É um caso único entre os planos de poupança-reforma (PPR) disponíveis aos investidores: se tivesse investido 500 euros mensalmente no Alves Ribeiro PPR desde que o fundo foi lançado, em novembro de 2001, teria agora perto de 210 mil euros, mais do que o dobro do que teria aplicado em 16 anos e meio.

Paulo Monteiro, o diretor do Banco Invest que está ao leme do PPR, aplica o dinheiro dos clientes maioritariamente em obrigações, mas não fecha a porta às oportunidades que surgem nos mercados acionistas. Uma dessas portas abre agora para as ações da EDP, a companhia energética portuguesa que é alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA) da China Three Gorges. O preço proposto pelos chineses “está um bocado longe” do valor justo, diz Monteiro, em entrevista.

Apesar da aposta na EDP e nos mercados emergentes, Paulo Monteiro avisa que estão a procurar baixar a volatilidade do Alves Ribeiro PPR. Está à espera para aproveitar alguma correção no mercado.

Observador: Perguntaram o seguinte a Robert Shiller, Nobel da Economia em 2013: das coisas que não se sabe sobre investimentos, o que mais gostaria de saber? Ele respondeu: “O papel exato da sorte nos resultados de sucesso”. Que proporção do sucesso do Alves Ribeiro PPR atribui à sorte?
Paulo Monteiro: Começa com uma questão difícil. Eu não lhe chamaria sorte. Houve circunstâncias de mercado que ajudaram, nomeadamente a crise da dívida soberana. Chamar-lhe sorte é abusivo; aproveitámos bem o mercado. Aliás, o mercado é igual para todos os participantes. Houve [também] fases de maior stresse. No PPR tivemos dois anos que foram períodos mais difíceis.

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Nesses anos, de 2008 e 2011, quando o fundo perdeu mais de 17%, também não houve azar?
Não. Em 2008, houve um evento muito específico, a falência do Lehman Brothers. Sendo um fundo aberto tem de fazer o mark-to-market das suas posições. A questão é que, a seguir à falência, deixou de haver market. Os preços caíram abruptamente.

O que é que isso quer dizer?
Quer dizer que temos de avaliar as posições do fundo aos preços de mercado. Mas houve uma grande disrupção no mercado, a volatilidade aumentou muito, os preços caíram muito e não refletiam os valores justos dos ativos. Não houve qualquer evento de crédito ou default [incumprimento] na carteira.

O desempenho do Alves Ribeiro PPR é único entre os PPR: ganhou mais de 7% por ano desde que foi lançado em 2001. Houve um momento em que perceberam que eram melhores do que a concorrência?
Não punha as coisas nesses termos, de sermos melhores do que os outros. De facto, desde que o fundo existe, o nosso é o que tem a melhor performance. Também há diferentes níveis de risco. Se calhar, o nosso tem mais volatilidade do que outros. Vamo-nos apercebendo [que temos o melhor desempenho] ao longo do tempo.

PPR mais rentáveis

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Estes são os dez fundos de poupança-reforma mais rentáveis nos últimos cinco anos.

Rentabilidade anualizada de 5 anos
Alves Ribeiro PPR: 9,06%
NB PPR: 5,67%
Optimize Capital Reforma PPR Acções: 4,72%
Optimize Capital Reforma PPR Moderado: 3,84%
PPR Platinium: 3,52%
PPR Vintage: 3,35%
PPR Geração Activa: 3,31%
PPR SGF Acções Dinâmico: 3,10%
Optimize Capital Reforma PPR Equilibrado: 3,04%
PPR 5 Estrelas: 2,94%

Fontes: APFIPP, CMVM a 1/6/2018.

Receberam recentemente, e pela segunda vez, o prémio de melhor fundo PPR na classe de risco 4 atribuído pela APFIPP [Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios]. Soube particularmente bem, tendo em conta que não são membros da APFIPP?
A Invest Gestão de Activos não é membro. Soube bem, porque reconhece o desempenho muito positivo do fundo. Mas apenas por esse aspeto.

Porque não são membros?
Não somos membros, porque a sociedade é muito pequena. Não se justifica.

É um custo muito pesado?
Tem custos, sim. Porque só temos dois fundos mobiliários, tem sido esse o nosso entendimento.

O nível do indicador de risco do Alves Ribeiro PPR é de 4 [numa escala entre 1, baixo, e 7, elevado], mas o portal do Banco Invest diz que é um produto conservador.
É um produto que investe 80% [da carteira] em obrigações e apenas, em média, 20% em ações. É nesse sentido que é um produto conservador. A volatilidade do fundo até 2007-2008 era relativamente baixa. Depois aumentou em virtude das condições do mercado. Agora está novamente muito mais baixa do que nos últimos anos.

Num artigo recente sobre PPR publicado pelo Observador, lê-se que uma perda do calibre de 2008 ou de 2011, de 17%, “provavelmente voltará a acontecer”. Concorda?
Espero bem que não. Começámos a reduzir o risco ao fundo, aumentámos a liquidez, para tentar evitar que isso aconteça. Mas já se sabe que o mercado, volta e meia, prega alguns sustos.

Estão a antecipar alguma crise, algum crash?
Os últimos anos foram muito bons e as yields [taxas de juro da dívida] estão muito baixas. Estamos a reduzir a exposição [às obrigações] no sentido de tentar aproveitar alguma correção, alguma subida das yields ou dos spreads de crédito, para poder reinvestir a yields mais interessantes.

Estarem a vender a yields mais baixas quer dizer que estão a tomar mais-valias?
Exatamente. As yields baixam, os preços [das obrigações] sobem muito e o nosso fundo também. Aumentámos a liquidez para termos a capacidade para reinvestir se houver alguma correção.

Alves Ribeiro PPR

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Rentabilidade anualizada:
— 1 ano: 2,65%
— 3 anos: 6,31%
— 5 anos: 9,21%
— desde o início: 7,20%
Indicador sintético de risco: 4
Lançamento: 15/11/2001
Comissões:
— subscrição: não tem
— resgate: 1% até 1 ano; não tem após 1 ano
Taxa de encargos correntes (2017): 1,57%
Investimento mínimo: 50€

Fonte: Banco Invest a 6/6/2018.

É um defensor da gestão ativa em vez de se tentar replicar índices de mercado?
Sim.

Como justifica a aplicação de 14% da carteira do Alves Ribeiro PPR noutros fundos de gestão passiva, que replicam o índice de ações europeias Euro Stoxx 50?
O fundo investe 80% em obrigações. Durante algum tempo, o investimento foi sobretudo em dívida pública de Portugal, Espanha e, também, Itália. Ganhou-se muito dinheiro. Em finais de 2015, reduzimos a exposição a dívida pública portuguesa. Ficámos com alguma espanhola. E aumentou-se a exposição a obrigações de dívida privada, sobretudo europeia. A correlação entre os spreads de dívida privada e o mercado acionista é relativamente elevada, em particular em períodos de crise. Como já temos tanto risco específico na componente obrigacionista, preferimos ter um ETF [fundo cotado de índice] que nos dá exposição ao mercado mas sem grande risco específico. Na prática, é uma forma de minimizar o risco da carteira.

Por diversificação?
Por diversificação. Temos o risco de mercado e não o risco específico de escolher a ação A ou B.

Porquê fundos que replicam o Euro Stoxx 50?
Resulta da nossa análise. Nos últimos tempos, temos vindo a privilegiar as ações europeias. Estão mais interessantes, em termos relativos.

Em relação às americanas?
Às americanas, por exemplo. A underperformance [subdesempenho] da Europa foi significativa nos últimos anos e os múltiplos de mercado mostram um desconto significativo face às congéneres norte-americanas. Entretanto, a economia europeia tem vindo a recuperar bem. As taxas de juro continuam muito baixas e, sobretudo, em termos reais, que podem estar até negativas. É uma conjuntura boa para a recuperação dos resultados das empresas europeias.

Na edição deste mês de junho da Forbes, escreveu que “os números sustentam o caso das ações emergentes”. Os investidores do Alves Ribeiro PPR têm exposição aos mercados emergentes?
Temos cerca de 8,5% em emergentes através do crédito. Através de obrigações.

O artigo fala de ações dos mercados emergentes.
Temos exposição [acionista aos mercados emergentes] nas carteiras de gestão de patrimónios.

Diretamente ou através de fundos?
É feito através de ETF e fundos.

Como decidem entre um ETF e um fundo? A vossa seleção de fundos de retalho inclui agora o Pictet Emerging Markets e o Neuberger Berman Emerging Markets Equity. São esses fundos que também estão nas carteiras de gestão de patrimónios?
Não são exatamente esses, mas são coisas muito parecidas. Utilizamos fundos quando são temas mais específicos.

Investir em mercados emergentes não é assim tão específico?
Já há muitos ETF de mercados emergentes, globais e regionais.

No final de março, o Alves Ribeiro PPR tinha ações da EDP. O vosso outro fundo, o Invest Ibéria, não. Acreditam no sucesso da OPA da China Three Gorges?
Entretanto, no [Invest] Ibéria, voltámos a comprar. Neste momento, temos [ações da EDP] nos dois. O preço [da OPA] terá de ser revisto em alta. Estamos nessa expectativa.

Têm um preço justo para as ações da EDP?
Temos sempre um price-target [preço-alvo] interno. Temos um modelo de avaliação para cada uma das empresas em que estamos investidos. Temos as contas históricas, projetamos as contas futuras, analisamos a empresa, ajustamos o modelo aos fatores fundamentais de cada empresas.

Qual é o vosso preço para a EDP?
O preço terá de ser revisto…

Está muito longe do proposto na OPA? Mais de 10%?
Está um bocado longe. Mais de 10%.

Invest Ibéria

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O Alves Ribeiro Médias Empresas Portugal mudou a política de investimento em dezembro de 2016 e alterou a designação para Invest Ibéria.

Rentabilidade anualizada:
— 1 ano: 2,74%
— 3 anos: 0,23%
— 5 anos: 3,58%
— desde o início: 0,72%
Indicador sintético de risco: 6
Lançamento: 30/04/1999
Comissões:
— subscrição: não tem
— resgate: não tem
Taxa de encargos correntes (2017): 1,59%
Investimento mínimo: 1.000€

Fonte: Banco Invest a 4/6/2018.

Se, de facto, a EDP e a EDP Renováveis saírem da bolsa, o mercado português ficará ainda mais pequeno. Foi isto que vos levou a converter o Alves Ribeiro Médias Empresas Portugal no Invest Ibéria, adicionando Espanha ao mercado de investimento?
Exatamente. O Médias Empresas Portugal foi criado em 97. Correu bastante bem face ao mercado…

Quando fala de mercado são os outros fundos de ações portuguesas ou a bolsa portuguesa?
O PSI 20. Houve anos em que tivemos o melhor fundo de ações de Portugal. Mas, de facto, o mercado português tem vindo a encolher. Em meados de 2016, tivemos de reequacionar. Já não havia matéria-prima para conseguir diversificar minimamente. A ideia que nos pareceu mais natural foi alargar o universo de investimento a Espanha. Espanha oferece muito mais oportunidades, porque é um mercado muito maior. As empresas são mais multinacionais, cerca de 60% das vendas são feitas no exterior.

“O que mais tem potencial nesta fase são as ações e, dentro das ações, a Europa é o mais interessante. E, dentro da Europa, os mercados ibéricos, nomeadamente Espanha”, diz Paulo Monteiro. Fotografia: João Porfírio/Observador.

Quais são as maiores apostas do Invest Ibéria?
Temos [ações do] Santander e Inditex, que caiu bastante e está interessante. Depois, temos Telefónica. Em Portugal, temos Nos e BCP.

Porquê Nos e BCP?
No caso da Nos, foi muito penalizada nos últimos tempos e está afastada do nosso tal preço interno. Tem um potencial significativo de valorização, ganha dinheiro, liberta cash-flow, há a expectativa que possam aumentar dividendos. No BCP, também temos há muito tempo, correu-nos bem no ano passado, temos feito algum trading — entramos e saímos. Os resultados do último trimestre foram bons. Também caiu muito em maio e voltámos a comprar, na casa dos 24 cêntimos.

Quantas pessoas compõem a vossa equipa?
Na gestão de ativos somos cinco. Duas mais envolvidas com os produtos estruturados. Os outros três, incluindo eu, somos analistas e gestores.

Sobre os produtos estruturados, Carlos Tavares disse, em 2010, quando era presidente da CMVM, que “a rentabillidade esperada dos produtos [estruturados] é usualmente inferior à rentabilidade de aplicações de menor risco”. O Banco Invest é um dos que mais insiste em produtos estruturados. Porquê?
Mensalmente, fazemos sempre um depósito estruturado com capital garantido. Trimestralmente, sobre o mesmo cabaz de ações, fazemos uma versão com uma perda máxima de 2,5%, portanto 97,5% de capital garantido, mas conseguimos encurtar o prazo de 18 para 12 meses e aumentar o retorno máximo potencial. A TANB [taxa anual nominal bruta] passa de 3,2% a 18 meses para pouco mais de 5% a 12 meses.

E, como têm capital garantido, nunca perdem.
Até conseguimos pôr um valor mínimo. Por exemplo, 0,2% no período de 18 meses. Mas ainda em relação à afirmação: os produtos estruturados abarcam uma série de produtos. Desde os que têm risco de 100% do capital até aos que garantem uma remuneração mínima, como os nossos.

Por terem o capital garantido, remuneração mínima, prazos curtos e estruturas mais simples, isso quer dizer que conseguem retornos médios próximos dos depósitos a prazo tradicionais?
No nosso caso concreto, sim. Em termos de histórico, os últimos 12 meses, os depósitos [estruturados com capital garantido] pagaram, em média, 1,84% de TANB. Os sem capital garantido pagaram 6,21% nos últimos 12 meses com 2,5% de perda máxima. Estão acima dos nossos melhores depósitos [tradicionais]. Fazemos sempre [produtos estruturados] sobre ações de empresas em que temos confiança.

Mas isso acontece porque as bolsas estão agora a subir.
A remuneração está indexada às bolsas. Se a bolsa subir, à partida, os indexantes também sobem. Mas também pode acontecer que a bolsa caia e os nossos indexantes subam.

Também calculam preços-alvo para as empresas que selecionam para os cabazes dos produtos estruturados?
Sim. Porque [ao montar os produtos estruturados] também ficamos expostos às ações e temos que gerir esse risco. Temos interesse em que os produtos paguem aos clientes. Os produtos estruturados são um passo intermédio para tentar deslocar poupanças dos depósitos a prazo tradicionais para coisas que tenham uma remuneração potencial mais elevada.

Qual a vossa posição em relação às matérias-primas?
Por norma, não investimos diretamente em matérias-primas. Podemos investir nas empresas do setor.

Faz sentido neste momento?
Não temos grande exposição. Diria que estamos neutrais.

A pergunta deve-se ao facto do Banco Invest ter uma solução de investimento em ouro físico. Faz sentido, agora ou em algum momento?
É um valor de reserva. Faz sentido numa ótica de diversificação.

Voltamos ao início. Que responderia se a pergunta que fizeram a Robert Shiller fosse dirigida a si. Entre todas as coisas que ninguém sabe sobre investimento, o que mais gostaria de saber?
[Longa pausa.] O comportamento humano. As pessoas reagem quando estão a investir ou a aplicar as suas poupanças de forma diferente de como reagem noutras situações, noutros campos. O dinheiro tem essa particularidade.