A guerra entre Israel e o Hamas e os sucessivos ataques à Faixa de Gaza são um tema incontornável e as redes sociais não são exceção.
Está a ser partilhado um vídeo, em várias publicações no Facebook, que mostram lojas e estabelecimentos comerciais a ser “marcados” por “apoiantes do Hamas”, em Moscovo. O vídeo em questão mostra uma mulher a pintar com tinta negra a palavra “Mossad” ao lado de uma estrela de David, na parede de um restaurante.
A legenda do vídeo relaciona a situação com a guerra na Faixa de Gaza. Assegura que o Hamas apelou aos “simpatizantes” em todo o mundo que “atacassem judeus” e lembra que já houve “incidentes” noutros países europeus.
Desde os ataques do Hamas contra Israel, a 7 de outubro deste ano, e da consequente resposta do exército israelita contra a Faixa de Gaza, foram vários os alertas deixados sobre o alastrar da violência ao continente europeu. As autoridades de Israel chegaram a pedir aos judeus de todo o mundo que se mantivessem “vigilantes“, depois do apelo do Hamas para uma onda de manifestações contra os bombardeamentos israelitas em Gaza.
Portanto, nesse ponto, a publicação acerta. Em vários países europeus, os ataques antissemitas voltaram a crescer, logo a seguir ao início da guerra em Gaza. França registou 20 “atos antissemitas”, dois dias depois dos ataques do Hamas. Países como Alemanha, Espanha, França e Reino Unido tomaram medidas para proteger sinagogas, escolas e instituições, e Portugal não foi exceção, ao elevar o grau de ameaça de ataque terrorista.
Este é o contexto que leva a publicação a denunciar mais episódios de violência contra a população judaica, desta vez na Rússia. A imagem mostra dois graffitis, um a ser pintado por uma mulher no exato momento da gravação, e são dois símbolos associados à comunidade judaica e israelita. A palavra Mossad refere-se ao Instituto de Inteligência e Operações Especiais, os serviços de informações de Israel. Ao lado, e separado por uma janela, está uma estrela de David, um símbolo que os judeus foram obrigados a usar pelo Governo nazi durante a II Guerra Mundial.
Aliás, depois do estalar do conflito no Médio Oriente, foram encontradas estrelas de David pintadas à porta de casa de famílias judaicas em Berlim e em Paris. Mas terá acontecido o mesmo em Moscovo, como mostra o vídeo em análise?
O Observador recorreu à ferramenta TinEye, que permite pesquisar a origem de uma imagem que não esteja contextualizada ou seja manipulada, para encontrar dois sites russos, aqui e aqui, que mostram o mesmo vídeo, mas com uma grande diferença: foi publicado há quatro anos, quatro anos antes do novo escalar do conflito entre Israel e o Hamas.
E além disso, no prédio que está a ser grafitado conseguimos perceber graças à janela que pertence à hamburgueria BB&B, que é de facto uma hamburgueria russa, com restaurantes em Moscovo e São Petersburgo e, após analisar as publicações no Facebook, sem qualquer relação com Israel, a Palestina ou Hamas.
Conclusão
Não há dúvidas que a guerra na Faixa de Gaza incendiou uma onda de reações em todo o mundo e também na Europa. Milhares de pessoas saíram às ruas nas principais capitais europeias a exigir um cessar-fogo na luta entre Hamas e Israel. E também não há dúvidas que o conflito aumento o número de ataques e ameaças antissemitas, em países como França e Alemanha.
Ainda assim, o vídeo que é utilizado nestas publicações, para demonstrar como em Moscovo “lojas e comércios judaicos estão a ser marcados por apoiantes do Hamas” foi publicado, na verdade, há já quatro anos. Muito antes dos acontecimentos de sete de outubro que geraram esta onda de reações. Além disso, a hamburgueria que é alvo dos grafittis com a palavra Mossad e com a estrela de David – há quatro anos – não aparenta ter qualquer relação, quer com Israel, quer com a Palestina.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.