Na Europa, há muita gente preocupada com a eleição de Trump. Há boas razões para isso, mas os europeus são os culpados. A Europa não é a única aliada dos Estados Unidos. A Austrália, o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas, a Índia, Israel, a Arábia Saudita, os Emirados, o Qatar são todos aliados dos Estados Unidos. Nenhum dos governos destes países está muito preocupado com a eleição de Trump. Ou, pelo menos, nenhum está tão preocupado como os países europeus. Isto mostra que o problema não é Trump e os aliados, o problema é a Europa.

Vamos recuar a meados dos anos de 1990 (século passado). Na altura, quando começou a guerra da Bósnia, o então MNE do Luxemburgo (Jacques Poos), falando em nome da União Europeia, afirmou: “Esta é a hora da Europa. Não é a hora dos Estados Unidos.” Sabemos o que aconteceu a seguir. Os Estados Unidos e a NATO resolveram a guerra na Bósnia. Não foi a União Europeia, nem apenas os europeus. Todos os líderes europeus perceberam que a defesa da Europa ainda dependia dos Estados Unidos. Por que razão três décadas depois a Europa está exactamente onde estava em 1995?

Por que razão a defesa da Europa continua a depender dos Estados Unidos? A resposta é muito simples. Nos últimos trinta anos, as lideranças políticas europeias, sobretudo na Alemanha, em França, no Reino Unido (menos, apesar de tudo), e em Itália (os grandes é que devem liderar na defesa), têm sido irresponsáveis, fracas e cobardes.

Os governos europeus souberam sempre que a Europa dependia dos Estados Unidos para se defender. Apesar disso, a sua política foi desejar que a política externa norte americana não mudasse, apaziguar a Rússia, a maior ameaça à segurança europeia, e exportar para a China, ficando também dependente do mercado chinês. Foi isto que fizeram Schroeder e Merkel desde os anos de 1990 (os únicos Chanceleres alemães até Scholz), apoiados por Chirac, Sarkozy, Hollande e Macron. Trump foi Presidente entre 2016 e 2020, e o investimento europeu na defesa não aumentou. Continuou tão baixo em 2020 como em 2016. Eis o retrato da irresponsabilidade europeia.

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Além disso, os líderes europeus nunca tiveram a coragem de explicar aos seus eleitores que os seus países precisam de gastar mais dinheiro com defesa. Não explicaram porque sabiam que não era popular, foram incapazes de liderar, e só se preocuparam com a opinião pública, a sua popularidade e em ganhar a próxima eleição. Em suma, foram fracos, medrosos e…populistas.

Foi necessário Putin invadir a Ucrânia para os países europeus decidirem investir mais na defesa. Desde 2022, os investimentos na defesa na Europa aumentaram cerca de 1/3. Mas não chega. Os países europeus e a União Europeia terão que investir muito mais na defesa. E os líderes europeus terão que explicar isso aos seus cidadãos, com muita clareza e sem medo. Só assim os europeus poderão voltar a garantir a sua defesa e deixar de depender dos Estados Unidos. Espero que continuem a ser aliados, é mesmo fundamental que assim seja. Mas a Europa tem que ser um aliado maior, e não menor.

Se a eleição de Trump contribuir para a Europa vir a garantir a sua segurança, seja muito bem vindo senhor Presidente. Se nem Trump o conseguir, então a Europa não contará para nada na geopolítica do século XXI. Serão os líderes europeus capazes de fazer nos próximos anos o que os seus antecessores não fizeram em três décadas? O cepticismo é, neste momento, a resposta natural.