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epa08931898 A nurse prepares a dose of the Oxford/AstraZeneca Covid-19 vaccine at the NHS vaccine mass vaccination centre that has been set up in the grounds of Epsom Race Course, in Surrey, Britain 11 January 2021. The UK government has announced that mass vaccination centres will start operating from 11 January in London, Newcastle, Manchester, Birmingham, Bristol, Surrey and Stevenage.  EPA/DOMINIC LIPINSKI / POOL
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Já foram vacinadas quase 70 milhões de pessoas em todo o mundo

DOMINIC LIPINSKI / POOL/EPA

Já foram vacinadas quase 70 milhões de pessoas em todo o mundo

DOMINIC LIPINSKI / POOL/EPA

União Europeia pagou adiantado e ficou mal servida. O problema com a entrega das vacinas e os contratos assinados

A Europa atrasou-se, comprou e investiu menos. Agora que vê os contratos não serem cumpridos, sabe que estes prevêem poucas sanções e nenhum reembolso. E quer controlar a produção e a exportação.

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O ambiente entre as empresas fornecedoras das vacinas Covid-19 e a União Europeia está crispado. Muito crispado mesmo. A AstraZeneca diz que vai reduzir as entregas contratualizadas com a UE alegando quebras na produção. A Comissão Europeia diz que as justificações são insuficientes. A reunião marcada para esta quarta-feira esteve em risco de não se realizar, mas acabou por ir para a frente. O clima manteve-se tenso: o diretor executivo da farmacêutica pediu menos emoção e mais compreensão, mas a Comissão exige o cumprimento do acordo de 336 milhões de euros. A CE não gostou de ver detalhes do contrato, que deveria ser secreto, divulgados nas várias entrevistas de Pascal Soriot, e agora quer que a empresa o divulgue na íntegra.

As imagens de felicidade e mensagens de ânimo dos primeiros vacinados que se multiplicaram nos vários países europeus quando as primeiras doses da Pfizer foram distribuídas, dão agora lugar a uma guerra pelo acesso às vacinas e opõem — direta ou indiretamente — a União Europeia e o antigo Estado-membro, o Reino Unido. As compras antecipadas sem direito a reembolso parecem não ter sido o suficiente para garantir que as farmacêuticas cumprissem com as entregas acordadas.

Além da AstraZeneca, que ainda não está aprovada na Europa, também a Pfizer/BioNTech tem os fornecimentos em atraso e já avisou que vai entregar menos frascos da vacina do que era suposto, gorando a expectativa das autoridades de saúde que esperavam vacinar mais pessoas com a sexta remessa.

A Comissão Europeia, a Alemanha e a Itália ameaçam as farmacêuticas com processos judiciais e com a retenção das vacinas produzidas em território comunitário. A Comissão Europeia pondera mesmo cortar os incentivos aos laboratórios que estão a desenvolver vacinas, mas alguns deputados europeus pedem mais, que se use uma solução tipo “bomba atómica”: retirar as patentes aos laboratórios para que as vacinas possam ser fabricadas por outros.

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Aconteça ao que acontecer, parece estar comprometido o objetivo da União Europeia de vacinar 80% das pessoas dos grupos mais vulneráveis e profissionais de saúde até março e 70% dos adultos até ao verão. Os Estados Unidos, por sua vez, também não estão a conseguir dar resposta às próprias promessas, mesmo tendo conseguido assegurar um considerável número de doses da Pfizer/BioNTech e da Moderna.

"Queremos clareza nas transações e total transparência no que diz respeito à exportação de vacinas COVID-19 da UE."
Stella Kyriakides, comissária europeia para a Saúde e Segurança Alimentar

A AstraZeneca vai falhar as entregas na União Europeia?

Em vez de 80 milhões de doses, serão só 31milhões

A notícia caiu como uma bomba: a AstraZeneca, que desenvolveu uma vacina em conjunto com a Universidade de Oxford, disse que ia reduzir cerca de 60% do fornecimento que deveria fazer à União Europeia no primeiro trimestre. Em número de doses, significa que em vez de serem 80 milhões, os Estados-membros receberão apenas 31 milhões nestes 3 meses. O acordo entre a Comissão Europeia e a AstraZeneca prevê um total de 300 milhões de doses com a opção de comprar mais 100 milhões, mas até fevereiro a empresa só entregará, no máximo, 17 milhões de doses.

A AstraZeneca, que chegou a dizer que conseguiria produzir 3 mil milhões de doses até ao final do ano de 2021, veio agora anunciar que não consegue garantir as entregas  à União Europeia, mas o fornecimento ao Reino Unido, no entanto, não parece ter sido afetado, segundo a SkyNews. “O objetivo é entregar 17 milhões de doses até ao final de fevereiro”, disse Pascal Soriot, em entrevista ao jornal italiano La Repubblica. “Não é tão bom quando ambicionávamos mas não é mau de todo.” Daí ter estalado a polémica ao longo desta quarta-feira.

A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em conjunto com a AstraZeneca já foi aprovada e começou a ser administrada no Reino Unido, mas ainda não foi aprovada pela Agência Europeia do Medicamento — o que se prevê que aconteça esta sexta-feira. Os países esperavam por isso começar a receber as suas remessas logo de seguida.

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A Pfizer também reduziu a quantidade de doses que está a entregar?

Sim, mas promete recuperar

Na Europa, estão aprovadas as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna. No total, a União Europeia comprou 760 milhões de doses destas vacinas — 600 mais 160 milhões, respetivamente —, que permitem vacinar 380 milhões de pessoas (cerca de 80% daqueles que estão previstos ser vacinados). O problema é que, segundo o Financial Times, estas duas empresas só conseguem assegurar a entrega de 355 milhões de doses até setembro.

Além disso, a Pfizer/BioNTech — a primeira a ser autorizada na Europa, a 21 de dezembro — também reduziu o fornecimento das vacinas no mês de janeiro. A justificação foi a necessidade de reduzir a produção para aumentar e melhorar a fábrica na Bélgica e assim poder produzir uma maior quantidade de doses, garantido que assim acabaria por recuperar e cumprir a entrega prevista para o primeiro trimestre. Portugal não teve problemas no fornecimento — até agora —, mas vários hospitais e centros de saúde de Madrid e da Catalunha ficaram já sem vacinas, segundo o jornal El Mundo.

A região de Madrid é, a seguir à Cantábria, aquela que menos vacinas administrou aos habitantes e durante as próximas duas semanas não terá vacinas suficientes para vacinar mais pessoas com a primeira dose, noticiou também o jornal El País. “Esta semana e a semana que vem vamos ter que suspender as novas primeiras doses, e vamos centrarmo-nos na administração da segunda dose, tão necessária”, anunciou Ignacio Aguado, vice-presidente da Comunidade de Madrid.

O atraso no fornecimento das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna também deixaram a Catalunha sem capacidade para cumprir com o plano de vacinação previsto, adiantou também o El País. Muitas pessoas que já tomaram a primeira dose não vão receber a segunda ao fim dos 21 dias como estava previsto. Podendo mesmo não conseguir tê-la a tempo de ser eficaz.

A Comissão Europeia assegurou ainda compra total de cerca de mais 2,4 mil milhões de doses de vacinas, incluindo 300 milhões da Sanofi/GSK, 400 milhões da Johnson & Johnson, 405 milhões da Curevac e 200 milhões da Novavax. No entanto, nenhuma destas requereu ainda oficialmente a aprovação pelo regulador europeu.

A Comissão Europeia vai reter as vacinas produzidas no espaço comunitário?

Para já, vai fazer exigências

A Comissão Europeia aceitou a justificação da Pfizer/BioNTech que, a 15 de janeiro, disse que teria de reduzir o fornecimento temporariamente para aumentar a capacidade de produção, mas recuperaria a tempo de fazer todas as entregas previstas para o primeiro trimestre, noticiou o jornal espanhol ABC. Mas as explicações dadas pela AstraZeneca (ou a falta delas) não foram tão bem aceites.

Duas reuniões e um telefonema não chegaram para que a Comissão Europeia ficasse satisfeita com as justificações apresentadas. “As discussões com a AstraZeneca [na segunda-feira] resultaram em desagrado com a falta de clareza e explicações insuficientes”, escreveu Stella Kyriakides, comissária europeia para a Saúde e Segurança Alimentar, no Twitter. Para esta quarta-feira estava prevista outra reunião, que chegou a estar ameaçada pela tensão que se gerou entre as duas partes. Mas tanto a AstraZeneca como a uma fonte europeia confirmaram que a reunião se manteve.

A comissária da Saúde foi apoiada pela presidente da Comissão Europeia, que lembrou que a “Europa investiu milhares de milhões de euros para ajudar a desenvolver as primeiras vacinas contra a Covid-19 e a criar um bem comum global”. Os cerca de 2,7 mil milhões de euros para desenvolvimento e produção das vacinas pretendiam assegurar que havia stock suficiente quando a vacina fosse aprovada. “Agora, as empresas tem de honrar as suas obrigações”, disse Ursula von der Leyen.

A Comissão Europeia quer assim implementar uma série de medidas para assegurar que as vacinas que deviam ser entregues na Europa não estão a seguir para outro sítio, nomeadamente para o Reino Unido, como insinuou o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, citado pela Associated Press. Os Estados-membros concordaram em pôr em marcha um mecanismo de transparência na exportação para todas as empresas que produzam vacinas no espaço europeu e as queiram vender a terceiros.

Vão por isso requerer um plano detalhado das datas e do número de doses a entregar em cada um dos países pela AstraZeneca, mas também quantas doses já foram produzidas até ao momento e a quem foram entregues. A Comissão Europeia poderá também exigir à farmacêutica que revele o contrato assinado com a Comissão.

A AstraZeneca tem duas fábricas no Reino Unido e uma na Holanda (Leiden), onde é produzido o líquido, posteriormente dividido em frascos no País de Gales e na Alemanha. O grupo farmacêutico espanhol Insud Pharma também vai produzir e embalar a vacina da AstraZeneca, a partir de fevereiro, na fábrica Azuqueca de Henares (Guadalajara).

O que acontece se as farmacêuticas não respeitarem os contratos?

Há poucas sanções previstas

O jornal El Mundo analisou um dos acordos celebrados entre a Comissão Europeia e as farmacêuticas e descobriu que quem fica a perder é a própria União Europeia e os Estados-membros. O que acaba por dar menos força à promessa dos líderes europeus de que iriam recorrer à justiça para fazer valer os contratos.

Caso as empresas não respeitem os contratos, as sanções não são imediatas, diz o jornal espanhol com base em documentos entregues ao Ministério Público italiano. A começar com o facto de, apesar de as entregas serem feitas semanalmente, os compromissos são estabelecidos por trimestre. Assim, desde que cumpram com as entregas até ao final de março, não há quebra de contracto — quem falha são os países com os planos que tinham para esse período.

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Depois, mesmo que haja incumprimento no final do trimestre, deve apostar-se primeiro em encontrar-se uma solução para o problema antes de se avançar para as sanções. E como se isto não bastasse, os Estados-membros arriscam-se a ter pago sem chegarem a ver o produto: o valor pago não é reembolsável.

Da parte da Comissão Europeia, e segundo o site oficial, assegura-se que o objetivo é conseguir “os melhores acordos possíveis com as empresas de forma às vacinas serem acessíveis, seguras e eficazes”. No site pode ler-se também: “Os contratos estão protegidos por razões de confidencialidade, que é garantido pela natureza altamente competitiva deste mercado global”. A Comissão Europeia garante cumprir com esta cláusula. Mas há partes de contratos a serem divulgados.

Porque é que Itália quer processar a Pfizer?

Porque falhou todas as entregas

A Pfizer/BioNTech não respeitou nenhuma das entregas previstas para Itália, em cada uma das semanas. Na semana de 18 de janeiro entregou 397.800 vacinas em vez das 562.770 que estavam previstas; na semana passada houve um corte de 29%; e na próxima semana será de cerca de 20%.

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, disse que iria interpor uma ação legal. O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Luigi Di Maio, disse que Itália ia pressionar Bruxelas a tomar medidas contra a Pfizer e contra a AstraZeneca pelos atrasos nas entregas. Para o ministro, as empresas tentaram dar um passo maior do que a perna.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse, por sua vez que a UE “podia acionar os mecanismos legais à sua disposição” para fazer face às quebras dos contratos. Depois do que foi exposto pelo El Mundo, falta saber o que poderá resultar destas ações.

Os países vão mesmo poder aproveitar uma dose extra?

Não, a empresa reduziu os frascos

Depois do arranque da vacinação contra a Covid-19 na Europa, começaram a surgir relatos de que os frascos continham mais uma dose do que o esperado: seis em vez de cinco. Se num primeiro momento se festejou o facto de se poder tirar mais uma ou duas doses do frasco, depois de as agências dos medicamentos autorizarem o uso desta sexta dose, a Pfizer começou a mandar menos frascos.

“A partir de 18 de janeiro de 2021, cada carregamento vai conter 1.170 doses e não 975, com uma redução de 20% no número de frascos”, informou a farmacêutica. Isto porque as compras são feitas em doses e não em frascos. Na verdade, o número de frascos são os mesmos, mas considera-se que têm seis doses e não cinco cada um.

Desta forma, a empresa vai poder mandar menos frascos para cada país, sem reduzir (ou reduzindo pouco) a quantidade de doses que deveria entregar. O problema é que o uso sistemático da sexta dose obrigava à utilização de agulhas especiais para que não houvesse desperdício dessa última dose que, tal como as outras, tem de ter um volume específico ou já não podia ser usada.

Não se trata “de pôr a UE primeiro, mas de ter direito à quota da Europa.”
Jens Spahn, ministro da Saúde alemão

A Alemanha tem a entrega de vacinas garantida?

Houve pelo menos negociações bilaterais

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, apoiou a decisão da Comissão Europeia de exigir maior transparência na exportação das vacinas produzidas dentro do espaço comunitário. “Faz sentido que haja obrigação de pedir autorização para exportação ao nível da UE.”

Curiosamente, a Alemanha é um dos países que encetou negociações bilaterais com as farmacêuticas, nomeadamente com a empresa alemã BioNTech (parceira da Pfizer), o que lhe vai permitir receber mais 30 milhões de doses além das que estão acordadas com a Comissão Europeia.

O governo alemão disse que isso não afetaria os acordos com a CE. A EuroNews destaca, no entanto, que não é claro se as vacinas vão ser entregues primeiro à Alemanha ou à União Europeia ou se estes acordos aconteceram à margem das negociações europeias. Sem falar que, por princípio, a União Europeia só admitiria negociações diretas entre os países e as farmacêuticas se a vacina não estivesse a ser comprada pela Comissão Europeia.

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A vacina russa Sputnik V vai ser distribuída na Europa?

Ainda não se sabe, mas a Hungria já a comprou

Cansada de esperar por vacinas que não estavam a chegar ao ritmo desejado, a Hungria decidiu negociar diretamente com a Rússia para comprar a vacina Sputnik V. A vacina foi aprovada por uma agência reguladora, mas terá ainda de ser aprovada por outra para poder ser distribuída, refere a DW.

“As expectativas eram muito elevadas e agora vemos que as entregas [no esquema europeu] são muito mais lentas e têm muito menos vacinas do que era suposto”, disse Péter Szijjártó, ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, citado pela EuroNews.

A Hungria torna-se assim o primeiro e único Estado-membro a aprovar e comprar a vacina russa — dois milhões de doses —, que também ainda não foi aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA). A Alemanha já se mostrou disponível para ajudar a Rússia a cumprir os requisitos legais do regulador europeu. Se a vacina for aprovada, a Alemanha beneficia também do negócio porque pode negociar com a Rússia uma produção e uso conjunto da vacina, noticia a DW.

Do lado da EMA, a informação é que ainda não receberam nenhum pedido de aprovação por parte da vacina russa, nem tão pouco têm em curso uma avaliação contínua (antes de os ensaios clínicos estarem concluídos), como aconteceu com as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna. O que já aconteceu entre a EMA e o responsável pela Sputnik foi uma reunião de aconselhamento técnico para que fossem cumpridos os padrões de exigência do regulador, noticia a Reuters.

“As expectativas eram muito elevadas e agora vemos que as entregas [no esquema europeu] são muito mais lentas e têm muito menos vacinas do que era suposto."
Péter Szijjártó, ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro

Que outras vacinas estão atrasadas?

A Sanofi/GSK e a Johnson & Johnson

A Sanofi/GSK, um dos grupos que fez acordo com a Comissão Europeia, adiou o lançamento da vacina baseada numa proteína recombinante para o final de 2021, depois de ter tido alguns resultados desanimadores no final de 2020. A Sanofi, no entanto, tem outra vacina em desenvolvimento, baseada em ARN mensageiro, em conjunto com a Translate Bio — mas ainda não está sequer em ensaios clínicos.

Além disso, e visto não ter vacinas para produzir entretanto, a Sanofi ofereceu a sua capacidade de produção para ajudar a BioNTech a produzir mais de 125 milhões de doses da vacina na Europa. As primeiras doses da vacina vão sair das instalações de produção da Sanofi, em Frankfurt, a partir do verão de 2021, refere o comunicado de imprensa enviado às redações.

“Estamos totalmente conscientes que, quanto mais cedo estiverem disponíveis doses da vacina, mais vidas poderão ser potencialmente salvas”, disse Paul Hudson, diretor executivo da Sanofi, em comunicado de imprensa. “Como sempre, a nossa prioridade principal é focarmos os nossos esforços e capacidades na luta contra esta pandemia mundial. Mas, acima de tudo, iremos também consegui-lo continuando a desenvolver as nossas próprias vacinas candidatas para a Covid-19, em paralelo com esta colaboração industrial.”

Já a Johnson & Johnson assinou um acordo de mil milhões de dólares com os Estados Unidos para o fornecimento de 100 milhões de doses até meados de 2021. A empresa, no entanto, está atrasada na produção e não vai conseguir fazer as entregas previstas para a primavera. A Johnson & Johnson tem também um acordo com a Comissão Europeia.

Israel é um caso de sucesso. França, um fracasso. Como está Portugal na vacinação contra a Covid-19?

Qual o ponto de situação da vacinação contra a Covid-19 no mundo?

Sucesso de Israel e nos Emirados

Já foram vacinadas quase 70 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo os dados do Our World in Data. Os Estados Unidos já administraram 23,5 milhões de vacinas e a China tinha 15 milhões de vacinas dadas até ao dia 20 de janeiro. Em terceiro lugar, no total de vacinas administradas está o Reino Unido, com 7,33 milhões. A União Europeia tinha dadas no total 9,38 milhões, 265 mil delas em Portugal.

Quando se mede, no entanto, a percentagem de pessoas vacinadas em cada país, Israel (46,71%) aparece destacado, seguido dos Emirados Árabes Unidos (27,07%) e só depois o Reino Unido (10,79%). Os Estados Unidos, porém, ainda só vacinaram 7,11% da população.

O segredo do sucesso dos Emirados Árabes Unidos está, em parte, no facto de terem poucos idosos. Como não houve prioridades dadas a grupos de risco, a vacinação decorreu de forma mais célere e com uma coordenação mais fácil. Outro ponto-chave é que o país pode produzir a vacina chinesa da Sinopharm que está a usar na imunização, descreve o El Mundo.

Portugal tem uma taxa de vacinação de 2,58% (a dia 26 de janeiro) e a União Europeia 2,11% (no dia 25). Espanha está ligeiramente acima (2,76%) — e já usou mais de 90% das vacinas que lhe foram entregues —, mas Itália (2,47%), Alemanha (2,29%) e França (1,67%) estão abaixo da media.

O panorama nos países africanos, no entanto, é muito mais sombrio. A maioria só terá imunização em massa a partir de 2023, segundo previsão da The Economist Intelligence Unit, que admite que, com o evoluir da pandemia, muitos dos países mais frágeis possam desistir da vacinação. Nesta situação encontram-se a generalidade dos países africanos, incluindo os lusófonos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, bem como Timor-Leste, como destaca a Lusa.

“Mais de 39 milhões de doses da vacina já foram administradas em pelo menos 49 países de alto rendimento. Mas apenas 25 doses foram administradas em um dos países de baixo rendimento. Não foram 25 milhões, não foram 25 mil, foram apenas 25″, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), numa reunião a 18 de janeiro. “É preciso ser franco: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico — e o preço desse fracasso será pago com vidas e meios de subsistência nos países mais pobres do mundo.”

O diretor-geral da OMS entende que os países queiram dar prioridade aos seus grupos de risco, como profissionais de saúde e idosos, mas não considera correto que adultos mais jovens e saudáveis nos países mais ricos sejam vacinados primeiro que profissionais de saúde e idosos nos países mais pobres. Tedros Adhanom Ghebreyesus critica ainda que as farmacêuticas tenham submetido primeiro os dossiês da vacina para avaliação às agência dos países mais ricos do que à OMS. O programa Covax da OMS assegurou dois mil milhões de doses de cinco produtores, que deverão começar a ser distribuídos em fevereiro.

"É preciso ser franco: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico — e o preço desse fracasso será pago com vidas e meios de subsistência nos países mais pobres do mundo."
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde

Porque é que a União Europeia está atrás do Reino Unido e Estados Unidos?

Porque investiu e comprou menos

O atraso apontado à União Europeia na vacinação dos seus cidadãos não depende só dos atrasos nas entregas das vacinas por parte das farmacêuticas, refere o Financial Times. Acontece porque também comprou menos doses, investiu menos dinheiro nas farmacêuticas e demorou mais tempo a aprovar o uso das vacinas.

A União Europeia e o Reino Unido compraram cerca de cinco doses por pessoa, enquanto os Estados Unidos compraram cerca de sete, segundo dados das Nações Unidas e do Eurostat, citados pelo jornal britânico. Por outro lado, a União Europeia investiu cerca de cinco euros por pessoa no desenvolvimento das vacinas, enquanto o Reino Unido e os Estados Unidos gastaram cerca de 30, segundo dados da analista Airfinity.

O jornal britânico destacou ainda que o Reino Unido, a 2 de dezembro, e os Estados Unidos, a 11 de dezembro, foram mais rápidos a conceder a autorização de uso de emergência das vacinas do que a Europa, que acabou por aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech só a 21 de dezembro. Mais, enquanto os dois países apostaram logo na compra das vacinas baseadas na nova tecnologia de ARN mensageiro (mARN), a União Europeia só o fez em novembro, quando teve mais segurança nos resultados dos ensaios clínicos.

O presidente-executivo da AstraZeneca, Pascal Soriot, destaca o mesmo tipo de atraso no acordo estabelecido com a Europa, numa entrevista ao jornal italiano La Repubblica. “Fechámos acordo com o Reino Unido em junho, três meses antes do acordo com a União Europeia.” O presidente reconhece que não vão entregar tudo o que tinham previsto, mas reforça que o que está no contrato com a União Europeia é que a empresa iria fazer os seus “melhores esforços” para produzir o mais possível.

Polémica. AstraZeneca lembra que Reino Unido fechou acordo três meses antes da UE. “Estamos a dar o nosso melhor”

Depois, cada país enfrenta as suas próprias limitações: a França tinha um sistema altamente burocrático, que atrasou o processo de vacinação, e a Holanda teve dificuldade em criar as condições de frio exigidas para a preservação da vacina da Pfizer/BioNTech.

O que atrasou a vacinação nos Estados Unidos?

Pessoas, locais e distribuição

Os Estados Unidos investiram muito mais dinheiro no desenvolvimento das vacinas e outros medicamentos contra a Covid-19 e compraram muito mais doses do que a Europa, mas, ainda assim, estão aquém daquilo que poderiam estar neste momento se o ritmo de vacinação fosse equiparável ao investimento feito.

Os estados queixam-se de que o governo federal se limitou a comprar e a entregar-lhes as vacinas sem lhes dar as condições de que precisavam para as fazer chegar às pessoas. “O estado e os departamentos de saúde locais estão a pedir há meses financiamento adicional e não receberam os fundos de que precisavam”, disse Leana Wen, professora de Saúde Pública na Universidade George Washington, à BBC. A professora acusa o governo federal de se ter demitido das responsabilidades depois de entregar as vacinas.

O chefe de gabinete de Joe Biden, Ron Klain, disse que não havia um plano para a distribuição das vacinas. A administração Biden planeia agora abrir mais postos de vacinação financiados pelo governo federal e pôr em circulação unidades móveis para chegar a áreas mais remotas, com pessoal suficiente para assegurar o serviço.

Ainda durante a administração Trump, os estados tinham sido interpelados para vacinarem todas as pessoas acima dos 65 anos, mas não aumentaram o número de vacinas entregues em cada semana e, em alguns casos, até reduziram, como noticiou o jornal The New York Times. Isso obrigou a que em algumas cidades, como Nova Iorque, os agendamentos para vacinação tivessem de ser cancelados, por falta de vacinas.

Porque é que a Merck desistiu da corrida às vacinas?

Optou por desenvolver medicamentos

A Merck tinha duas vacinas candidatas em estudo, mas os primeiros resultados foram desanimadores e a farmacêutica optou por abandonar os projetos para se dedicar ao desenvolvimento de medicamentos contra a Covid-19, que têm tido melhores resultados.

As vacinas, que agora já não ver a luz do dia, até era bem toleradas pelos voluntários nos ensaios clínicos — ou seja, era seguras —, mas geravam uma resposta imunitária inferior à de outras vacinas que estão no mercado ou em desenvolvimento e até inferior à das pessoas que recuperaram da doença, noticiou a Associated Press. Com uma eficácia de mais de 90%, a Pfizer/BioNTech e a Moderna colocaram a fasquia muito alta, embora para a Organização Mundial de Saúde baste uma eficácia superior a 50%.

Uma das vacinas estava a ser desenvolvida em conjunto com o Instituto Pasteur com base na vacina contra o sarampo. O instituto francês diz que vai continuar a trabalhar em duas outras vacinas candidatas que usam uma tecnologia diferente.

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