A fotografia mostra o primeiro-ministro, António Costa, ao lado do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de outras pessoas, incluindo alguns militares. A legenda que se pode ler no canto inferior da imagem parece tratar-se de um oráculo que, normalmente, acompanha as reportagens nos noticiários televisivos. Parece, também, indicar que este momento teve lugar nas cerimónias do 10 de junho, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que este ano se realizou a norte do país, no Peso da Régua. Foi, de resto, um dia que ficou marcado pelo momento em que António Costa confrontou um professor que se manifestava com um cartaz que o primeiro-ministro considerou “racista”.
Na imagem que acompanha esta publicação há, desde logo, um pormenor que salta à vista: enquanto as pessoas que o rodeiam estão de cara séria e com as mãos estendidas ao longo do tronco, o chefe de Governo surge, pelo que dá a entender a fotografia, a mexer no telemóvel. Esta é uma tese que ganhou relevo ao longo dos últimos dias, sendo partilhada várias vezes nas redes sociais. Num destes posts, um autor alega que António Costa mostrou “falta de respeito, falta de educação, falta de sentido de estado” e um comportamento “indigno”, ao preferir olhar para o telemóvel “durante a execução do hino nacional”. Mas será verdade?
O momento registado aconteceu nas comemorações do 10 de junho, no Peso da Régua, onde as três maiores figuras do país marcaram presença: o Presidente da República e o primeiro-ministro, representados na imagem, mas também o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que não aparece no enquadramento da fotografia. Tendo em conta a solenidade e o contexto da cerimónia, a audição do hino nacional foi também um dos momentos que marcaram a data, feriado nacional. No entanto, não terá sido exatamente nesta altura que foi tirada a fotografia em questão.
Tal como já vem sendo hábito, a cerimónia oficial do Dia de Portugal foi transmitida em direto em vários canais televisivos, incluindo na RTP. O vídeo das comemorações foi, igualmente, disponibilizado na página oficial da televisão pública portuguesa e no serviço de visualização RTP Play. Na gravação, podemos confirmar que o hino nacional começou a ser tocado pela Banda da Armada no momento 30:33, quando Marcelo Rebelo de Sousa chega ao local, acompanhado pela ministra da Defesa Nacional e por vários representantes militares. Numa tribuna coberta, junto a uma passadeira vermelha, já o aguardavam o primeiro-ministro e alguns elementos do Governo socialista. No entanto, durante toda a duração do hino, que se prolonga durante cerca de um minuto, o Presidente da República mantém-se afastado de António Costa, só subindo à tribuna alguns momentos mais tarde.
Igualmente, durante o minuto de atuação da Banda da Armada, não vemos uma única vez António Costa a recorrer ao telemóvel, muito pelo contrário. O chefe de Governo surge, também, a cantar o hino nacional, tal como os restantes representantes dos órgãos de soberania.
É verdade que António Costa aparece a mexer no telemóvel na gravação, mas tal só acontece no momento 1:25:15, quando os presentes assistem à parada militar. Não estava, nessa altura, a soar o hino nacional e a distração dura apenas alguns segundos.
Costa irritado, Galamba vaiado e Marcelo feliz. As imagens das cerimónias do 10 de Junho
Contactado pelo Observador, o gabinete do primeiro-ministro confirma, igualmente, que a “publicação é falsa”, remetendo para o vídeo da transmissão televisiva da cerimónia oficial, disponibilizado pela RTP. Numa resposta por email, o gabinete de António Costa acrescenta que “no momento em que o primeiro-ministro consultou o telemóvel”, perto da hora e meia de gravação, “obviamente não estava a ser ouvido o hino nacional”.
Conclusão
Publicação surge descontextualizada. Não é verdade que António Costa tenha sido apanhado a mexer no telemóvel enquanto soava o hino nacional, durante as cerimónias do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreram no Peso da Régua. Esse momento aconteceu minutos mais tarde, durante o desfile das forças militares. Gabinete do primeiro-ministro desmentiu a publicação, numa resposta enviada ao Observador.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.