Primeira pergunta: a que velocidade circulava a viatura do ministro Cabrita aquando do fatal acidente na A6, que vitimou Nuno Santos, trabalhador, a 18 de Junho? A longa lista de tudo o que entretanto se descobriu acerca do acidente está feita por João Miguel Tavares, com destaque para esta lacuna imperdoável e determinante para a reconstituição do sucedido: desconhece-se a velocidade da viatura no momento da colisão. O calculismo político que gera o actual silêncio de quase dois meses só pode ser encarado com repúdio absoluto.

Segunda pergunta: onde estão os resultados dos eventos-piloto, a partir dos quais se definiriam as regras para o sector cultural durante o Verão? Passaram-se mais de três meses desde a sua realização, as regras já foram definidas e alteradas em duas ocasiões, o Verão vai a meio e ninguém esclarece o que afinal aconteceu durante esses eventos em termos de contágios de Covid-19. Não vou bater no ceguinho: já fiz a cronologia dos factos num artigo e já insisti na mesma tecla num outro artigo. Se agora volto ao tema, é porque, segundo Álvaro Covões, o Governo já tem os resultados, embora continue a não os divulgar. Estará então à espera do quê?

Terceira pergunta: por que razão é necessário vacinar os menores a partir dos 12 anos? A pergunta é simples e directa. Só que, oficialmente, não tem resposta. Entendamo-nos: uma coisa é a segurança da vacina (avaliação risco-benefício), outra coisa é a utilidade da vacina (que ninguém explicou). Em apenas 10 dias, a DGS alterou a sua posição sobre a segurança da vacina, passando de recomendar apenas a vacinação aos menores com comorbilidades para a sua nova posição de universalizar as vacinas para maiores de 12 anos. Durante esses 10 dias, o que aconteceu? O vice-almirante Gouveia e Melo pressionou. O Presidente da República pressionou. O Governo pressionou. Os directores de escolas pressionaram. A DGS cedeu à pressão, como constatam vários especialistas, sem que se conheçam novos dados técnicos e científicos.

Mas se isso encerra a discussão da segurança da vacina para os menores, o que dizer sobre a sua utilidade? O ponto mantém-se: vacinar os maiores de 12 anos serve para quê? E esta pergunta inicial e fundamental ainda não tem uma resposta assumida pelas autoridades públicas. Segundo o Primeiro-Ministro, que se congratula com a nova orientação da DGS, serve para proteger esta faixa etária da Covid-19. Só que, desde Março 2020, o risco para as crianças revelou-se residual: nos 125.942 casos positivos identificados entre os 0 e os 18 anos, só 58 justificaram internamento (0,04%) e as 5 mortes estiveram todas associadas a comorbilidades. Diz então o Presidente da República, numa argumentação mais criativa: “Se não há razões decisivas de saúde pública, há de natureza educativa.” O que, entenda-se, é um argumento instrumental e viciado: as suspensões do ensino presencial dependem das orientações da DGS e mesmo no ano lectivo passado, por toda a Europa, houve escolas a funcionar sem interrupções do ensino presencial — e sem para isso precisarem de índices elevados de vacinação nos adultos, quanto mais nas crianças. Em que ficamos? Convinha que se esclarecesse e se explicasse às famílias esta opção política.

Os Portugueses têm o péssimo hábito do conformismo. Facilmente desistem de exigir esclarecimentos perante histórias mal contadas. Resultado: valida-se a táctica de Presidência, Governo e partidos, para quem o silêncio e a opacidade compensam. Não admira que, assim sendo, na balança dos benefícios e dos prejuízos, a transparência penda sempre para o lado perdedor — na política, ganha-se mais em não prestar contas aos cidadãos. É tentador apontar o dedo aos políticos? Sim, é. Mas isto não é destino, é opção: a opacidade só compensa porque nós, enquanto cidadãos, assim o permitimos. Insistamos em fazer perguntas, precisamente para que não caiam em esquecimento. E exijamos respostas. Porque estas três perguntas precisam de respostas urgentes.

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