Reconhecem-na como “a cidade dos estudantes” ou “a cidade do Fado”, mas pode ser apresentada, também, como “a primeira capital portuguesa” ou “a cidade que testemunhou o amor de Pedro e Inês”, exaltando a sua dimensão histórica. Foi o lugar onde se deu a abolição da pena de morte – um importante passo para a elevação da espécie humana. As suas ruas, antigas, emanam o mais profundo espírito daquilo que é ser português: por elas bafejam os ares da melancolia e da saudade, características que fazem com que tenha “mais encanto na hora da despedida”.

Coimbra está no centro de Portugal, não só geograficamente, como na sua construção histórica, cultural e na abertura do país ao resto do mundo. É casa do saber e é a partir de Coimbra que se constrói o pensamento português. Mas não só. Também a Europa, historicamente, não seria a mesma sem Coimbra, que é um ponto crucial para a rede transnacional de estudantes europeus. A ligação intelectual de Portugal com a Europa faz-se através de Coimbra. A multiculturalidade e a abertura ao conhecimento banham a cidade, de forma quase tão natural como as correntes do Mondego. Acreditamos, aliás, que foi este equilíbrio, entre uma longa e densa história e a tolerância ao novo, que fez com que mais de 15 mil cidadãos estrangeiros escolhessem Coimbra para viver.

Este posicionamento centralizado que “a cidade dos estudantes” apresenta será um importante agente para a recuperação económica que nos espera, após sobrevivermos a um vírus que devastou, penosamente, o sector da cultura – na Europa, este sector registou, em média, quebras de 87%; em Portugal a queda chegou aos 80%. São números que apontam, sem dúvida, para a necessidade e urgência de uma sociedade mais sustentável. A boa notícia é que temos, agora, a oportunidade de a reconstruir, valorizando a cultura da forma como esta deve e merece ser celebrada e valorizada.

Coimbra já iniciou esse caminho, desde logo com a criação do Conselho da Cultura, dentro da Câmara Municipal, no âmbito da candidatura da cidade a Capital Europeia da Cultura em 2027. Este é um passo inédito para o município e para o país, que irá, finalmente, colocar este sector no centro de debate das decisões políticas e económicas.

Segundo Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, os “investimentos culturais vão ter um papel crucial na recuperação económica da Europa, prevendo reconstruir o sector da cultura”. Estas palavras foram proferidas na conferência “Cultura, Coesão e Impacto Social”, que decorreu na Fundação de Serralves, no Porto, organizada pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), que decorre durante o primeiro semestre de 2021 e que está a terminar. É, aliás, para assinalar a presidência portuguesa que Coimbra tem programados vários eventos, desde concertos, peças de teatro, performances, exposições, entre outros, que estarão na linha da frente de uma nova forma de consumir cultura.

A “cidade do Fado” segue o mesmo princípio europeu no que se refere a coesão social e reforma pós-pandemia, considerando crucial o investimento na cultura, mesmo contra um Governo central que não a valoriza – decidiu, até, não incluir o sector no Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020- 2030, que diz respeito à utilização dos fundos europeus. A Europa encontra a sua essência na capacidade agregadora de tantas e tão distintas culturas. Contribuir para a coesão entre todas foi e será (sempre) uma característica intrínseca a Coimbra.

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