Há muito tempo que a nossa rotina diária é influenciada pela Inteligência Artificial. Soluções como o Waze ou o Gmail otimizam as nossas tarefas e o nosso dia-a-dia – desde encontrar o melhor caminho em dias de trânsito até ajudar a escrever aquilo que queremos dizer. Além disso, a Inteligência Artificial personaliza as nossas experiências, como no caso do Spotify ou Netflix, quando nos sugerem conteúdos com base no conhecimento que já têm acerca dos nossos gostos.

Estes exemplos simples ilustram a integração profunda da Inteligência Artificial na nossa vida quotidiana, há já alguns anos, mas que muitas vezes passa despercebida. No entanto, mesmo num mundo em que a Inteligência Artificial é parte integrante dos nossos dias, o termo “Inteligência Artificial” frequentemente conduz a expressões alarmantes, como se fosse uma ameaça iminente, um perigo para todos, um monstro tecnológico.

O ponto de viragem, que marcou a transição entre uma utilização diária e tranquila de soluções baseadas em Inteligência Artificial para um estado de alarmismo mais ou menos generalizado, deu-se no final de 2022 com o acesso massivo ao ChatGPT. Talvez porque esta plataforma teve a capacidade de mostrar algumas das capacidades da Inteligência Artificial, perante todos, de uma forma mais clara que nunca. O ChatGPT cria conteúdos de forma imediata, com base naquilo que o utilizador lhe pede, acerca de qualquer tema – até aqui, as interações que as pessoas mantinham com a Inteligência Artificial nunca tinham sido tão diretas, com resultados tão impressionantes. Embora estivéssemos familiarizados com o uso de soluções baseadas em Inteligência Artificial (muitas vezes sem perceber), a interação direta com a Inteligência Artificial, dando resposta aos nossos pedidos e a trabalhar em nosso benefício, foi uma experiência inédita para a maioria, despertando fascínio e, ao mesmo tempo, medo.

A tecnologia que está subjacente ao ChatGPT, Inteligência Artificial Generativa, não é nova nem é mais poderosa do que outras formas de Inteligência Artificial com as quais já convivemos há tantos anos. É crucial entender que a Inteligência Artificial Generativa é uma ferramenta valiosa e transformadora, assim como o Google é uma poderosa ferramenta de busca e as enciclopédias eram fontes de informação. Todas contribuem para criação de conteúdos e geração de ideias.

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O mais correto e alinhado com a realidade será vermos a tecnologia como uma extensão das capacidades humanas e a Inteligência Artificial como mais uma ferramenta disponível. Como qualquer outra ferramenta, o impacto da Inteligência Artificial depende da forma como é utilizada. Em vez de a considerarmos um potencial aniquilador de postos de trabalho, devemos vê-la como um meio para realizar tarefas repetitivas e/ou de baixo valor numa fração do tempo que costumavam requerer, por exemplo. As horas anteriormente dedicadas a tarefas monótonas podem agora ser investidas na exploração do nosso potencial criativo, na resolução de problemas complexos e no desenvolvimento de novas ideias. O verdadeiro potencial da Inteligência Artificial reside na sua colaboração com os humanos, melhorando a sua qualidade de vida e impulsionando a inovação.

É mais coerente olharmos para a Inteligência Artificial pelo ângulo do valor que aporta, ao invés de a demonizar com foco exclusivo nos possíveis riscos. Especialmente quando sabemos que os potenciais riscos estão a ser estudados, endereçados e mitigados por meio de regulação e medidas de supervisão.

A Inteligência Artificial nas empresas e nos negócios não é uma questão de opção, é uma questão de tempo, com tendência para que se banalize num futuro muito próximo. Os benefícios são muitos e resumem-se numa maior produtividade e eficiência. As alterações terão impactos positivos na vida de todos, proporcionando mais tempo livre e a oportunidade para desfrutar de uma vida familiar e social mais ativa. Isto traduz-se num enorme potencial para melhorar significativamente a qualidade de vida de toda a população ativa.

Talvez a Inteligência Artificial seja a solução mais viável, de sempre, para a transição para a semana de trabalho de 4 dias.