Eduardo Vítor Rodrigues também foi constituído arguido na Operação Babel em que a Câmara Municipal de Gaia, de que é presidente, é o alvo principal da investigação. Em causa estão alegados favorecimentos de militantes do PS na área dos recursos humanos da autarquia, assim como a contratação pública de certas empresas. O autarca viu as autoridades apreenderem-lhe o telemóvel e documentação durante as buscas judiciais a sua casa e no gabinete camarário.

Além do vice-presidente Patrocínio Azevedo, que foi detido por suspeitas de alegada corrupção e de outros crimes económico-financeiros, sendo suspeito de receber ‘luvas’ no valor de 125 mil euros, o presidente Eduardo Vítor Rodrigues e a vereadora Célia Correia são visados num dos autos do inquérito investigado pela Polícia Judiciária do Porto e coordenado pelo DIAP Regional do Porto.

A Operação Babel é composta por três processos criminais.

Um está relacionado com alegados crimes de corrupção ativa e passiva, recebimento indevido de vantagem, prevaricação e abuso de poder sobre alegados favorecimentos ao grupo israelita Fortera e ao empresário Paulo Malafaia na autorização e viabilização de projetos imobiliários avaliados em cerca de 300 milhões de euros. Este é o que visa o vice-presidente Patrocínio Azevedo.

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Detido presidente da Câmara de Espinho (PS) por suspeitas de corrupção

o segundo inquérito visa diretamente Eduardo Vítor Rodrigues e outros responsáveis autárquicos. Eduardo Vítor Rodrigues foi alvo de buscas domiciliárias e no seu gabinete na Câmara de Gaia durante a manhã desta terça-feira e é visado nos autos abertos na sequência de uma certidão processual. É arguido, mas não foi detido.

Isto ao contrário do que aconteceu com Patrocínio Azevedo, a quem as autoridades se apresentaram com um mandado de detenção. Além do vice-presidente de Gaia, também o empresário israelita Elad Dror, fundador e CEO do Grupo Fortera, Paulo Malafaia, promotor imobiliário que já tinha sido detido na Operação Vórtex, dois técnicos do Departamento de Urbanismo municipais do Porto e um funcionário da Direção Regional de Cultura do Norte — Amândio Dias, foram detidos. Foi igualmente detido um advogado, João Barbosa Lopes, conhecido por “Gorila”, que será um alegado testa-de-ferro de Patrocínio Azevedo. Todos relacionados com o primeiro destes processos.

Câmaras de Gaia e do Porto alvos de buscas da PJ por suspeitas de corrupção. 7 detidos, incluindo vice-presidente da autarquia de Gaia

Cunhas para socialistas trabalharem na autarquia de Gaia também estão a ser investigadas

Além dos sete arguidos detidos, há, pelo menos, mais cinco arguidos constituídos nos autos da Operação Babel, num total de 12. Era esse o número que constava de um comunicado emitido pela PJ ao final da manhã, mas o número irá aumentar nos próximos dias.

Além de Eduardo Vítor Rodrigues, também a vereadora Célia Correia, com os pelouros dos assuntos jurídicos e a administração municipal, e a diretora Manuela Garrido serão visadas nesta investigação.

Foram estas suspeitas que levaram a PJ a realizar buscas domiciliárias a Eduardo Rodrigues, visitando igualmente o gabinete do autarca na Câmara de Gaia. Além da apreensão do telemóvel de Rodrigues, também vária documentação ficou nas mãos das autoridades.

De acordo como comunicado da PJ, estão “indiciadas práticas dirigidas ao benefício de particulares no setor do recrutamento de recursos humanos e prestação de serviços, por parte do executivo municipal visado”.

Ao que o Observador apurou, estão em causa alegados benefícios na contratação de militantes e pessoas próximas do Partido Socialista para os quadros da autarquia, e também a contratação pública de certas empresas pela Câmara de Gaia.

O Observador enviou questões por escrito para a assessoria de imprensa da Câmara de Gaia, solicitando um comentário de Eduardo Vítor Rodrigues sobre o seu envolvimento na Operação Babel, mas o autarca não quis fazer comentários, remetendo para o comunicado emitido durante a tarde, no qual não são abordadas as suspeitas que incidem sobre o próprio presidente da autarquia.

A escolha do traçado de uma linha do Metro do Porto está sob suspeita

Das 55 buscas realizadas, uma delas foi à empresa Metro do Porto. Segundo sabe o Observador, nenhum representante daquela empresa de capitais públicos é visado ou suspeito na investigação da Operação Babel. Esteve em causa a recolha de documentação relativa ao traçado da Linha Rubi.

Trata-se de uma das novas linhas do Metro do Porto, que ligará precisamente o Porto a Vila Nova de Gaia e deverá estar concluída em 2026. A atenção dos investigadores está virada para a forma como o traçado dessa nova linha foi escolhido, visto que o mesmo atravessa uma zona de forte expansão urbanística de Gaia, onde estarão localizados alguns dos projetos imobiliários sob suspeita ligados ao Grupo Fortera e ao empresário Paulo Malafaia.

Outro alvo desta operação policial foi a Câmara de Braga, onde terá sido recolhido o processo administrativo relativo a um dos investimentos do Grupo Fortera: o Convento do Carmo.

O empresário que foi detido 2 vezes em menos de 5 meses e o arquiteto incompatível

O empresário Paulo Malafaia é pela segunda vez visado num inquérito judicial relevante relacionado com alegada corrupção urbanística.

Em janeiro foi detido no âmbito da Operação Vortex, por alegadas suspeitas de corrupção, visto ter sido um alegado intermediário entre o construtor Francisco Pessegueiro e Miguel Reis, então presidente da Câmara de Espinho, que viria a renunciar ao mandato. Malafaia foi libertado mediante o depósito de uma caução de 100 mil euros.

Agora, nos autos da Operação Babel, o empresário volta a ser detido por novas suspeitas de corrupção. Desta vez, Malafaia será o intermediário do Grupo Fortera — que chegou erradamente a ser ligado à Operação Vortex — em alguns dos projetos imobiliários sob suspeita em Gaia.

Mas, ao que o Observador apurou, também será visado em operações urbanísticas relacionados com interesses próprios.

Amândio Alves, técnico da Direção Regional de Cultura do Norte, foi igualmente detido por suspeitas de corrupção e de outros crimes por ter sido o autor do projeto de arquitetura de reconfiguração urbanística do Convento do Carmo, em Braga. Uma situação que o Ministério Público e a PJ classificam de conflito de interesses claro e notório, visto que a direção regional onde trabalha também fazia parte do processo de decisão de viabilização daquela operação urbanística.