Vivemos tempos tão conturbados que já começa a faltar capacidade de discernimento sobre a realidade passada e presente. De facto, recentemente, e cada vez com mais frequência, somos confrontados com ideias completamente absurdas sobre factos históricos ocorridos. E são muitas! Vejamos apenas alguns exemplos: há quem levante a possibilidade de atribuir indemnizações às antigas colónias; há quem considere justo destruir estátuas e outro tipo de património; há também quem qualifique manuais de História como racistas; há mesmo quem afirme que a Ucrânia não deve existir porque é território russo. Interrogamo-nos se levantar tais questões fará, agora, algum sentido.

Chegámos ao século XXI convencidos de que a civilização ocidental quase tinha atingido a perfeição. Na realidade, basta recuar dois ou três séculos para perceber que, depois de tantas revoluções e convulsões, muito se conseguiu obter em matéria de Direitos Humanos e na manutenção do equilíbrio necessário e possível para a paz na ordem internacional. Afinal parece que nada disto devemos dar como garantido. Pensando bem, estaremos a evoluir ou a regredir? Onde poderemos encontrar respostas?

Voltemos aos exemplos anteriormente elencados. Todos eles aconteceram em contextos específicos que só uma ciência pode explicar: A História! Esta ciência dedica-se a estudar a ação do Homem ao longo do tempo, à luz de um horizonte temporal e espacial onde se inserem os factos, procurando explicá-los e relacioná-los, socorrendo-se de todo o tipo de fontes a que possa ter acesso. Assim, se estudarmos a História desses factos, compreenderemos que os seus contextos, positivos e negativos, não se podem apagar. Com base nestas premissas, a resposta a essas questões configura uma análise enviesada e descontextualizada de quem parece não querer conhecer a verdadeira História de temas como os Descobrimentos ou o Colonialismo. Trata-se de um exercício utópico e fisicamente impossível de se realizar ao abrigo dos critérios do século XXI, o que se traduz numa tentativa irracional de pretender reescrever a História. Ainda sobre a situação da Ucrânia se, por hipótese absurda, aceitássemos o entendimento de que é território russo, onde é que tal raciocínio nos levaria? E até quando teríamos de remontar? Nessa perspetiva, Portugal não teria de reclamar metade do mundo assim como a Espanha, segundo o Tratado Tordesilhas? Pois sim, mas a Espanha também poderia reclamar Portugal, recuando à Dinastia Filipina? Ou mais longe ainda, ao Condado Portucalense? Não! É melhor não irmos por aí. Este caminho não teria mais fim.

A História não se reinventa nem serve apenas para desenterrar o passado. Atualmente, a maioria dos comentadores das mais diversas áreas socorrem-se desta ciência para, por exemplo, informar e explicar os conflitos mais graves que estão a acontecer na Ucrânia e em Gaza.

Não, a História não será pedra morta, nem cofre para esconder o passado. Através desta ciência, conservamos as nossas memórias e as de toda a humanidade, compreendemos melhor a realidade presente e, sobretudo, encontramos inspiração para preparar melhor o futuro.

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