Digitalização é a palavra do momento. E dos últimos anos. Bom, na verdade, hoje fala-se de “Digital Transformation” — porque esta área sem um termo sexy não faz sentido. Por esta altura, já devia haver uma startup a criar buzz words — uma secção do dicionário dedicada às digital trends.

Por isso, decidi que este artigo é um digital article, esteja ele online ou offline.

Agora que já lancei palavras chamativas, posso confessar que não me identifico com esses termos — as coisas são o que são. Porque temos de tentar que sejam mais sofisticadas? Não aprendemos mais rápido se dissermos que 1+1= 2?  Para quê dizer one plus one equals two (a menos que estejamos numa aula de inglês)?

Mas a verdade é que esta pandemia acelerou tanto o digital, que se tornou em verbo em ação: muitas mais empresas já procuram soluções digitais. E se antes o digital era um mundo que pertencia às grandes empresas, hoje as PME têm a necessidade de se digitalizar porque tudo é digital. O mundo mudou.

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E se chegou até aqui a pensar “sim, sim, isso já sabemos!”, tenho uma questão para si: e que tal pormos todas as mãos na massa e errar muito? Sim, errar. Não perca muito tempo a elaborar um post de uma rede social ou a colocar a melhor foto no site. Faça as coisas e depois otimize tudo. Porque esta é a grande mais valia do digital: não é preciso imprimir algo para colar em vários locais, com toda uma rede de colaboradores a distribuir. Não há espaço para bichos de sete cabeças: podemos mudar o que quisermos, como e quando quisermos.

Na verdade, quanto menos lermos sobre o digital melhor. Nem sequer precisa de um especialista de digital para começar — comece por si próprio e erre um bocadinho. É tão simples quanto isto.

Nem precisa de tirar mais ilações do que estou a dizer: basta que faça acontecer pequenos passos.

Depois dos pequenos passos, dê um pulinho enquanto se prepara para os grandes.

Uma PME é composta por três regras básicas de gestão: venda, tratar bem as pessoas e dinheiro no banco.

Hoje em dia, as vendas estão difíceis e o dinheiro no banco é um desafio. Tratar bem as pessoas sem dinheiro e vendas, mais difícil é. Mas eu proponho uma simplificação.

Imagine que eu tenho um talho e quero dinamizar o meu negócio pelo ecommerce. Não sei nada sobre montar lojas online, toda a vida vendi a carne diretamente ao cliente. Garanto-lhe: tudo aquilo que precisa está ao alcance de uma pesquisa na internet. Existem soluções de ecommerce a 10 euros por mês.

E se o negócio local está a crescer bastante, porque não começar a aceitar encomendas através de WhatsApp? Já agora, todas as semanas vou enviar dicas de receitas com os meus produtos à minha lista de contactos, aumentando o desejo dos meus clientes pelos meus produtos — ao mesmo tempo que aumento o meu negócio e oportunidade de crescimento. Mais: vou aproveitar e convidar os meus clientes a experimentarem as receitas e colocarem a sua opinião nas suas redes sociais, identificando-me. Os mais originais, recebem 15% de desconto na próxima encomenda. Faça dos seus consumidores os seus embaixadores.

E isto vale para qualquer tipo de negócio. Se for retalhista de pequena dimensão e quiser investir em relações através de um Customer Relationship Management — uma plataforma que lhe permite gerir todas as interações com os seus clientes —, há tantas soluções acessíveis. Porque não, configurar umas notificações para aquele consumidor que comprou a máquina de barbear e enviar-lhe conteúdos com dicas sobre como fazer a barba, ou alertas sobre quando as lâminas precisam de ser renovadas? Ou talvez queira promover detergentes da roupa — partilhe dicas sobre como tirar aquelas nódoas mais difíceis. Se é uma PME dedicada ao local, invista nas relações locais e use os meios digitais para eles. Se tem um produto exclusivo e quer internacionalizar, estude as outras culturas antes de começar a comunicar com os seus públicos.

Elabore uma estratégia offline e passe-a para o digital, porque o online funciona da mesma forma, com a vantagem de que pode alcançar muitos mais consumidores. Invista na experiência de contacto com o ser humano para incrementar a relação com o seu consumidor. Faça o seu consumidor desejar o seu produto ou serviço. Comunique de pessoas para pessoas, com uma estratégia coerente que transpareça atitude, diferença e integridade.

A chave é: não se assuste com as terminologias digitais nem tente atingir a perfeição. Simplifique a tecnologia. Ela já existe. Veja uns vídeos para aprender o essencial e fazer você mesmo.

Richard Branson disse um dia: “Eu compro qualquer empresa que esteja a dar lucro com um mau serviço ao cliente.” Se humanizar todas as jornadas do cliente digital e a isso juntar paixão e muita resiliência, o seu negócio vai ser o melhor do mundo.

Se quiser resumir este artigo a algum amigo, deixo-o com duas palavras: “FAÇA ACONTECER”. Digital Humano não é o futuro — é a realidade de hoje.