Foram precisos três anos e meio para o PS dizer ter “vergonha” do caso Sócrates. Ironicamente, o envergonhado de serviço foi Carlos César, o presidente do partido que não tem vergonha de cobrar viagens em duplicado nem de ter metade da família empregada no Estado. Em boa verdade, César foi por lã e saiu tosquiado. Quando tentou tornar o independente Manuel Pinho no cordeiro a sacrificar para não agitar os pecados do último Governo socialista, despertou todos os fantasmas desse passado vergonhoso para a democracia portuguesa. Porque é impossível falar de Pinho e não dizer nada sobre Sócrates. Ou sobre Salgado. Ou sobre Mexia. Ou sobre os gestores da PT.

Mais. Pinho não arrasta apenas Sócrates. Leva também atrás quem se sentava nas restantes cadeiras daquele Conselho de Ministros. Se nada viram, ou fecharam os olhos ou estavam completamente cegos. Se nada perceberam, ou não contavam para nada ou entram no rol dos suspeitos de que eram gente a ter em conta. E há dois deles que estão de novo nos mesmos assentos.

Carlos César caiu na esparrela. O escândalo Pinho estava transformado em mais um caso paradigmático do funcionamento da política portuguesa. Num país em que todos os partidos têm não paredes mas telhados de vidro, no princípio foi o silêncio. Dez dias depois, quando Rio atirou timidamente a primeira pedra, veio finalmente o verbo. Ou melhor, uma verdadeira verborreia. E César deixou-se apanhar pelas palavras. Depois da boca lhe ter fugido para a verdade, de nada valeu tentar corrigir a trajetória da boutade: a bola de neve já rolava a alta velocidade. De membros do Governo até ao altifalante João Galamba, multiplicaram-se como cogumelos Anas Gomes socialistas.

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