Parece que na passada quinta-feira entrou em vigor a Lei da Censura, perdão, a Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, que diz combater a “desinformação”. Não se nota. Ao que me contam, as televisões continuam a receber governantes e “especialistas” empenhados em espalhar mentiras acerca da Covid. Para cúmulo, as mentiras, que antes tentavam fingir-se alinhadas com a ortodoxia internacional na matéria, são cada vez mais descaradas e exóticas. Julgo que em nenhum outro lugar do mundo há “autoridades” a garantir que a vacina não protege da infecção nem reduz a possibilidade de contágio.

Aqui há. Aqui há de tudo. Aqui até há tempo de antena, sem contraditório, para médicos que descrevem o “caos” nos hospitais onde trabalham, embora alguns estejam às moscas no que toca a internamentos motivados pelo vírus chinês. Aqui há entidades oficiais que empreendem uma gigantesca campanha de vacinação sem assumir, ao contrário do que acontece com as suas congéneres no resto do planeta, uma única consequência positiva para as pessoas que aceitam a injecção, ou são empurradas para ela. Aqui há um primeiro-ministro que, para inspirar subjugação, simula estar em “isolamento profilático” após alegadamente se ter vacinado, observado as “regras” e testado negativo. Aqui há charlatães que puxam dos pergaminhos em medicina, matemática ou pólo aquático a explicar que a atitude do dr. Costa faz sentido. Os charlatães afirmam que temos de nos vacinar, testar, distanciar e usar um farrapo nas trombas porque se não nos vacinarmos, testarmos, distanciarmos e usarmos um farrapo nas trombas podemos adoecer e contaminar o próximo, e que se nos vacinarmos, testarmos, distanciarmos e usarmos um farrapo nas trombas podemos na mesma adoecer e contaminar o próximo. A lógica disto é irrefutável: entrámos no manicómio. Naturalmente, os malucos, que aparentam ser uma vasta parte da população, batem palmas.

O engraçado, se não fôssemos vítimas, é que isto é perpetrado em nome da “ciência”. Há quase 200 anos, o velho Proudhon lançou o conceito de “socialismo científico”, e desde então andamos a descobrir o que sucede quando essa contradição em termos vem ao de cima. Misturar a cegueira com a busca do conhecimento não é apenas impossível: é desastroso. No desastre vigente, limitamo-nos a pagar o preço por deixar um assunto de saúde pública nas mãos de fanáticos, oportunistas e demagogos sem escrúpulos e com ambição. Claro que a culpa é partilhada pelos “media” tradicionais, que têm na loucura “pandémica” o alívio provisório do seu fatal anacronismo. E por uma oposição castrada. E por “peritos” que repetem delírios para esticar a inesperada popularidade de que começaram a desfrutar. Porém, em penúltima instância, a culpa é de quem manda. Em última, é de quem percebe a prepotência e se resigna à prepotência.

Duas ou três considerações. A Covid provocou em toda a parte reacções a princípio desorientadas e, depressa se notou, exageradas. É talvez um sinal dos tempos, tempos de maior conforto e menor discernimento: em 1958 e 1968, as gripes Asiática e de Hong Kong, respectivamente, mataram quantidades similares à Covid sem um milésimo da balbúrdia e dos danos “secundários”. De qualquer modo, em 2021 existe a vacina. A vacina, ao que se constata, funciona (e numa percentagem significativa para todas as “variantes”, incluindo a Delta Plus, a Delta Ultimate e a Delta Mega Force). Nas nações democráticas, a eficácia da vacina é um argumento para o regresso ao normal, descontados certos resíduos autoritários que conviria erradicar em breve. Em Portugal, regressar ao normal não é hipótese.

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Em Portugal, a Covid é um pretexto, e já não uma ameaça. Há um partido, com um projecto muito adiantado de conquista do poder, que se foi apercebendo das portas que a Covid lhe abria. Não é difícil reinar arbitrariamente sobre uma sociedade primitiva, fechada à realidade e aberta à crendice e à dependência. Se lhe acrescentarmos o medo, leia-se um pavor irracional da morte alimentado por “noticiários” de fancaria, a conquista fica consumada. Por isso o governo e os seus serviçais teimam na estratégia do susto, à revelia da ciência de facto: uma sociedade embrutecida, temerosa e decorrentemente doida facilita a empreitada.

Doidos não faltam. Os doidos despejam babugem nas mãos de dez em dez minutos, ainda que o risco de apanhar o vírus em superfícies seja comprovadamente ínfimo. Os doidos usam máscara ao ar livre e nos próprios carros. Os doidos são incapazes de ponderar riscos banais. Os doidos tomam a vacina e não acreditam que a vacina os defenda. Os doidos, que apreciam salário seguro e Netflix, exigem confinamentos para prevenir calamidades imaginárias e suscitar calamidades certas. Os doidos levam a sério a propaganda alucinada (Ai, o R(t)! Ai, a “incidência”! Ai, a estirpe Omega!) e desprezam a evidência de que a Covid, enquanto doença mortal e enquanto vigorar a função das vacinas, praticamente sumiu. Os doidos, que em Janeiro comparavam as mortes “de” e “com” Covid à queda diária de um avião, não fazem comparações com o acidente diário de um Smart. Os doidos não entendem que a discrepância entre o aumento de “casos” e o número de mortes é uma óptima notícia e não um truque para violar a Constituição, decretar “obrigações” ilegais, arrasar o pouquíssimo que sobra da economia e reforçar o domínio. Os doidos são a prova de que a Covid produz estragos duradouros no cérebro, incluindo antes da infecção.

Algures neste ano e meio, perdi a paciência para com os doidos. Afinal, é graças à cumplicidade deles que somos esmagados e enxovalhados e assaltados e até atropelados por Costas, Marcelos, Ferros, Cabritas, Martas, Gracinhas, Pedros Nunos, Salgados, Vieiras da Silva, Mortáguas, Medinas, Césares, Louçãs, Rios e o que calha. A doideira não é atenuante para o mal que causam. Os taradinhos da Covid que se entretenham a cumprir “regras” e ler gráficos insultuosos, como os antigos liam as entranhas das perdizes para decidir se desposavam a vizinha ou cultivavam cevada. Embora tardiamente e aos poucos, a generalidade dos países reduziu a Covid a um problema que importa ultrapassar. Os portugueses que gostam de mandar e os portugueses que gostam de obedecer vêem na Covid uma benesse permanente. É com eles.

Aos demais, os raros portugueses que prezam a liberdade, cabe rir das restrições, dos cercos, das multas, dos políticos, das polícias, dos “peritos” e dos patetas – e viver a vida. Eu, pelo menos, só tenho uma. E, aqui ou em paragens civilizadas, não tenciono desperdiçá-la na veneração de pânicos falsos e bandidos verdadeiros. (E agora, enfim, chega o divertido momento em que o chalupa da aldeia consulta os astros e o boletim da DGS, desce a máscara ao queixo, aponta o dedinho a pingar álcool-gel e, transido, acusa-me: “Negacionista”. Mas se lhe atiramos alho ou um espirro ele foge).