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André Ventura garantiu durante meses que só havia um governo de direita com o Chega
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André Ventura garantiu durante meses que só havia um governo de direita com o Chega

LUSA

André Ventura garantiu durante meses que só havia um governo de direita com o Chega

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Ventura já não fala sobre presença no governo e tenta menorizar Montenegro

André Ventura, que durante meses andou a falar da participação num governo de direita, deixou cair o tema e só fala quando questionado — e pouco. E ofende aqueles com quem quer sentar-se a negociar.

É perante aqueles que têm o voto mais do que definido, numa campanha praticamente sem rua, que André Ventura deixa cair o discurso do “não há um governo à direita sem o Chega”. Após meses e meses em que essa foi a única certeza que o presidente do Chega quis transmitir ao país, a realidade foi estragando os planos a Ventura, que acabou afastado de tudo e todos — e sem parceiros à direita disponíveis para negociar. O Chega ainda quer esse lugar, mas não vê maneira de o ter e André Ventura acabou obrigado a mudar a forma e o conteúdo.

A promessa de Montenegro sobre o cerco ao Chega obrigou à inversão do discurso e, se nos últimos dias o presidente do partido se focou numa estratégia de colagem do PSD e PS, também deixou de falar sobre uma solução de governo à direita. Exceção para momentos em que, confrontado com cenários de governabilidade, se refere à tal alternativa de direita — mas contido no tema. Pelo caminho, vai apostando nos exageros de linguagem e até ofendendo aqueles com quem ainda não deixou de sonhar sentar-se à mesa das negociações. Leia-se PSD ou Luís Montenegro.

Desde o arranque da campanha eleitoral, André Ventura pôs fim à tentativa constante de se intrometer numa solução à direita, mas nem por isso desistiu. Afastado pelo “não é não” de Montenegro e até por soluções em que o Chega é visto como um partido que pode ser isolado — uma sugestão de Rui Tavares em que há dois blocos, sem o Chega, e que governa quem daí conseguir uma maioria —, Ventura passou a dispensar bater sempre na mesma tecla. Até porque, pouco tempo antes das eleições, tentou o golpe final ao garantir que o Chega até pode aprovar um governo de direita sem pessoas nesse executivo e nem assim teve sucesso.

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Comício após comício, foi dissertando sobre o que PS e PSD fizeram ao país nos últimos 50 anos e colocando-se como o único rosto da “mudança” ou quem pode “fazer diferente” do que já foi feito. E não falou de governo, de ministros, de secretários de Estado — só não se esquece mesmo de dizer que está a trabalhar para chegar a primeiro-ministro — nem sequer de imposições para que o Chega faça parte dessa governação. Longe vão os tempos em que exigia pastas, e não eram poucas, em que deixava claro que o Chega não entrava num governo sem ter lá os seus representantes, nomeadamente em áreas como a Administração Interna, Justiça, Defesa ou Segurança Social, e em que admitia que até podiam ser independentes, mas sem abdicar do selo do partido que lidera.

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E se já em pré-campanha e antes do arranque oficial deu uma cambalhota para dizer que “até a nível nacional nunca disse que ser parte ou não ser parte [de um governo] era decisivo” e trocou as exigências no governo pela possibilidade de uma “espécie de documento conjunto de governo”, agora recuou e entrou num silêncio quase profundo sobre o tema.

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A exceção à regra aconteceu fora dos púlpitos dos comícios em que não há contraditório e onde a palavra de Ventura é de ordem e agita salas. Cá fora, em declarações aos jornalistas e à boleia de uma sondagem — mais uma das que têm permitido ao Chega dizer que há esperança na tripartidação — cenarizou com base numa teoria que Rui Tavares encetou no debate das rádios (que André Ventura atribuiu a Pedro Nuno Santos) e que se baseava na ideia de que existem três blocos: a esquerda, a direita e o Chega. Feitas as contas, Tavares sugeria que qualquer maioria — fosse o bloco da esquerda com PS, Bloco de Esquerda, CDU e Livre ou o da direita com AD e IL — podia governar, já que os votos do Chega não seriam suficientes para a derrubar, caso nenhum dos lados se juntasse a Ventura.

Esta tentativa de expulsão do Chega levou a uma das pouquíssimas intervenções de Ventura sobre governabilidade em período oficial de campanha e sempre com base em perguntas e não em discursos. Falou de “maioria à direita” como uma solução. “Não vamos deixar o país na ingovernabilidade, [mas] se essa maioria à direita existir significa que há condições para ir ao Presidente da República dizer que conseguimos construir uma alternativa e o PSD terá de decidir se quer apoiar o PS ou se quer um governo de direita.”

No dia seguinte, mais uma declaração aos jornalistas, mais uma insistência e mais uma resposta no seguimento do pedido da Iniciativa Liberal para uma “maioria clara” da AD e IL.  “Podemos fantasiar e chegar ao fim da noite e dizer que o Chega não é necessário”, reiterou, para rapidamente contrariar: “A escolha será entre um governo de direita ou um governo do PS porque nós nunca suportaremos um governo do PS.” Fim. Duas declarações em dois dias e após perguntas de jornalistas, em contraste com as horas que passou a falar do assunto nos últimos meses sempre que possível. O tema até pode voltar, Ventura até pode arranjar uma forma de o inserir novamente durante a campanha, mas a verdade é que, por enquanto, se tornou quase proibido falar sobre isso.

O presidente do Chega, André Ventura, participa numa arruada, na Praia da Areia Branca, Lourinhã, 24 de fevereiro de 2024. As eleições legislativas têm lugar a 10 de março. PAULO CUNHA/LUSA O presidente do Chega, André Ventura (C), durante arruada na rua de Santa Catarina, no centro do Porto, 25 de fevereiro de 2024. Arranca este domingo oficialmente a campanha eleitoral, nos termos da legislação, acabando no dia 8 de março, em contagem decrescente para as eleições legislativas de 10 de março, convocadas após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, a 7 de outubro. ESTELA SILVA/LUSA

PAULO CUNHA/LUSA

Acusações e negas obrigaram a rever discurso

No inner circle de Ventura considera-se que este é o culminar de uma “fase dolorosa” em que o Chega era “acusado de querer tachos” por estar a oferecer-se constantemente como parte de uma alternativa à direita. Se houve “cordões sanitários” e ainda assim Ventura insistiu, se houve pedidos para estar no Governo “com os valores que as sondagens dão” e do outro lado só vieram negas, a campanha foi o momento certo para virar a agulha.

E próximo de André Ventura considera-se que a decisão se tornou ainda mais categórica quando Nuno Melo admitiu viabilizar um governo minoritário do PS — e depois veio-o corrigir-se — ou quando Pedro Duarte, figura próxima de Luís Montenegro e presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, fez exatamente o mesmo. Com a justificação de que não existe clareza nas palavras de Luís Montenegro, o partido conclui que, “a partir daí, PS e PSD estão no mesmo barco” e o Chega tem de se colocar “no outro lado”. Foi o que aconteceu.

“Não querem, não querem”, resume um dirigente ao explicar que o partido percebeu que “a estratégia do PSD é isolar o Chega a todo o custo” e que, por isso, a técnica de Ventura foi afinada para passar a “atirar ao bloco central” — “Deixámos de ter um adversário e passámos a ter dois.” E a atitude de André Ventura é clara quanto a isso, em particular na linguagem que passou a usar relativamente a Montenegro, já o tendo até chamado de “frouxo” em tempo de campanha, e até à Aliança Democrática, que disse ser um “albergue espanhol onde cabem todos”.

Apesar da necessidade de mudar a agulha, há uma tese dentro do núcleo duro do Chega: até seria mais fácil existir uma maioria absoluta de AD e IL — o que permitia que Ventura não tivesse de tomar uma decisão —, do que ter de ficar às costas com a responsabilidade de viabilizar ou mandar abaixo um governo de direita para o qual não é convidado. No primeiro cenário, o Chega até podia votar contra esta solução e justificá-lo com os vários argumentos que foi explanando e com o intuito de poder continuar a fazer uma oposição cerrada com olhos no futuro.

O presidente do Chega, André Ventura, esteve presente num almoço comício com militantes do partido, no âmbito da campanha para as eleições legislativas de 10 de março, em Macedo de Cavaleiros, 29 de fevereiro de 2024. O Presidente da República decretou a 15 de janeiro a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, apresentada em 07 de novembro, por causa da Operação Influencer, e de imediato aceite pelo Presidente da República. PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Ventura, o ignorado vs. Ventura, o ofensivo

Vestido com um novo fato desde que entrou na caravana, o presidente do Chega tem optado por deixar desafios à direita, como aconteceu no caso do pacto para a imigração, e já lançou um repto a Luís Montenegro para que não apoie Miguel Albuquerque na recandidatura à liderança do PSD/Madeira. A questão, neste caso, está mesmo nas respostas ou na falta delas, já que, depois de isolado por todos, Ventura surge agora ignorado. Confrontado com o silêncio constante que recebe dos adversários, Ventura começou por desvalorizar e por dizer que fala para o povo. Segundos depois, afinal, completou para dizer que se os adversários acham que “o terceiro maior partido deve ser desprezado talvez no dia 11 acordem com uma surpresa desagradável”. E, duas horas mais tarde, fez da pergunta tema no discurso do comício na Guarda e já tinha uma “reflexão”.

“Queria começar por algo que nos tem entrado pela, dia a dia, hora a hora, e que merece uma reflexão: desde que o Chega se assumiu nas sondagens como o desafiador, os partidos procuram qualquer solução para deixar o Chega de fora, fazem os maiores malabarismos políticos parlamentares e diplomáticos para ver se conseguem isolar o Chega. Perguntam-nos se nos sentimos mal com isso, por ficar a falar sozinhos, mas nós nunca criámos este partido para andar em cocktails com os outros partidos”, assegurou André Ventura, com promessas de que o partido foi e será para “falar para os portugueses” e insinuando que o “medo” dos outros partidos vem do facto de os “tachos estarem a acabar em Portugal”.

Com ou sem cocktails, dentro ou fora de albergues espanhóis, a verdade é que André Ventura passou grande parte dos últimos anos à procura de um lugar numa solução à direita e com a colagem de PS e PSD caiu num discurso que o pode entalar: critica, ofende e diz tanto mal de Luís Montenegro, do PSD e da AD e, afinal, continua a querer sentar-se a uma mesa de negociações?

Todos os temas servem para mostrar que o líder do Chega voltou a adotar o discurso mais radical em tempos de campanha. Em poucos dias já disse que o PSD era uma “prostituta política”, que o seu presidente era “frouxo”, já o imitou em tom de gozo através de uma voz fina, já o acusou de ser “igual ao PS” e de ter a “mesma fraqueza” no combate à corrupção, já disse que era “incompetente” e até “miserável”, que o PSD era um “idiota útil”, que Passos Coelho tinha ido dar “dois estalos” ao comício da AD e até que o ex-líder foi ensinar o que Montenegro não percebeu em dois anos de liderança. Neste caso em específico, palavra atrás de palavra, não há cordialidade, o mínimo de sentido de Estado ou até de respeito para com alguém com quem se quer sentar à mesa.

Relativamente ao tratamento para com Luís Montenegro, André Ventura nem sequer tenta aligeirar: “Para mim, ainda que vocês não acreditem, com todos os adjetivos que são verdadeiros, tenho sempre uma regra, Portugal primeiro.” Posto isto, mesmo que tenha afastado estrategicamente o discurso de governação e e critique Luís Montenegro sem pudor e com tudo o que serve de arma de arremesso, André Ventura continua a querer fazer parte de uma solução à direita. Resta saber de que forma falaria com e sobre aquele que teria de ser o seu parceiro.

 
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