Quem diria que o país estagnava com a adesão ao euro? As expectativas eram muito elevadas apesar dos sinais contrários já naquele tempo: défices orçamentais sucessivos, fruto de uma economia fortemente estatizada. O país acreditava que o futuro residia nas empresas denominadas de ‘campeãs nacionais’, não na livre concorrência nem na poupança ou sequer no investimento, como uma moeda forte como o euro exigia. Foi o tempo da PT, da EDP, da GALP, da banca como motor económico porque financiava o Estado e a compra de casas.

Não deixa de ser curioso que o governo desse tempo fosse do PS.

É interessante perceber como o socialismo aprecia as grandes empresas com ligações ao poder político. Recordam-se quando se dizia que a política devia mandar na economia? Se a economia é a soma das escolhas que as pessoas fazem, pôr a política a guiar a economia pressupõe colocar os governantes a mandar nas pessoas; nas nossas escolhas individuais. É muito mais difícil dirigir pessoas que ordenar empresas; da mesma forma é mais complicado lidar com milhares de pequenas e médias empresas a criar laços com um número reduzido de grandes empresários.

Economicamente o país estagnou porque se acreditou que o desenvolvimento podia ser politicamente dirigido. Ainda hoje há quem creia que o crescimento económico é um desafio político. Não é verdade. O grande desafio político é o da contenção. É nesse ponto que reside o garante da liberdade política e económica. É este o grande princípio das democracias liberais: limitar o poder político de modo a garantir que ninguém, seja por via do Estado ou das grandes empresas, controle ou condicione a vida dos cidadãos.

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Este conceito do crescimento económico depender da vontade política podia ter terminado com a última crise financeira. O que falhou até 2011 não foi apenas o PS ter fechado os olhos ao que fazia o seu líder. O que falhou foi um modelo de desenvolvimento que não devia ter sido repetido depois de José Sócrates: o despesismo, o crescimento meramente baseado no consumo, nos grandes negócios, nas grandes empreitadas, nas grandes empresas, nos grandes sonhos. Na crença cândida de um milagre.

Não deixa de ser curioso que o governo desse tempo também fosse do PS.

A geringonça foi a forma que o PS encontrou para prolongar esse tempo. Fizeram-se alguns ajustes, embora aparentes. Pareceu a muitos que as contas batiam certo, pareceu a muitos mais que o excedente orçamental era sustentado, mas nada mudou que não fosse a ajuda do BCE, as cativações na educação e na saúde e um crescimento económico alicerçado no turismo. Nada que tivesse futuro: as ajudas do BCE não são eternas, a pandemia colocou à vista de todos o custo das cativações orçamentais e não sabemos como vai ser o turismo no pós-pandemia e com o debate das alterações climáticas no topo da agenda política. Pode voltar a ser como era, mas não é garantido e o tempo da crença nos milagres, nas grandes empresas (como agora é a vez da TAP) devia ter sido definitivamente afastado em 2011. Infelizmente assim não parece ser pois o PS aguarda pelo PRR para modernizar o Estado e distribuir fundos entre empresas que cumpram os critérios que o poder político estabelece.

Não deixa de ser curioso que o governo deste tempo seja do PS.

Com eleições à porta há o risco que continue o impasse político que levou ao chumbo do orçamento. Foi a estagnação económica que conduziu a esta estagnação política. A economia a mandar na política. É muito difícil gerir politicamente um país improdutivo em que o Estado consome boa parte dos seus recursos. Independentemente disso Portugal parece habituado com a estagnação. A indolência que encontramos nos dirigentes do PS tem as suas raízes aqui.

Será curioso se o governo do tempo que aí vem ainda for do PS.