A seleção portuguesa de futebol parece cão que ladra mas não morde. Mas se calhar foi por isso que a seleção portuguesa, e não a alemã ou a espanhola, acabou mesmo por vencer um Europeu. O português, antes de atacar, tem de ameaçar, fazer estrilho, parecer zangado, injustiçado. Só assim consegue ser português: adiando para o último instante, para a última tentativa, a última oportunidade. Tanto gostamos de sobreviver nas últimas que, de vez em quando, lá chegamos em primeiro. Não aconteceu neste Europeu, nem no último, nem nos dois últimos Campeonatos do Mundo.

Apesar de treinados por um espanhol, a seleção nunca esteve tão portuguesa: totalmente presa a um passado que já não ajuda o presente, em constante homenagem e com o complicómetro ligado. Dizem que os portugueses são mestres na arte de desenrascar e é isso que a equipa vai fazendo. Desenrasca, não encanta, dança com a bola e vai jogando sem encantar ninguém. O problema de ser proficiente no desenrascanço é que afasta a excelência. Andar de tropeção em tropeção não só dói mais, como não é bonito de ver. Conseguirá Portugal superar este empecilho crónico do “poucochinho”?

Até nas conferências de imprensa o nosso treinador faz questão de espelhar o futebol que faz os rapazes praticar – dá respostas confusas, parece avaliar e decidir com critérios impercetíveis e aborrece toda a gente.

O português gosta de auto-impor missões impossíveis. Começa logo pelo hino: Marchar contra canhões? Jogar bem e ganhar um jogo contra uma seleção decente em tempo regulamentar? A mesma coisa, a mesma missão impossível.

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A seleção nacional refletiu bem a mentalidade portuguesa: a obsessão provinciana pelo que é grande e estrangeiro e a atitude servil perante interesses alheios. Espanha, no sentido contrário, mostrou que não há problema em apostar no talento jovem e nos atletas que jogam no seu país. Deu um sinal ao país de que no seu território existe potencial, vontade de fazer mais e melhor. Sem idolatrar, sem vénias humilhantes e constantes a entidades glorificadas. Portugal ainda tem “muito respeitinho”. Espanha deu uma lição a Portugal – mais uma.

O “provincianismo” de que Fernando Pessoa falava nos seus ensaios O Provincianismo Português e O Caso Mental Português mantém-se. Portugal continua demasiado apegado aos exemplos estrangeiros, ao que vem de fora, à mania das grandezas e sua subserviência perante as mesmas. Como ficamos parados a admirar tudo e todos esquecemo-nos de que também nós somos capazes de produzir e fazer bem. Não temos de fazer igual aos Holandeses, Franceses, Alemães ou Espanhóis. Podemos, à nossa maneira, destacar-nos. Em tudo: no futebol, na política, na arte, na cultura.

Talvez seja possível marchar contra os canhões. Porventura os canhões sejam mesmo a nossa ainda mentalidade pequena. “À minha maneira”, gritam os Xutos. Que assim seja.