Está prometido para os próximos dias um manifesto que procura defender Portugal de uma “espanholização” bancária. Após a absorção do Banif pelo Santander Totta, depois da compra da operação de retalho do Barclays pelo Bankinter e na sequência das negociações para o La Caixa dominar o Banco BPI, um grupo de cerca de 50 personalidades quer combater o desvio para Madrid dos centros de decisão do financiamento da economia portuguesa. Os pequenos clientes particulares também se devem opor à espanholização da banca?
O Observador analisou os preçários de uma dúzia de bancos a operar em Portugal para perceber se os clientes bancários têm vantagens em optar por bancos de capitais espanhóis em vez de portugueses. Metade deles não podem ser considerados estrangeiros: Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Crédito Agrícola, Millennium bcp, Montepio e Novo Banco. Os capitais de quatro têm origem, de facto, no país vizinho: Banco Popular, Bankinter, BBVA e Santander Totta. Apenas um banco é de capitais angolanos, o Banco BIC. O último elemento é alemão: o Deutsche Bank.
A análise resume-se a cinco áreas: depósitos a prazo mais generosos, créditos à habitação mais económicos, cartões de débito e crédito mais baratos e custos de manutenção das contas à ordem mais baixos.
Conclusão: os bancos de capitais portugueses tendem a ser mais económicos para os clientes particulares do que os bancos de origem espanhola. Apenas o Deutsche Bank fica em pior posição.
Depósitos a prazo: Angola paga mais
Embora as taxas de juro praticadas nos mais recentes depósitos a prazo estejam, em média, abaixo de 0,5%, este tipo de aplicação continua a ser um dos destinos mais populares de aforro. Os portugueses têm mais de 100 mil milhões de euros investidos em depósitos a prazo.
Os rendimentos pagos pelos bancos portugueses são ligeiramente superiores ao que os bancos espanhóis distribuem (0,31% vs 0,30% por ano, em média). No entanto, é um banco angolano que lidera nos juros disponíveis aos clientes bancários. O Banco BIC Português, que é irmão gémeo do Banco BIC angolano, oferece 0,8% no depósito BIC Mais com prazos entre 183 e 365 dias.
As instituições financeiras portugueses e espanholas tanto podem estar entre as mais generosas como entre as piores pagadoras. O Banco BPI, que está no centro da questão da espanholização da banca, não oferece juros nos depósitos a prazo dos seus clientes, nem mesmo quando são constituídos pela Internet, uma via que normalmente fornece taxas mais altas.
Banco | Taxa anual bruta máxima até 12 meses |
Banco BIC | 0,800% |
Montepio | 0,650% |
Novo Banco | 0,600% |
BBVA | 0,500% |
Banco Popular | 0,300% |
Millennium bcp | 0,250% |
Bankinter | 0,200% |
Caixa Geral de Depósitos | 0,200% |
Santander Totta | 0,200% |
Crédito Agrícola | 0,175% |
Deutsche Bank | 0,010% |
Banco BPI | 0,000% |
Fonte: bancos a 1 de abril de 2016. |
A generosidade da banca angolana não se extingue no Banco BIC. Dois pequenos bancos de capitais angolanos, o BNI Europa e o Atlântico Europa, são os melhores pagadores da banca nacional. O BNI Europa paga até 2% num depósito sem limite de subscrições, embora exija 10 mil euros. Com o mesmo mínimo, o Atlântico Europa dá uma taxa anual até 1,25%.
Crédito à habitação: portugueses mais económicos
As Euribor, as taxas de juro que servem de referência à maioria dos créditos, continuam a descer, aprofundando o seu valor negativo. Isso pode estar a afastar os bancos da concessão de financiamento para a compra de casa. O montante concedido para a aquisição de habitação continua a cair. As últimas estatísticas revelam 97,5 mil milhões de euros em saldo vivo. Mesmo assim é a maior fatia de financiamento a particulares.
Neste campo, os bancos nacionais são os mais vantajosos para os clientes bancários. A Caixa Geral de Depósitos lidera com a mais baixa taxa anual efetiva, que inclui não só a Euribor mas também a margem de lucro da instituição, as comissões bancárias e os seguros exigidos pelo empréstimo.
Em condições homogéneas, os bancos portugueses cobram, em média uma taxa anual efetiva de 2,84%, inferior aos 3,69% dos bancos espanhóis. Excluindo o alemão Deutsche Bank, o Santander Totta é o que mais exige aos clientes.
Banco | Indexante | Taxa anual efetiva |
Caixa Geral de Depósitos | Euribor 12 meses | 2,425% |
Crédito Agrícola | Euribor 12 meses | 2,500% |
Banco BPI | Euribor 12 meses | 2,541% |
Banco BIC | Euribor 6 meses | 2,696% |
Banco Popular | Euribor 12 meses | 2,748% |
Novo Banco | Euribor 12 meses | 2,998% |
BBVA | Euribor 3 meses | 3,014% |
Montepio | Euribor 12 meses | 3,254% |
Millennium bcp | Euribor 12 meses | 3,336% |
Bankinter | Euribor 12 meses | 4,160% |
Santander Totta | Euribor 12 meses | 4,852% |
Deutsche Bank | Euribor 12 meses | 5,363% |
Fonte: bancos a 1 de abril de 2016. |
O Banco BIC, cujos capitais têm origem angolana, posiciona-se entre os mais económicos no financiamento das casas dos clientes bancários portugueses.
Cartão de débito: nacionais custam menos
O cartão de débito, vulgo cartão Multibanco, é essencial para a maioria das famílias, porque permite o acesso direto à conta bancária através de milhares de caixas automáticos e terminais automáticos de venda. Nesta área, são os bancos portugueses que menos cobram, a começar pela Caixa Geral de Depósitos e pelo Montepio. O Banco BIC, de capitais angolanos, é o terceiro.
Banco | Cartão de débito mais barato | Anuidade |
Caixa Geral de Depósitos | Caixa Essencial | 7,70€ |
Montepio | Electron | 12,00€ |
Banco BIC | BIC Electron | 12,50€ |
BBVA | Agora BBVA | 12,50€ |
Crédito Agrícola | Visa Electron | 12,50€ |
Santander Totta | Novo Classic | 14,42€ |
Banco BPI | BPI Electron | 15,00€ |
Banco Popular | Visa Electron | 15,00€ |
Millennium bcp | Millennium bcp Electron, Millennium bcp Maestro | 15,00€ |
Novo Banco | NB Débito | 17,00€ |
Deutsche Bank | Electron | 25,00€ |
Fonte: bancos a 1 de abril de 2016. |
Os cartões de débito dos bancos de origem espanhola ficam, em média, 9,6% mais caros do que os portugueses, apesar de o Novo Banco ser o segundo mais caro. O cartão Electron fornecido aos clientes do alemão Deutsche Bank é o que exige mais despesa.
Cartão de crédito: prefira, de longe, portugueses
A maioria dos bancos de capitais nacionais tem pelo menos um cartão de crédito sem anuidade, ao contrário das instituições que vêm do país vizinho. Por isso, em média, os cartões de crédito contratados nos bancos portugueses custam um terço dos cartões de espanhóis. O angolano Banco BIC também tem um cartão isento de anuidade.
Banco | Cartão de crédito mais barato | Anuidade |
Banco BIC | BIC Soft | não tem |
Bankinter | Único Gold Premier, Único Gold Free for Life, Platinum | não tem |
Caixa Geral de Depósitos | Caixa In | não tem |
Crédito Agrícola | CA&companhia | não tem |
Millennium bcp | Blue da American Express | não tem |
Novo Banco | @NB, NB Verde, NB Gold | não tem |
Banco BPI | BPI Zoom | 10,00€ |
Montepio | Origem | 12,50€ |
BBVA | Depois Classic | 13,46€ |
Banco Popular | Visa Classic | 15,00€ |
Santander Totta | Light | 16,50€ |
Deutsche Bank | db Classic | 30,00€ |
Fonte: bancos a 1 de abril de 2016. |
Mais uma vez, é o Deutsche Bank que apresenta o produto mais caro: o db Classic custa 30 euros por ano.
Custos de manutenção: cuidado se não está isento
Muitos clientes bancários estão isentos de comissões de manutenção de conta. Crédito à habitação, conta-ordenado, contas para jovens ou aplicações financeiras dão frequentemente acesso à isenção. No entanto, não se deixe surpreender por esta despesa, porque pode ascender até 100 euros por ano. É esse o valor cobrado no Bankinter, no máximo.
A comissão de manutenção máxima dos bancos classificados como de origem portuguesa é, em média, 8,6% inferior ao encargo cobrado pelos espanhóis. O Banco BIC é, uma vez mais, o melhor na lista.
Banco | Comissão anual máxima de manutenção de conta |
Banco BIC | 48,00€ |
Caixa Geral de Depósitos | 59,40€ |
Banco BPI | 60,00€ |
BBVA | 60,00€ |
Crédito Agrícola | 60,00€ |
Montepio | 60,00€ |
Millennium bcp | 62,40€ |
Santander Totta | 62,80€ |
Banco Popular | 63,00€ |
Novo Banco | 90,00€ |
Deutsche Bank | 97,33€ |
Bankinter | 100,00€ |
Fonte: bancos a 1 de abril de 2016. |