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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Moedas responde a Passos e recebe bênção de Marcelo: "É um dos políticos mais sofisticados da cena nacional"

Na apresentação do seu livro, quando confrontando com as diferenças de opinião no PSD, o autarca alertou para os riscos de tentar integrar extremos no sistema. Marcelo falou e lançou Moedas para Belém

Carlos Moedas acredita que há um risco enorme em integrar os extremos no arco da governação por entender que seriam os moderados e os partidos do centro que acabariam anulados e absorvidos. “Se integrarmos os extremos, os extremos comem-nos”, defendeu o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, depois de ser confrontado com uma pergunta sobre as divergências de opinião que exigem dentro do PSD sobre essa matéria — numa referência evidente a Pedro Passos Coelho e às mais recentes declarações do antigo primeiro-ministro.

Moedas falava sobre essa questão durante a apresentação do seu livro Liderar com as Pessoas, conduzida por Sebastião Bugalho, que decorreu esta quarta-feira na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Confrontado pelo jornalista e comentador sobre os diferentes entendimentos que existem dentro do PSD em relação ao Chega, o autarca deixou a sua receita.“Historicamente isso nunca funcionou muito bem. Ao integrarmos esses extremos, os extremos comem-nos”, sugeriu Moedas.

Ao mesmo tempo, Moedas defendeu que era preciso travar um combate sério contra os extremismos. “Tenho muito medo da extrema-esquerda e da extrema-direita. Tenho medo pelos meus filhos. Hoje, o mais difícil é ser um político moderado. Ser moderado contra os populistas não funciona. Temos de ser assertivos com os populistas. A moderação implica muita força, muita assertividade. Esses extremos querem realmente destruir as instituições”, disse.

Recorde-se que Pedro Passos Coelho e outras figuras do PSD defendem precisamente o contrário: que o traçar de cordões sanitários em torno do Chega vai ameaçar os sociais-democratas e impedir que consigam governar. Essa, de resto, é uma das maiores divergências estratégicas entre Passos e Luís Montenegro — divergência essa que ficou particularmente demonstrada durante a apresentação do livro Identidade e Família.

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Tentando fugir às várias questões sobre a atualidade política que foram sendo colocadas, Moedas não evitou, ainda assim, reiterar uma crítica que faz no livro à forma como o governo de Pedro Passos Coelho (de que fez parte) geriu a comunicação durante o período de intervenção da troika. Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o executivo PSD/CDS cometeu um “erro de comunicação” ao ter optado por não dizer claramente que o memorando de entendimento que foi obrigado a seguir não era uma escolha; era uma exigência. “O memorando não era nosso. Houve aí um erro de comunicação”, assumiu o atual presidente da Câmara de Lisboa.

Tal como explicava aqui o Observador, que fez o pré-lançamento da obra, são mais de 200 páginas de revelações, prestação de contas e de reflexões sobre o seu percurso, o seu futuro político e os novos desafios para a cidade de Lisboa. No seu novo livro, Liderar com as pessoas (editora Leya), Carlos Moedas fala sobre as suas origens familiares, o seu percurso político, a entrada na vida política, os tempos da troika e as tensões vividas durante esse período, a transição para a Comissão Europeia e os almoços prolongados com Jean-Claude Juncker, as eleições autárquicas que lhe deram uma surpreendente vitória contra Fernando Medina e os dois anos e meio à frente dos destinos da capital.

Em 2011, Moedas foi então convidado para integrar o Executivo social-democrata e para fazer parte da equipa que negociava com os elementos da troika. Também esse período é refletido no livro, com o agora presidente da Câmara a não esconder algumas tensões que existiam dentro do Executivo. “Hoje, olhando para trás, é fácil constatar que houve um erro de comunicação estratégica do Governo. Deveríamos ter relembrado com maior frequência o papel do Governo de José Sócrates e a desastrosa política orçamental do PS, porque foi isso que nos trouxe a bancarrota e a troika. Mas a verdade é que tivemos de fazer muitas coisas que não queríamos.”

“O Governo deveria ter assumido publicamente que, em muitas medidas, estava obrigado a cumprir. Não foi o que aconteceu, o Governo não quis assumir esse discurso (…) Recordo-me de um dia em que fui entrevistado na SIC e me referi ao Memorando como «o Memorando da Troika». Logo no dia seguinte recebi uma chamada de Vítor Gaspar. Disse-me que gostou da entrevista, mas que eu tinha cometido um erro grave, pois deveria ter dito «o Memorando do Governo» e não «o Memorando da Troika». Ou seja, assumir que tudo era nosso, toda a responsabilidade, as medidas, os sacrifícios, as metas, etc. Nunca concordei com essa visão”, escreve Moedas.

Ainda assim, o presidente da Câmara Municipal aproveitou o lançamento do livro para sublinhar o “orgulho” que teve em ter feito parte desse governo. “Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida. Aquele grau de dificuldade e de trabalho para salvar o país… Isso tem de ser dito: foi mesmo muito difícil. Nós queríamos salvar o país e para isso eram precisos aquelas medidas. Não há nenhum político que queira cortar salários. Se o faz, é porque se vê obrigado a salvar o país. Foi muito duro. Mas tenho um orgulho enorme“, sublinhou Moedas, não esquecendo o elogio público a Pedro Passos Coelho e à “capacidade” que demonstrou para liderar o país naquele período.

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Moedas mantém tabu, mas acaba lançado para Belém

Ainda durante a apresentação do livro, Moedas afirmou que é movido pelos sonhos e que nunca teve medo de correr riscos — mas sem nunca fazer grandes planos sobre o futuro. “Quem me conhece pensa que não arrisco. A minha vida tem sido sempre o contrário: tomar enormes riscos. Não tive medo de sonhar. Os sonhos só se constroem passo a passo. O sonho é o dia a dia. O sonho é levantar-se de manhã, ver que o senhor Presidente da República tem um buraco à porta de casa e mandar tapar esse buraco”, brincou Moedas.

De seguida, Sebastião Bugalho perguntou então se estaria Carlos Moedas disposto a correr o risco de ser recandidato à Câmara Municipal de Lisboa. Moedas driblou a questão, mas deixou uma pista. “É uma pergunta completamente fora do contexto. Nunca fui aquilo que pensei que seria. Nunca imaginei ser comissário europeu. Quando comecei, não sabia se ia gostar de ser presidente da Câmara. Este livro mostra que estou a gostar muito.”

Ainda assim, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem tentou descortinar o futuro de Carlos Moedas. O Presidente da República aceitou fazer uma breve intervenção na apresentação do livro do autarca, a quem dedicou rasgados elogios. “é um dos políticos mais sofisticados da cena nacional”. “Começou com uma ligação às raízes, transformou-se num estrangeirado e regressou às raízes. E funde [as duas dimensões], o que é muito raro na política portuguesa. É uma síntese muito rara entre estas duas linhagens.”

Marcelo disse ainda esperar “viver o suficiente” para ver até onde pode chegar o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Fazendo a comparação com apresentação do livro de Manuel Alegre, onde se percebia que a meta do “poeta” era o “firmamento”, o Presidente da República assumiu não saber ainda qual era a verdadeira meta de Moedas. Mas diz ter encontrado uma pista na obra do autarca: o facto de prefácio ser assinado por Emmanuel Macron, Presidente de França.

“[Carlos Moedas] ainda está longe o firmamento, mas está relativamente próxima uma meta ainda que longínqua. E isso é claro na escolha do prefaciador. Ficamos a saber”, despediu-se Marcelo, parecendo lançar Moedas para uma futura candidatura à Presidência da República

Não faltaram figuras de peso, como Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, mas também vários elementos do Governo, como António Leitão Amaro, Nuno Melo, Miguel Pinto Luz, Pedro Reis, Margarida Balseiro Lopes ou Ana Paula Martins, políticos como Manuela Ferreira Leite, Carmona Rodrigues ou Isaltino Morais, figuras da sociedade civil, como Rui Valério, patriarca de Lisboa, e das artes e do espetáculo, como Rui Massena, que protagonizou um momento musical, Tony Carreira, Manuel Luís Goucha, Lili Caneças, Luís de Matos, André Sardet ou Luís Represas.

No livro, Moedas explica o seu percurso de Beja até à Comissão Europeia e como foi depois desafiado pela direção de Rui Rio a ser candidato do PSD à Câmara Municipal de Lisboa. Os bastidores dessa decisão, a campanha feita sem dinheiro e sem recursos, os ataques que diz ter sofrido por parte da bolha político-mediática e a descrença generalizada na sua capacidade de vencer aquelas eleições também são passados em revista ao longo das primeiras páginas do livro.

“No último dia de campanha eleitoral, Fernando Medina tinha conseguido todas as câmaras de televisão, que transmitiram a ação de campanha do PS em direto. Mas, quando eu chego para fazer a arruada, duas horas depois, só havia uma câmara e um jornalista da SIC, que me fez uma breve entrevista de dois minutos, e logo partiu. Descemos o Chiado sem qualquer visibilidade mediática. Aquilo doeu-me. Quando oiço ou leio algumas análises sobre as razões da nossa vitória, as quais alvitram que foi o incumbente a perder ou a abstenção a vencer, sei bem que não têm razão”, reflete.

“A verdade é que venci com as pessoas, apesar de tudo e de todos os vaticínios mediático-partidários. Não havia dinheiro, não havia presença dos média, não tinha comissão de honra como tal (tinha 40 nomes, enquanto Fernando Medina tinha o establishment todo). Ou seja, venci sem a bolha. Mas havia algo que tinha passado para as pessoas: o genuíno compromisso de que estava a fazer uma campanha com o objetivo de as servir e de contribuir para melhorar as suas vidas. E isso, que é muito, é algo politicamente decisivo e que tem faltado nos últimos embates eleitorais entre nós.”

A tensão com a troika, a mágoa na campanha contra Medina e a solidão durante a JMJ. O novo livro de Moedas

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