A palavra “poupar” está desde sempre associada aos períodos de “Seca”.  Na verdade, este verbo é apenas uma parte da solução uma vez que é preciso conhecer as diferentes realidades para atuar com eficiência na base desta situação estrutural que se verifica no nosso país.

Só conseguimos gerir com eficiência o que se mede. O perfil sectorial de consumo de água em Portugal, segundo o estudo realizado em 2021 pela Fundação Calouste Gulbenkian, atribui ao setor agrícola 75% da água utilizada em Portugal, deixando os restantes 25% para o consumo doméstico e industrial. Este estudo revela ainda que 71% dos agricultores não tem contador de água. Ao sermos deparados com estas realidades, ao falar de “seca”, devemos priorizar e procurar soluções eficientes para a rega agrícola, num universo de conhecimento e mensurabilidade, uma vez que esta atividade é tão essencial para o país como para a gestão eficaz dos recursos hídricos.

A atual incapacidade de medir eficazmente esta realidade não permite tomar as melhores opções de gestão hídrica, nem medir custos reais do fator água, nomeadamente nas produções agrícolas.

Este é um desafio crítico para atingir eficiência hídrica, para combater a “seca” e para a produção alimentar. Se a água é essencial para a agricultura, a rega é um fator intrínseco à produtividade e competitividade do sector. Urge a adoção de sistemas de rega mais eficientes, como sistemas gota a gota e rega enterrada, ou a utilização de inovação tecnológica que permita a precisão e otimização da rega. Este salto evolutivo é determinante para poder “poupar” os recursos hídricos com recurso à tecnologia, o que exige um esforço de conhecimento e investimento que pode não estar diretamente ligado a rentabilidades económicas imediatas.

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Se em Portugal o consumo agrícola equivale a ¾ do total, as soluções a encontrar para a seca passam também por encontrar um equilíbrio eficiente para o setor, onde exista menos perdas de água, menos desperdício, inovação colaborativa e opções produtivas que se adequem às reais capacidades hídricas do país e da região. Precisamos de eficiência hídrica em todos os processos. Uma solução é a certificação do consumo hídrico, que permite separar o trigo, aqueles que querem investir com responsabilidade ambiental; do joio, os que acham que o ambiente é uma moda e que a “seca” só ocorre de tempos a tempos. E esta responsabilidade ambiental terá de ser uma aposta crescente nas escolhas dos consumidores mais esclarecidos e atentos à questão ambiental.

Da mesma forma que quando compramos uma lâmpada vemos o gráfico da eficiência energética, ideal seria que quando compramos legumes, fruta ou um bife, sabermos qual a eficiência hídrica que teve em todo o processo da sua cadeia de produção, permitindo ao consumidor ter uma escolha mais esclarecida.

Só com estes passos conseguimos a sustentabilidade no setor da água que tanto lutamos. Concentrar os esforços onde as ações podem ter um impacto real na solução dos problemas reais é um hábito que temos de adquirir para evitar desperdício de esforço e de recursos.