Um em cada dois consumidores afirma que o seu próximo veículo será híbrido ou eléctrico. Esta é uma das conclusões do mais recente estudo da ACAP, “As redes de retalho automóvel em Portugal – O presente e o futuro do sector”, elaborado por uma equipa de investigadores do ISEG, e que revela que a aposta em soluções de mobilidade mais verde e em novas tecnologias é, cada vez mais, uma tendência à qual as marcas e concessionários não poderão ficar indiferentes.

No entanto, e apesar da vontade e abertura dos consumidores portugueses para novas formas de mobilidade, a verdade é que são necessárias mais medidas, por parte do Governo, para consolidar esta tendência. E apesar da medida positiva, que foi tomada este ano, no sentido de se aumentar o valor do incentivo, concedido a particulares, de 3.000 para 4.000 euros, não podemos esquecer que este só abrange 1.300 veículos, quando, no período de janeiro a junho deste ano, já foram matriculados, no total, 7.637 veículos. Por outro lado, e apesar deste aumento, não podemos esquecer, também, que os incentivos em Espanha são de 7.000 euros e na Roménia, por exemplo, de 10.000 euros.

Se a estratégia passa, como o Governo Português e a União Europeia têm vindo a afirmar, e foi recentemente aprovado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho no âmbito do plano “Fit for 55”, pela mobilidade eléctrica, também os poderes públicos devem fazer a sua parte, incentivando e compensando esse investimento. E o Fundo Ambiental deverá servir, também, para cumprir esse objectivo, uma vez que, actualmente, muitos portugueses não têm ainda capacidade financeira para fazer essa transição.

A verdade é que, apesar do movimento crescente das vendas de veículos híbridos e eléctricos, a substituição do parque automóvel far-se-á a um ritmo muito mais lento. Neste ponto, é importante referir que a idade média do parque de veículos ligeiros de passageiros, em Portugal, se situa em 13,7 anos, muito acima dos números da média europeia e temos em circulação mais de um milhão e meio de veículos com idade superior a vinte anos.

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É altura, por isso, de o Governo definir um plano concreto para o futuro da mobilidade no país e de fazer uma escolha que não pode nem deve ser adiada. A bem da economia, da descarbonização e de um sector que agrega cerca de 33 mil empresas, que emprega mais de 160 mil trabalhadores e que apresenta, em Portugal, um volume de negócios equivalente a 7,9 por cento da facturação total das empresas, representando 14 por cento das exportações nacionais.

É fundamental que, anualmente, sejam reforçados os incentivos quer no seu valor quer no número de veículos a abranger, assim como é prioritário implementar um verdadeiro plano de renovação do parque automóvel e apostar no desenvolvimento contínuo da rede de carregamento, com monitorização permanente dos objectivos quantitativos, que sejam realistas, para o curto e o médio prazo.

Tenho a firme convicção de que todos os players deste setor estão disponíveis para colaborar na implementação deste plano. A ACAP, como a Associação de referência no sector automóvel, está. É hora de agir. É hora de mudar. Não dar resposta a esta mudança de paradigma não pode ser opção. A realidade deste setor foi analisada e os resultados são públicos. Irá, agora, o Governo atuar?