perto de 100 hectares, está a ser convertido num grande parque verde em ambas as margens do rio Trancão (que separa os concelhos de Lisboa e Loures), dividido em vários setores pelos quais os peregrinos vão ser distribuídos. Segundo Duarte Ricciardi, nos dias da JMJ o parque vai ter pontos de água, casas de banho, posto médico, antenas de reforço de rede telefónica e várias outras instalações para garantir as necessidades básicas dos muitos peregrinos que ali vão estar. E serão mesmo muitos: apesar de a organização da JMJ não se comprometer com números, basta olhar para as edições anteriores para perceber que o número deverá rondar um milhão de pessoas.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O Parque Tejo, atualmente uma vasta área completamente desocupada, dará lugar a um novo parque verde
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O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
A Ponte Vasco da Gama será o cenário onde o Papa Francisco vai presidir à missa final da JMJ
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O terreno, à beira Tejo e dos dois lados do rio Trancão, deverá ser suficiente para acolher mais de um milhão de jovens participantes
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O enorme terreno ficará dividido em vários setores e o Papa Francisco deverá percorrer a totalidade da área no papamóvel, antes da missa final
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O terreno também servirá para os jovens dormirem na última noite da JMJ, depois da vigília e antes da missa final
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A obra está sob jurisdição da empresa municipal SRU e deverá estar terminada em abril do próximo ano
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As obras estão orçamentadas em perto de 7 milhões de euros
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Duarte Ricciardi, o secretário-executivo da organização da JMJ 2023, na plataforma onde vai ser erguido o palco a partir do qual o Papa Francisco vai celebrar a missa final da JMJ
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Grande parte dos trabalhos passam pela consolidação dos terrenos
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Na edição de 2011, em Madrid, a missa final com o Papa Bento XVI teve a participação de 1,5 milhões de jovens; em 2013, na edição do Rio de Janeiro, a missa final na praia de Copacabana contou com 3 milhões de peregrinos; já na edição de 2016, em Cracóvia, foram 2,5 milhões os jovens que participaram na missa final. A edição portuguesa deverá assemelhar-se, em termos numéricos, à edição de Madrid, sendo esperados mais de um milhão de peregrinos — o que significará que a população de Lisboa poderá triplicar durante aqueles dias, lançando o caos na cidade.

“Todos os lisboetas vão estar mergulhados na JMJ”, acredita Duarte Ricciardi. Não só devido a estes grandes eventos de massas que vão pontuar a semana da JMJ, mas sobretudo devido aos outros eventos, mais pequenos, que vão acontecer por toda a região de Lisboa. “Vão ter pessoas no próprio prédio, jovens a dormir, ao lado vão ter uma catequese ou um palco do Festival da Juventude. Vai haver, por toda a cidade, coisas relacionadas com a JMJ e festa, muita festa. Quando há uma final da Liga dos Campeões e vemos os adeptos dos clubes que fazem muito barulho e festa, nem sempre positivamente. No nosso caso, o que vai acontecer é que as ruas vão estar cheias de jovens alegres, a cantar.”

Para os dias 2, 3 e 4 de agosto estão previstos uma série de eventos simultâneos que estarão à disposição dos jovens participantes no evento.

Um deles é o Festival da Juventude, um festival cultural e desportivo que vai passar por mais de trinta palcos instalados por toda a região de Lisboa. Segundo Duarte Ricciardi, o festival decorre durante os três dias centrais da JMJ e inclui “concertos, musicais, dança, teatros, exposições e torneios desportivos”, incluindo um torneio de futebol, um de vólei de praia e um de desporto adaptado. Estes eventos vão decorrer em múltiplos recintos, incluindo teatros, auditórios e palcos ao ar livre que serão instalados em diferentes lugares na cidade de Lisboa (um documento preparatório do Governo citado pelo Expresso falava em pontos como o Parque da Bela Vista, a Alameda D. Afonso Henriques e o Parque da Bela Vista como os principais palcos) e também nas cidades à volta, como Loures, Oeiras e Cascais.

O Festival da Juventude é já um clássico nas várias edições da JMJ, como explica Duarte Ricciardi. “Nós não contratamos ninguém para vir atuar no Festival da Juventude. São os próprios peregrinos que se inscrevem para vir atuar”, diz o responsável, sublinhando que o tipo de participantes no festival varia entre grandes grupos profissionais que já atuaram noutras edições da JMJ e pequenas bandas de garagem ou das paróquias. Com base nas inscrições, que já estão abertas em paralelo com as inscrições de peregrinos, a organização da JMJ vai desenhar um cartaz que será público e qualquer pessoa poderá assistir, gratuitamente, a qualquer um dos eventos.

Também durante os dias 2, 3 e 4 de agosto, o programa da JMJ incluirá as habituais catequeses, que têm feito parte das edições anteriores — mas os organizadores portugueses pretendem inovar neste aspeto. “O nome catequese, uma pessoa associa à catequese de domingo”, assume Duarte Ricciardi, explicando o formato habitual: “Tipicamente, são umas conferências com bispos. O bispo dá a conferência, acaba com a eucaristia e os jovens assistem.”

Parque Eduardo VII, Jardim Vasco da Gama e Parque da Bela Vista deverão fazer parte do conjunto de recintos ocupados por atividades da JMJ durante a semana de 1 a 6 de agosto de 2023

Inácio Rosa/LUSA

Desta vez, porém, o formato deverá ser diferente. “Queremos que os bispos continuem a participar, queremos que continue a haver missa, mas queremos que haja um bocadinho mais de interação dos jovens e uma preparação anterior à JMJ. Que os jovens se preparem. Ainda estamos a desenhar o formato como isto pode acontecer, mas a ideia é haver um processo mais sinodal, mais participativo”, diz Duarte Ricciardi. A inovação surge à boleia do processo sinodal atualmente em curso na Igreja Católica: o sínodo sobre a sinodalidade, convocado pelo Papa Francisco com o objetivo de auscultar os fiéis católicos de todo o mundo sobre aquilo que pensam acerca do estado atual da Igreja Católica, abandonando um excesso de foco no clero e dando o protagonismo aos fiéis.

Esta iniciativa, que para já dá pelo nome provisório “Rise Up”, decorrerá em simultâneo em dezenas de lugares diferentes nos territórios das dioceses de Lisboa, Setúbal e Santarém, em igrejas, auditórios e outros recintos. Irá haver catequeses em várias línguas e dedicadas a vários temas — incluindo a sustentabilidade, a inclusão, mas também poderá haver debates sobre temas quentes como a crise dos abusos de menores —, e, embora os jovens possam escolher quais as conferências a que pretendem assistir, a organização da JMJ vai encaminhar os participantes por línguas e geografias.

“Tentaremos orientar pelo plano de mobilidade e pelas línguas”, explica Duarte Ricciardi. “Imagine que vai haver um grupo grande de pessoas que falam espanhol alojados em Cascais e em Cascais vai haver também, no centro hípico, uma catequese em espanhol, com um bispo que fale espanhol. Esses jovens são convidados a participar aí. Não é obrigatório, as pessoas podem ir sem estar ali, mas a lógica é tentarmos orientar um bocadinho, para conseguirmos prever os fluxos de movimento.” Segundo Ricciardi, ainda é cedo para dizer quantos recintos vão ser usados, porque “poderá haver catequeses com mil pessoas e outras com 100 pessoas”, mas o número de locais andará seguramente na ordem das “dezenas”.

Estas iniciativas estão, neste momento, a ocupar uma grande parte dos dias de trabalho de duas equipas do COL: a logística e a pastoral. Um dos principais desafios passa por identificar os locais onde tudo isto poderá acontecer, uma vez que, entre os palcos do Festival da Juventude e os recintos das catequeses, poderão estar em causa mais de uma centena de recintos a acolher eventos em simultâneo na Grande Lisboa, entre auditórios universitários, teatros, salas de espetáculos, fundações, igrejas, salões paroquiais e palcos em praças da cidade.

“Começámos já há bastante tempo, através das paróquias destas três dioceses, a fazer um levantamento de espaços para alojamento e para catequeses. Cada paróquia é que faz no terreno. Imagine: o pároco de Cascais é que vai ver, em Cascais, que ginásios é que existem onde os peregrinos pudessem dormir, que auditórios é que existem onde pudesse haver catequeses, e vão registando na nossa base de dados. Nós temos já inscritos uma série de locais espalhados pelas três dioceses”, explica Duarte Ricciardi.

Por fim, o programa da JMJ inclui ainda a chamada “Cidade da Alegria”, uma zona que deverá ficar instalada no Jardim Vasco da Gama, em frente ao Centro Cultural de Belém, na zona ocidental da cidade de Lisboa. Nesta área vão estar situadas duas iniciativas clássicas das várias edições da JMJ: o “Parque do Perdão” (área onde estarão padres de todo o mundo disponíveis para ouvir confissões em diferentes línguas) e a “Feira Vocacional”, onde diferentes movimentos, congregações e grupos da Igreja poderão montar as suas bancas para mostrar o que fazem aos peregrinos.

A complicar as contas da organização está a falta de informação, neste momento, por parte do Vaticano. O programa provisório foi construído com base nos programas de outras edições da JMJ — mas ainda falta que o Vaticano confirme os planos do Papa Francisco para a viagem a Portugal. Nos últimos meses, a deterioração das condições de saúde do Papa tem obrigado a reduzir o número de viagens apostólicas e, como explicou ao Observador o secretário-executivo da JMJ, o Vaticano tem o hábito de se focar exclusivamente na próxima viagem do Papa: até agora, a Santa Sé esteve centrada na viagem do Papa ao Bahrein e até agosto terá, possivelmente, de trabalhar noutras viagens antes da visita a Portugal.

Isso significa que a própria organização local da JMJ ainda não sabe, com exatidão, qual o dia em que o Papa chegará a Portugal, qual o dia em que irá embora, quais os dias em que visitará Fátima e até quais as datas finais de algumas das celebrações que constarão do programa da JMJ. Embora vários cenários estejam a ser estudados, sobretudo nos contactos que a organização mantém com o Governo e com o Sistema de Segurança Interna (que está a preparar o dispositivo de segurança que vai garantir a proteção do Papa), ainda é cedo para conhecer o programa final.

JMJ custará muito dinheiro — mas ninguém vai pagar para ver o Papa

Apesar das muitas incertezas sobre o programa dos seis dias da Jornada Mundial da Juventude, há uma certeza inabalável: o evento vai custar muito dinheiro.

Aliás, foi precisamente devido ao orçamento milionário da JMJ que a tensão começou a surgir, no verão deste ano, entre a câmara de Lisboa e o Governo português. Desde o início do processo, em 2019, as responsabilidades financeiras sobre a organização da JMJ foram distribuídas entre três níveis de ação: por um lado, a Igreja Católica, enquanto promotora do evento; por outro lado, as câmaras de Loures e Lisboa, como principais beneficiárias do evento e das melhorias urbanísticas feitas a pretexto da JMJ; e, por fim, o próprio Governo português, devido ao impacto global do acontecimento.

As contas mais fáceis são as da Igreja. “Em relação às responsabilidades das outras entidades, não falo, porque acho que não me cabe a mim falar. O nosso orçamento em concreto, que tem sobretudo a ver com esse serviço ao peregrino e toda a parte religiosa dos eventos, é totalmente dependente do número de inscritos e dependendo do pacote. A alimentação, por exemplo, que é um dos nossos maiores custos, é 100% dependente do número de inscritos com alimentação”, explicou Duarte Ricciardi ao Observador.

A polémica em torno das inscrições estalou no final de outubro, quando o Correio da Manhã fez uma primeira página com letras garrafais afirmando que o “bilhete para ver o Papa custa 235 euros”. A notícia surgiu na sequência da apresentação, em Fátima, dos vários pacotes de inscrição na JMJ, que são facultativos e incluem alimentação, transportes, alojamentos, seguro e um kit de peregrino. A organização apressou-se a desmentir a notícia, assegurando que não só não existem “bilhetes” para a JMJ como todos os eventos da JMJ são gratuitos.

O que existe, contudo, é a possibilidade de os peregrinos se inscreverem formalmente como participantes na JMJ. Essa inscrição inclui o alojamento dos peregrinos (por norma, em acantonamento em ginásios, salões e outras instalações cedidas para o efeito), a alimentação durante os seis dias da JMJ (através de um sistema de vouchers válidos nos restaurantes de Lisboa), um seguro de acidentes pessoais, um passe válido para todos os transportes públicos da região de Lisboa e ainda um kit de peregrino com vários produtos.

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
A sede da JMJ 2023 foi instalada em edifícios da antiga Manutenção Militar, em Lisboa
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Várias equipas trabalham diariamente nas instalações
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
A organização está a preparar cenários para o evento que incluem a possibilidade de mais de um milhão de visitantes vindos de todo o mundo
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Perto de uma centena de pessoas trabalham todos os dias na sede da JMJ
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O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Os trabalhadores da JMJ estão divididos em sete direções e dois gabinetes consultivos
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Parte das pessoas estão emprestadas pelas empresas onde trabalham habitualmente
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“A JMJ é gratuita e todos os jovens, todas as pessoas, de qualquer idade, que queiram participar, podem fazê-lo sem ter de pagar nada à organização”, garantiu Duarte Ricciardi, explicando que a inscrição formal, além de ajudar com os custos do evento e permitir uma melhor perceção do número total de participantes, serve essencialmente para facilitar a vida aos jovens peregrinos. “Em vez de todos os dias terem que estar à procura de um restaurante para irem comer e estarem sujeitos aos preços do momento, compram o pacote de alimentação e têm acesso aos restaurantes que se associarem, durante aquela semana”, explicou o responsável. O mesmo com o alojamento: a organização garante alojamentos para os grupos de jovens a um preço muito abaixo dos preços de mercado, altamente inflacionados na região de Lisboa para aquelas semanas.

Precisamente no dia em que o Observador visitou a sede da JMJ e o terreno da missa final, estava a ser assinado um protocolo entre a Fundação JMJ e a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) com o objetivo de “identificar uma rede de restaurantes e similares para o fornecimento de refeições aos peregrinos”. Uma das possibilidades em estudo é a de dar aos peregrinos inscritos um conjunto de vouchers que lhes permite comer um “menu peregrino” nos restaurantes aderentes — sendo os restaurantes depois reembolsados pela JMJ em função do número de refeições servidas.

Segundo explicou Duarte Ricciardi, o orçamento do COL depende quase em exclusivo de donativos particulares e empresariais. De acordo com o mais recente relatório e contas da Fundação JMJ, referente ao ano 2021, a organização da JMJ recebeu nesse ano 349 mil euros em donativos; em 2020, tinha recebido 518 mil euros. As operações da fundação permitiram chegar ao fim do ano com um resultado positivo de 262 mil euros. Segundo a Agência Ecclesia, o mesmo documento previa, para 2022, um “incremento generalizado” das contas, devendo registar-se “rendimentos de 3 milhões de euros disponíveis para a concretização das atividades e gastos de 2,9 milhões de euros”.

Os grandes números estão, por isso, do lado do Estado português — quer no Governo, quer nas duas autarquias mais envolvidas no processo.

Em julho deste ano, a câmara de Lisboa procurou fazer uma revisão da distribuição de responsabilidades financeiras, com o atual presidente da câmara, Carlos Moedas, a discordar dos compromissos assumidos no mandato anterior, de Fernando Medina. “Era muito fácil dizer em 2019 que estávamos todos de acordo”, disse Moedas numa reunião pública de câmara em julho. “Mas agora chegamos à parte operacional, de quem põe as casas de banho, quem limpa o terreno, quem faz o quê. Estamos na fase de resolver esses problemas. Mas o Governo tem de ser parte da solução. A CML não é promotora do evento.”

Após um braço de ferro entre a câmara e o Governo, as duas entidades chegaram a acordo já em agosto deste ano e algumas das responsabilidades financeiras anteriormente assumidas pela autarquia passaram para o Governo.

Em outubro, o gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que tutela o envolvimento do Governo na JMJ, confirmou à Lusa um reforço de 20 milhões de euros nos gastos previstos na organização do evento. O Governo prevê, agora, investir um total de 36,5 milhões de euros na JMJ. Já a câmara de Lisboa confirmou este mês que prevê um investimento total de 29 milhões de euros no evento (um dos principais gastos é a obra do Parque Tejo, adjudicada por quase sete milhões de euros), ao passo que a câmara de Loures aprovou um investimento de cerca de nove milhões de euros.

Contas feitas, o custo total da JMJ poderá aproximar-se dos 80 milhões de euros — mas o Governo acredita que o esforço vai compensar. Em resposta aos deputados no Parlamento este mês, o coordenador do grupo de projeto do Governo, José Sá Fernandes, disse acreditar que o retorno económico andará em torno dos 350 milhões de euros, um valor semelhante ao que aconteceu na JMJ de Madrid.

Enquanto ainda reina a incerteza sobre o programa final da JMJ, o comité organizador desdobra-se em esforços para garantir que o evento tem a maior participação possível. Além dos cartazes, mupis, spots publicitários e outras campanhas feitas pelo departamento de comunicação, o gabinete “Caminho 23” — uma das sete direções que compõem a estrutura empresarial da organização da JMJ — quer garantir que não há “ninguém em Portugal que possa dizer que não foi convidado para a JMJ”.

Afonso Virtuoso, de 26 anos de idade, é o diretor do gabinete. Na sala ocupada pela sua equipa na antiga Manutenção Militar, o jovem explica ao Observador que as principais missões do gabinete incluem “intermediar a relação entre o peregrino e as instituições e a organização da JMJ” e assegurar o “cuidado de todos os voluntários que vão participar na Jornada”. “Temos muita gente, vão ser 20 a 30 mil, e este acompanhamento que é feito dos voluntários é fundamental para as pessoas, no caminho, na missão, não se perderem”, diz o jovem.

Mas a grande missão daquele departamento, assegura Afonso Virtuoso, é a de levar a mensagem da JMJ a todos os jovens, dentro e fora da Igreja.

“Isso é um trabalho de todos os dias, com as realidades que já existem”, explica o jovem, admitindo que “se houver uma pessoa em Portugal que não diga que foi convidada para a JMJ estamos a falhar”. Isto traduz-se num trabalho de proximidade “com as escolas, com as universidades, esse trabalho nas realidades onde todos os jovens estão, independentemente de terem fé ou não terem fé, serem católicos ou não”.

Entre os projetos lançados pelo gabinete “Caminho 23” inclui-se, por exemplo, a Missão Limpar Portugal, uma iniciativa de sustentabilidade que passou pela recolha de lixo em vários pontos do país, a que vai ser dado um significado teológico. “Um desafio que vai ser lançado aos grupos é com o lixo recolhido tentar fazer obras de arte relacionadas com o tema da JMJ.”

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Afonso Virtuoso, de 26 anos, no gabinete ocupado pelo departamento "Caminho 23" nas instalações da organização da JMJ

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Nos planos da equipa para os próximos meses está um projeto de contacto com as universidades e escolas, propondo aos jovens uma abordagem de fé a problemas e desafios das várias áreas de trabalho e de saber — e falando “desavergonhadamente de Jesus”. “Levantámos oito questões: por exemplo, um advogado pode defender criminosos? Se eu for desportista, posso ser competitivo e querer ganhar a toda a gente? Se eu sou político, faço cedências nas minhas convicções para ganhar votos? Queremos levantar estas várias problemáticas, que surgem nas áreas do saber, e perceber como é que a fé ilumina isto.” A proposta de dinâmica preparada pelo gabinete vai ser enviada às estruturas que já existem atualmente na Igreja Católica para acompanhamento da realidade das universidades — e poderá ser usada, sempre como ponto de contacto com a proposta da JMJ.

“Tem de ser uma coisa disruptiva, que no fundo é provocadora, é profundamente provocadora, e vamos ver se os jovens são chamados a isto”, resume Afonso Virtuoso. “Queremos chegar fora, mas não com um conteúdo vazio. Nós temos uma coisa para propor e ela é muito clara.”

Crise dos abusos pode manchar JMJ? “Não temos medo”

Quando o Papa Francisco aterrar em Portugal, em agosto de 2023, o país já conhecerá os resultados da investigação que está a ser conduzida pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o organismo liderado pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht que está a investigar a realidade dos abusos de menores na Igreja ao longo das últimas sete décadas.

O relatório final deverá ser tornado público em janeiro do próximo ano — mas, a julgar pelo último ponto de situação, os resultados vão provocar ondas de choque na Igreja Católica em Portugal. A comissão já recebeu mais de 400 testemunhos e já identificou indícios de encobrimento por parte de vários bispos portugueses, incluindo de bispos que ainda estão hoje no ativo. Se o relatório final revelar um escândalo de grandes dimensões na história recente da Igreja portuguesa, a JMJ corre o risco de ficar ensombrada pela polémica?

“Não temos medo do relatório”, responde Duarte Ricciardi. “Achamos que o relatório é necessário, não se pode estar a atrasar o relatório… Os timings são o que são.”

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"Não temos medo do relatório", garante Duarte Ricciardi, o secretário-executivo da JMJ

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Este relatório acho que é uma coisa muito necessária e muito boa para a Igreja. Acho que todos temos a ganhar com este relatório, a transparência é fundamental para todos. É fundamental para a Igreja, é como o Papa disse há pouco tempo. Nem é pelo número: um caso já é demais, já é uma coisa muito, muito má. Nós, como parte da Igreja, só temos a ganhar com a transparência, com isto ser bem analisado, e sobretudo com a tolerância zero e o que se vai fazer a partir daí. Portanto, a JMJ, tal como a Igreja, só tem a ganhar com isto. Esse é o nosso posicionamento”, garante o secretário-executivo da organização.

Duarte Ricciardi admite, até, que o tema dos abusos poderá ser um dos tópicos abordados durante a JMJ: “O objetivo da JMJ é exatamente falar no momento aos jovens. Tudo o que acontecer até à JMJ vai contribuir para as mensagens que vão ser faladas na JMJ, portanto, o que interessa na JMJ é que aquilo que for a atualidade, aquilo que preocupar os jovens, independentemente do que quer que seja, possa ser abordado, falado. Acho que se for esse o caso, até pode ser uma coisa, que sorte, que vem o Papa, para podermos falar sobre isto e podermos apaziguar os corações.”

Poderá a situação dos abusos ser um dos temas das catequeses da semana da JMJ? Duarte Ricciardi não se compromete, mas também não rejeita: “Não pensámos em nada em concreto. Não estamos a fazer um plano para o que sair do relatório. Ainda não definimos os temas das catequeses.”

Sustentabilidade e inclusão vão ser temas centrais

Numa das salas mais pequenas do escritório onde está a sede da JMJ, trabalha Carmo Diniz. Habitualmente, é a coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa, mas por estes meses está de serviço no COL como diretora do Gabinete de Diálogo e Proximidade — um dos dois gabinetes consultivos da organização da Jornada Mundial da Juventude. O gabinete liderado por Carmo Diniz tem duas grandes missões: garantir que a JMJ é realmente para todos e assegurar que o evento tem a menor pegada ecológica possível.

“Nós acompanhamos o trabalho das direções com a visão, a inspiração, das preocupações do Papa e dos grupos que o Papa refere nas encíclicas Fratelli Tutti e Laudato Si”, explica Carmo Diniz. “O Papa, nessas encíclicas, fala de muitos grupos, de muitas pessoas diferentes, nomeadamente das pessoas com deficiência, dos doentes, dos pobres, das mulheres, de tantas e tantas situações que preocupam e afligem o coração do Papa — e é com base nessas preocupações que nós vamos acompanhando o trabalho das outras direções.”

O Observador deslocou-se até ao local onde se vai realizar a Jornada Mundial da Juventude 2023, em LIsboa, que conta com a presença do Papa Francisco. Em entrevista, Duarte Ricciardi, secretário-executivo do Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2023. 28 de Novembro de 2022 Parque das Nações, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Carmo Diniz é a diretora do Gabinete de Diálogo e Proximidade da JMJ 2023

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“As direções olham para o grande grupo de pessoas, de peregrinos que vem, estão a pensar em jovens dos 14 aos 30, com alguma autonomia, que vêm a Lisboa para se encontrar com o Papa. E nós, acompanhando esses trabalhos, lembramos que também existem jovens doentes, também existem jovens com deficiência, também existem jovens noutras situações”, explica a responsável ao Observador.

Esta tarefa traduz-se em múltiplas frentes. Em primeiro lugar, de acordo com Carmo Diniz, é imprescindível garantir “que as pessoas com deficiência se sintam bem acolhidas desde já” e que “possam participar como voluntários, depois como peregrinos, ou em qualquer momento”. Para isto, a principal ferramenta será a comunicação inclusiva: não só os eventos terão interpretação em língua gestual portuguesa e internacional, como a maioria dos principais documentos terá versões em braille, em sistema pictográfico e em áudio.

Além da preocupação com a inclusão de pessoas com deficiência, a JMJ terá um foco especial nas questões da sustentabilidade, tema central da encíclica Laudato Si, do Papa Francisco. A grande inovação, segundo explica Carmo Diniz, é que a organização da JMJ vai medir ao detalhe a pegada ecológica do evento e apostar na formação dos voluntários para a preocupação ambiental em cada passo do acontecimento. Também está prevista uma plantação mundial de árvores antes da realização da JMJ.

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