“O genocídio continua.” É o que se lê numa publicação que circula do Facebook, em letras garrafais e vermelhas, e que defende que 82% das grávidas sofreram abortos depois de serem vacinadas contra a Covid-19. A publicação cita um estudo, embora não identifique qual é, que supostamente conclui que, de 127 mulheres, 104 sofreram abortos depois de terem sido inoculadas nos primeiros seis meses da gravidez. Existe de facto um estudo sobre a segurança da vacina em mulheres grávidas, mas a conclusão é totalmente diferente: a percentagem de abortos corresponde a 12,9% — o que está dentro do valor esperado entre 10% e 26%.

A publicação já ultrapassou a centena de partilhas

O estudo em causa foi publicado em junho de 2021 na publicação científica New England Journal of Medicine e intitula-se “Descobertas preliminares da segurança da vacina de mRNA Covid-19 em pessoas grávidas“. Foram selecionadas 3.958 mulheres, com idades entre os 16 e 54 anos, que estavam grávidas no período de 14 de dezembro de 2020 a 28 de fevereiro de 2021 e que foram vacinadas contra a Covid-19.

Das 3.958 mulheres grávidas, 827 completaram a gravidez durante o período em análise — o que não quer dizer que as restantes 3.131 tenham tido abortos, ou seja, 79,1%: simplesmente, ainda continuavam grávidas depois de terminado o período do estudo, isto é, ainda não tinha completado os nove meses de gestação e, portanto, não foram contabilizadas. Assim, o número de mulheres em análise passou de 3.958 para 827.

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Agora sim: das 827 mulheres grávidas e vacinadas, 115 sofreram um aborto — o que corresponde a 12,9%. Dos 712 (86,1%) casos em que chegaram ao parto, 9,4% foram nascimentos prematuros e 3,2% dos recém-nascidos tinham um tamanho abaixo da média. No entanto, nenhuma morte pós-parto foi relatada.

O estudo vinca que estes resultados registados em mulheres grávidas e que tinham sido vacinadas contra a Covid-19 “foram semelhantes às incidências relatadas em estudos com mulheres grávidas que foram feitos antes da pandemia de Covid-19”. O valor esperado de abortos em mulheres grávidas que são administradas com qualquer vacina está entre 10% e 26%.

É verdade que o próprio estudo acaba por concluir que não existem “sinais de segurança óbvios entre as grávidas que receberam vacinas de mRNA Covid-19“, mas não é correto afirma que 82% das mulheres sofreram um aborto. O estudo ressalta que é preciso fazer “um acompanhamento mais longitudinal, incluindo o acompanhamento de um grande número de mulheres vacinadas no início da gravidez”.

Conclusão

Publicação cita um estudo que, supostamente, diz que 82% das grávidas sofreram abortos depois de serem vacinadas contra a Covid-19. Existe de facto um estudo sobre a segurança da vacina em mulheres grávidas, mas a conclusão é totalmente diferente: a percentagem de abortos corresponde a 12,9% — o que está dentro do valor esperado entre 10% e 26%.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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