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Montenegro confia que não haverá crise no Orçamento
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Montenegro confia que não haverá crise no Orçamento

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Montenegro confia que não haverá crise no Orçamento

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Governo acredita que Pedro Nuno não terá “coragem” de chumbar o Orçamento

Se o PS provocasse crise, sociais-democratas entendem que sairiam reforçados em novas eleições. Mas não trabalham nesse cenário. Vitória nas europeias "sossegou" PS e Pedro Nuno será "racional" no OE.

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O primeiro a piscar os olhos perde. E Luís Montenegro acredita que tem toda a vantagem do seu lado. Na ressaca de umas eleições europeias que trouxeram sinais importantes à navegação, e na antecâmara do início da discussão do próximo Orçamento do Estado para 2025, os sociais-democratas acreditam que o Governo já desarmadilhou a crise política que se colocava no horizonte. O núcleo duro do Executivo confia que Pedro Nuno Santos, apesar da ambiguidade que mantém em público, não terá “coragem” de chumbar o Orçamento. No limite, mesmo que o faça e provoque eleições antecipadas, assinalam, o desfecho ser-lhe-á favorável: a Aliança Democrática ganhará novas legislativas e crescerá nas urnas. E o socialista também sabe isso, acrescenta-se.

O cenário de eleições antecipadas não é aquele em que, pelo menos para já, a equipa de Montenegro está a trabalhar. “Pedro Nuno Santos não é suficientemente doido para isso”, argumenta um elemento do núcleo duro de Luís Montenegro. “Uma coisa é dar tiros para o ar, outra coisa é dar um tiro a sério. Pedro Nuno Santos não o fará”, acrescenta outro. “Se for racional, saberá que não tem condições para derrubar o Governo. Não tem qualquer indicador que lhe dê a perspetiva de ter uma maioria à esquerda. Não se derruba um governo minoritário para se formar outro governo minoritário mais frágil. Só nós cresceríamos”, nota um governante.

E esta é uma nuance importante. Como seria previsível, no discurso oficial e oficioso, ninguém assume o desejo de ir novamente a votos. “Da nossa parte, contamos com responsabilidade dos partidos da oposição seja a mesmo do Governo. Toda a gente percebe que o país não quer eleições, toda a gente percebe que o país precisa de um Orçamento do Estado e toda a gente já percebeu que o quadro político não se iria alterar muito com novas eleições”, garante ao Observador um destacado dirigente social-democrata. Mas – e aqui entra o ‘mas’ que vai andando pela cabeça dos elementos mais próximos de Montenegro –, se houver eleições a Aliança Democrática chamar-lhe-ia um figo.

“Tínhamos tudo para reforçar a votação”, assinala a mesma fonte. “Seria o melhor que nos poderia acontecer. Mas era mau para o país, naturalmente”, acrescenta outra fonte. No essencial, os sociais-democratas acreditam que, depois de um arranque assumidamente titubeante, o Governo ganhou iniciativa e está a vencer a batalha na opinião pública. Daí até vencer novamente (e por mais) umas eventuais legislativas, seria um passo — tanto mais que, segundo a tradição política portuguesa, qualquer incumbente é favorito em eleições e qualquer partido que provoque uma crise é penalizado, dois fatores que duplicam as chances de Montenegro em caso de eleições antecipadas.

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A fúria legislativa — o Executivo tem apresentado um plano praticamente todas as semanas, esta quinta-feira foi contra a corrupção — vai sendo usada para dar uns ares de fazedor a Montenegro, que mantém a estratégia que escolheu para este seu novo ciclo: expôr-se pouco, falar quase exclusivamente sobre as iniciativas do Governo e nada sobre as polémicas do dia, e centralizar muito a comunicação, acabando por estar na primeira linha mediática de todas as iniciativas do Executivo. Tudo isto pensado para alimentar a narrativa de que está empenhado em resolver os problemas do país — e rápido.

“Estamos muito otimistas. Encontrámos o ritmo e estamos claramente a exceder as expectativas. E não vamos parar”, resume ao Observador uma fonte do Executivo. Na linha do que disse ao Expresso, ainda durante as europeias, um desafiador António Leitão Amaro, ministro da Presidência. “Quem acha que o Governo está a governar com muita intensidade e com muito espírito reformista, esperem que vem aí mais”, prometeu o governante em entrevista ao Expresso.

[Já saiu o sexto e último episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto episódio e aqui o quinto episódio.]

Em paralelo, e apesar das pequenas conquistas que vão somando no Parlamento, é convicção da equipa social-democrata de que Pedro Nuno Santos não está a conseguir encontrar uma narrativa sólida o suficiente para disputar eleições a curto prazo. “Existe alguma desorientação do lado do PS e isso ajuda-nos, claro. Tão depressa nos acusam de não fazer nada, como agora dizem que estamos a fazer muita coisa. Ainda não encontraram o registo”, comenta com o Observador um elemento do núcleo mais próximo de Montenegro.

Admitindo que PS e Chega até permitem que o Orçamento do Estado passe na generalidade, os dois partidos podem perfeitamente desfigurar o documento através de votações cruzadas na discussão da especialidade, forçando Montenegro a executar um Orçamento que não é o dele. "Se Orçamento ficar feito em retalhos, temos de ver o que fazemos na altura. Mas sim, pode não ser sustentável continuar", ameaça um governante

Pedro Nuno e Ventura no dilema do prisioneiro

Por tudo isto, os sociais-democratas acreditam que, no essencial, o cenário de crise está ultrapassado. A menos que as coisas fujam ao domínio da racionalidade, concede-se entre sociais-democratas. “Pedro Nuno Santos e André Ventura estão no dilema do prisioneiro. Nenhum deles quer verdadeiramente derrubar o Governo, mas nenhum deles quer ficar com o ónus de o segurar. As coisas podem tornar-se muito imprevisíveis”, admite a mesma fonte. A tese é relativamente simples: os dois, Pedro Nuno e Ventura, podem esticar de tal forma a corda, ameaçar tanto com o chumbo do Orçamento do Estado, que depois ficarão ambos sem espaço de recuo. “Vai ser muito imprevisível”, resume um destacado dirigente do PSD.

Em rigor, os sociais-democratas não depositam grande fé em André Ventura. Mesmo depois do susto que o partido levou nas europeias, poucos acreditam que o Chega se torne um aliado confiável e responsável aos olhos da Aliança Democrática. No limite, pode não comprar uma crise política, mas o caminho do Governo para aprovar o Orçamento do Estado não passa por Ventura. Ou melhor: existe a convicção firme de que não pode depender apenas de Ventura. Convencer Pedro Nuno Santos, que precisa apenas de se abster na votação do Orçamento, é o caminho mais fácil para evitar a crise política.

E o caminho pode ter ficado de facto mais fácil. De alguma forma, existe quem, no PSD e no Governo, acredite que as eleições europeias esvaziaram o balão de Pedro Nuno porque trouxeram a melhor chave de resultados possível. Por um lado, ficou evidente que a maioria política no país mudou, que a esquerda está em mínimos olímpicos e que Pedro Nuno Santos, mesmo que em teoria conseguisse vencer umas legislativas, não teria condições para governar.

Ao mesmo tempo, a vitória, apesar de tangencial, permite a Pedro Nuno confortar o partido e segurar a sua liderança sem entrar em desespero. Tem o PS nas mãos e pode dar-se ao luxo de não ter pressa. “É possível que daqui para a frente se torne mais vocal, mas será sempre inconsequente. O resultado permite agradar aos apparatchik socialistas e não levantar mais ondas”, sublinha um elemento do Executivo. “Claro que queríamos ganhar as europeias. Mas seria pior. A vitória sossegou Pedro Nuno Santos, que já não está sob pressão”, concorda outro elemento do Executivo.

Tudo isto funciona no papel, mas a verdade é que os dois blocos parecem cada vez mais distantes. De resto, como se explicava aqui o Observador, os socialistas desconfiam que Luís Montenegro quer mesmo provocar eleições antecipadas e que está empenhado em declarar “guerra ao Parlamento“. Os avisos ao Governo repetem-se e estão perfeitamente em linha com aquilo que Pedro Nuno Santos disse ainda na campanha para as europeias: “Se o Governo quer perdurar tem de ter as políticas certas e tem de ter a atitude correta na relação com a oposição e com o Parlamento”.

Publicamente, Luís Montenegro tem procurado meter água na fervura. A 10 de junho, um dia depois de perder as europeias, o social-democrata prometeu um empenho redobrado para chegar a consensos, reconheceu que há pontos de contactos com o PS e garantiu que o Governo fará o seu papel. “Todos falam, de facto, muito em diálogo, mas todos têm de fazer um esforço para aproximar posições. Vamos tentar fazê-lo.”

O cenário de eleições antecipadas não é aquele em que, pelo menos para já, a equipa de Montenegro está a trabalhar. “Pedro Nuno Santos não é suficientemente doido para isso”, argumenta um elemento do núcleo duro. “Uma coisa é dar tiros para o ar, outra coisa é dar um tiro a sério. Pedro Nuno Santos não o fará”, acrescenta outro. “Se for racional, saberá que não tem condições para derrubar o Governo. Não tem qualquer indicador que lhe dê a perspetiva de ter uma maioria à esquerda. Não se derruba um governo minoritário para se formar outro governo minoritário mais frágil”, nota um elemento do Executivo

Coligações negativas no OE podem precipitar saída

Apesar das declarações públicas de Luís Montenegro, ao primeiro tiro do PS, na tal acusação de que o Governo abriu guerra ao Parlamento, o PSD respondeu logo de bazuca. “O PS está a querer reescrever a história dos últimos 60 dias. Cobre-se de ridículo e não está com os pés assentes na terra. É quase o mesmo que dizer que foi a Ucrânia que invadiu a Rússia”, reagiu Hugo Soares, líder parlamentar do PSD. Não é exatamente um bom cartão de visita para quem acredita que os dois partidos ainda se podem entender.

À troca de galhardetes entre sociais-democratas e socialistas, a que se junta uma atitude aparentemente ainda mais hostil de Ventura depois das europeias (veja-se o debate sobre imigração), soma-se a vontade que o Executivo já não vai escondendo de aproveitar o próximo Orçamento do Estado para reverter ou ignorar muito daquilo que PS e Chega conseguiram aprovar juntos — algo que a confirmar-se nestes termos seria uma afronta clara aos dois únicos partidos que podem salvar o Orçamento.

Se estiver de facto empenhado em aprovar o documento, o Governo terá de encontrar uma forma de seduzir um dos possíveis parceiros. Este domingo, no seu habitual espaço de comentário na SIC, Luís Marques Mendes, aconselhou Montenegro a ter uma atitude prudente e proativa se não quiser correr riscos. “O melhor é negociar o Orçamento do Estado previamente, já em setembro, como costumava fazer António Guterres, e o parceiro privilegiado deve ser o PS”, sugeriu o conselheiro de Estado e antigo líder social-democrata.

Este tese não colhe, para já, muitos adeptos. “Parece-me uma ideia pouco razoável, mas ainda não está nada decidido”, salvaguarda um elemento do Executivo ao Observador. Publicamente, Luís Montenegro aproveitou uma entrevista ao novo canal de televisão, o Now, para prometer ouvir todos os partidos. Mas não foi tão longe como Marques Mendes lhe pediu para ir. “[Vamos convidar] todas as forças políticas para dar o seu contributo ao Orçamento do Estado”, limitou-se a dizer o primeiro-ministro, sem explicar como e com que profundidade é que se pode materializar esse diálogo.

Apesar de tudo, no Governo, ninguém ignora que este processo orçamental pode resultar num caos político — como alertou, aliás, o mesmo Luís Marques Mendes. Admitindo que PS e Chega até permitem que o Orçamento do Estado passe na generalidade, os dois partidos podem perfeitamente desfigurar o documento através de votações cruzadas na discussão da especialidade, forçando Montenegro a executar um Orçamento que não é o dele, o que seria politicamente insustentável para a Aliança Democrática.

Para já, ninguém se compromete com um desfecho caso este cenário alternativo venha a confirmar-se. Continuará Montenegro no cargo ou precipita novas eleições? “Se Orçamento ficar feito em retalhos, temos de ver o que fazemos na altura. Mas sim, pode não ser sustentável continuar”, ameaça um governante. Faltam vários passos até lá, mas todas as movimentações de Pedro Nuno Santos e André Ventura estão a ser estudadas com atenção.

PS acusa Governo de preparar “guerra ao Parlamento” e desconfia que Montenegro quer eleições

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