Carlos Moedas conseguiu uma vitória extraordinária em Lisboa. Foi, antes de mais, o triunfo da coragem. Moedas tinha uma carreira profissional de sucesso. Fernando Medina parecia imbatível em Lisboa. O PSD era um partido desmoralizado e dividido. As sondagens foram consistentes no erro (e no erro para o lado socialista) e deram sempre a vitória a Medina. Surfando a vaga socialista, a maioria dos comentadores deram uma vitória, nalguns casos “esmagadora”, a Medina no debate a dois.
A tudo isto, Moedas reagiu com coragem e determinação. Quando a vitória parecia impossível, Moedas arriscou e avançou para a luta eleitoral. A cada sondagem desfavorável, Moedas respondeu com mais trabalho e mais campanha nas ruas de Lisboa.
Moedas também mostrou coragem quando percebeu que a polarização seria o único caminho para a vitória. Não foi fácil. Muitos no PSD e na área do centro direita afirmavam que a polarização seria não só o caminho para a derrota como até constituía um desvio da própria personalidade de Moedas. Não entenderam nada do que se passou e pouco percebem de política. Polarização é muito diferente de radicalismo. E, precisamente, porque Moedas é estruturalmente moderado, no seu caso, a polarização não constituía um grande risco. Moedas foi capaz de polarizar, dizendo claramente que Medina era o adversário e que só ele o poderia derrotar, sem cair nunca num discurso radical. Esta foi uma das razões da vitória. Muitos no PSD e na direita deveriam aprender a lição.
A vitória de Moedas também foi o triunfo da competência e da seriedade. Em todos os sectores profissionais e da vida em geral há pessoas competentes e há pessoas incompetentes. Os competentes preparam-se e trabalham duramente e com método. Sabem que nada substitui o trabalho de qualidade. Moedas é simplesmente um homem competente. E usou a sua competência para ganhar as eleições.
Os eleitores percebem a competência e a seriedade, especialmente quando olham para muitos no PS a exercerem as suas funções de um modo incompetente e pouco sério. Moedas tem ainda a humildade e a simplicidade de quem sabe que é necessário trabalhar duramente para alcançar os seus objectivos. Essa atitude dá confiança aos eleitores. Mais, a humildade de Moedas foi o contraste da arrogância de Medina, que se comportou durante a campanha como se Lisboa lhe pertencesse e mesmo irritando-se com Moedas porque ele ousou combatê-lo e enfrentá-lo. Há quem afirme que a arrogância derrotou Medina. Mas foi a personalidade de Moedas que expôs a arrogância do seu adversário.
Mas Moedas está a meio do caminho. Será um Presidente com uma base política minoritária. Não vai ser fácil governar Lisboa. O PS quer regressar ao poder o mais rapidamente possível e vai fazer a vida muito difícil a Moedas. Em minoria, Moedas terá que simultaneamente governar Lisboa e liderar o combate político contra os socialistas.
A vitória de Moedas foi uma lição de democracia. Mostrou que as eleições não se conquistam nas empresas de sondagens, nos estúdios de televisão ou nos corredores do poder, mas nas ruas com os eleitores.
Para consolidar o seu poder, e continuar a combater os socialistas com sucesso, Moedas terá que reforçar a aliança com o povo de Lisboa. E os lisboetas merecem finalmente um bom Presidente da Câmara.