As Universidades desempenham um papel crucial não apenas no ensino, mas também na geração e disseminação de conhecimento através da investigação científica. Contudo, o compromisso de dedicação à investigação, bem como os fundos públicos a ela destinados, não são entendidos de forma clara, principalmente para quem está fora do contexto académico. É inegável que as universidades têm a missão de reforçar e promover a capacidade científica, seja ela fundamental ou aplicada, direta ou indiretamente ligada ao ensino da instituição. A investigação visa fomentar descobertas, impulsionando o progresso e a inovação, sendo efetivamente a base do conhecimento.

Ao comparar a investigação a nível académico com a inovação realizada por grandes empresas, nota-se um desfasamento significativo. Embora as universidades produzam investigação de excelência, muitas vezes o conhecimento gerado não atinge o grau de maturação e aplicabilidade indispensável para a indústria. É competência do Estado, promover e incentivar a investigação, para que possa ser transformada em inovação para as empresas. Este investimento não é imediato, mas resultará num retorno significativo para a sociedade, as universidades e as empresas.

Nesse sentido, o Estado tomou algumas medidas para incentivar e manter em Portugal investigadores doutorados através, por exemplo, do Concurso Estímulo ao Emprego que permite um vínculo laboral formal com as instituições, tentando reverter a situação altamente precária em que a maioria dos investigadores se encontra.

De qualquer das formas, existe claramente um fosso entre o conhecimento produzido e a sua translação para o tecido empresarial. A sinergia entre a indústria e as universidades é essencial, mas o desafio reside na discrepância entre a natureza e os objetivos de cada um. As métricas de sucesso académico exigem uma constante produção de publicações científicas, registo de patentes e disseminação de resultados, sem foco na transferência desse conhecimento para o setor empresarial, e na obtenção de lucro. Tal perspetiva diverge das expectativas e prazos das empresas que pretendem o desenvolvimento rápido de produtos e processos menos burocráticos. Há ainda a colisão entre as preocupações das empresas em proteger a informação gerada e a natureza aberta de partilha de resultados na investigação académica, o que frequentemente resulta no insucesso das colaborações entre elas. Isto faz com que estes dois mundos não comuniquem e várias ideias revolucionárias nunca cheguem ao mercado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Neste cenário as spin-offs emergem como pontes valiosas entre a investigação científica e a indústria. As spin-offs têm origem nas universidades onde se produz o conhecimento, e possuem o método e capacidades para atingir objetivos concretos de modo a atingir o desenvolvimento rápido potenciando a escalabilidade do negócio. Além disso, as spin-offs podem rentabilizar e usufruir das infraestruturas das universidades, gerando retorno para as mesmas e fomentando a passagem do conhecimento dos laboratórios para o mercado. Embora operem com recursos económicos, humanos e temporais limitados, os seus fundadores possuem paixão, atitude disruptiva, conhecimento e audácia para assumir riscos e, através de táticas e métodos empreendedores, acelerar o desenvolvimento tecnológico para obter tração no mercado.

Em boa verdade, as spin-offs suprem a lacuna entre o conhecimento derivado da investigação dentro das universidades e a sua transição para o mercado, atuando como “hubs” de inovação. Neste contexto as spin-offs surgem como catalisadores essenciais funcionando como um elo vital entre a teoria e a prática, garantindo que descobertas revolucionárias não se percam e sejam transformadas em soluções com impacto na sociedade. Em suma, é vital apoiar a investigação nas universidades, e estabelecer um ambiente propício para que as spin-offs surjam e perdurem, assegurando que muitas ideias inovadoras cheguem ao mercado e possibilitando um retorno para todos os intervenientes.

Joana Guerreiro é investigadora, Co-fundadora e Directora do Departamento de Investigação da IPLEXMED, unindo a ciência e o empreendedorismo.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.