Já ouviu falar de idadismo? Segundo o Relatório Mundial sobre o Idadismo, conduzido pela OMS, “o idadismo refere-se a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionados às pessoas, com base na sua idade”. Trocado por miúdos, consiste em ideias pré-concebidas acerca de alguém mais novo ou mais velho: quando pensamos que um jovem não sabe o que quer, por ser novo; ou que um idoso não tem autonomia, por ser velho, por exemplo. É neste último caso que pretendo incidir neste artigo.

A nível mundial, uma a cada duas pessoas é idadista contra as pessoas idosas, e as consequências são graves: regressão da saúde física e mental, menor expetativa de vida, recuperação mais lenta de incapacidade e até declínio cognitivo.

Uma das características a salientar sobre a sociedade portuguesa, e de grande parte do mundo atual, é a tendência demográfica de envelhecimento da população, não sendo exagerado afirmar que este é um dos desafios centrais do século XXI. Nas últimas décadas do século passado, registou-se, em Portugal, um aumento constante da população mais velha. Segundo os Censos de 2021, nesse ano existia uma média de 182 idosos por cada 100 jovens.

Este fenómeno traz consigo desafios e oportunidades que afetam diretamente as pessoas mais velhas, as famílias e cuidadores, e a sociedade como um todo. Pode ter um impacto significativo na economia, na saúde, no bem-estar e na estrutura social de um país. No entanto, em vez de falar de uma população envelhecida, falemos de longevidade, de propósito, de inclusão social e comunitária, de valorizar as pessoas em todo o ciclo da sua vida, assim como da oportunidade que significa fomentar as relações e partilha de conhecimento entre diferentes gerações.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Todos nós podemos influenciar a forma como envelhecemos na forma como vivemos a nossa longevidade. De acordo com alguns estudos, o que mantém as pessoas saudáveis e com qualidade de vida não se prende tanto com uma dieta em baixo teor de gordura, sem glúten ou à prática de exercício físico, mas sim a componentes associadas ao lado relacional e à dimensão humana. Aliás, após o estudo alargado de 10 variáveis, apresentado por Pinker, em 2017, foi demonstrado que o fator mais importante para favorecer uma vida duradoura e saudável é a integração social: relações pessoais estreitas e interações cara a cara.

É importante que a sociedade desenvolva políticas e programas que atendam às necessidades de todos os cidadãos e promovam a longevidade e uma visão positiva e inclusiva das pessoas na sociedade, independentemente da sua idade. Devem ser criados e divulgados projetos que visam reduzir o idadismo e contribuir para o reforço de uma sociedade que valoriza todo o ciclo de vida de cada indivíduo. A promoção da atividade física e mental dos mais velhos e da criação de novas relações, dando-lhes um propósito, é uma forma de melhorar a sua qualidade de vida. Simultaneamente, deve-se reconhecer o seu valor e a sua potencial contribuição para a sociedade.

Ao colocar o foco nas potencialidades destas pessoas, estamos a torná-las mais fortes emocionalmente e mais capazes socialmente. Este reforço da autoestima é refletido no fortalecimento da imagem que a comunidade e a sociedade, em geral, têm desta faixa etária. Desta forma, esta é valorizada e é reconhecido o seu valor e contributos, refletindo-se na reatribuição de um papel válido e necessário, que tinha ficado “na prateleira”. Esta reatribuição é o mote para a desconstrução de conceitos e preconceitos normalmente associados à imagem das pessoas mais velhas.

Existem muitos desafios importantes no século XXI e o envelhecimento da população é certamente um desafio crucial que exige a nossa atenção e ação coletiva. Como sociedade, temos a obrigação de garantir que as pessoas sejam capazes de envelhecer com dignidade e desfrutar de uma boa qualidade de vida, em qualquer altura. Por essa razão, é fundamental a inclusão social e comunitária, pois ajuda as pessoas a estarem e sentirem-se conectadas e a participar ativamente na sociedade. Ao mesmo tempo, é também fundamental ser-se capaz de manter o sentido de propósito ao longo da vida, reconhecendo-nos sempre como úteis.

Ao combater o idadismo, estamos a promover uma longevidade saudável e feliz, proporcionando oportunidades de crescimento e aprendizagem, onde qualquer pessoa é aceite e integrada independentemente da sua idade, garantindo que todas são tratadas com respeito e dignidade, garantindo assim o reconhecimento das suas capacidades e contribuições únicas. Não digo que esta é a receita para um mundo perfeito, mas sim a solução para uma sociedade mais inclusiva e enriquecedora para todas as pessoas.