Já não sei a quem pertences, Portugal, pensei que fosses nosso de alguma forma, nosso e de todos aqueles que equitativamente te querem partilhar! Temos que nos unir para te abençoar! Uma bênção muito grande, para que encontres o caminho de volta.

Abençoado Portugal que tratas tão bem os nossos turistas, e que com eles vais praticando o verbo “to speak”, que querem continuadamente e de uma forma incessante voltar às belas terras portuguesas, ao pastel de nata e de bacalhau, e à bica. Mas um dia decidem cá morar, e lá se vão as casas e os trocos dos portugueses que já não as podem alugar, muito menos comprar.

Abençoado Portugal e os teus cafés e restaurantes, nos quais quase não se fala o Português, que ainda creio ser a língua oficial do país, que invadem os nossos passeios de esplanadas, para que os nossos turistas possam beber a “nossa” bica, enquanto contemplam os nossos passos tímidos no que sobra do passeio. E que ainda o temos que dividir com os cães que passeiam, com os que pedem dinheiro, com todos aqueles que param de 5 em 5 minutos para tirar uma fotografia, com aqueles que nos evangelizam, e com aqueles que não sabem claramente onde se anda de trotinete.

Abençoado Portugal e os nossos líderes, que têm sido tão generosos com todas as regalias fiscais, que têm oferecido aos nossos queridos estrangeiros reformados e nómadas digitais, os tais que têm vindo a ocupar também as esplanadas. Tão bom que foi durante 10 anos, ou não pagar nada, ou pagar 10% de impostos, sobre o valor das pensões recebidas do estrangeiro anualmente. Como somos tão generosos! Que não nos importamos de pagar o excedente dos impostos por eles! E só quando tudo ficou caótico é que percebeste, Portugal, que por aí não era o caminho, e que já não percorrerás essa estrada no próximo ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Abençoado Portugal que nos ensinaste a comer e a calar! A sermos continuadamente um rebanho atrás de um pastor, ou vários pastores, porque há sempre muitos candidatos a quererem ocupar essa posição! E que nos livrem daqueles que saem desse desalinhamento, porque serão vistos como as pontas dos cardumes da sociedade, os tais alvos a abater.

Abençoado Portugal que és tão conhecido pela qualidade da tua educação, pelas tuas escolas, pelas tuas universidades, pelos teus professores. No entanto, os motores que mantêm essa mesma educação, andam há anos à espera que lhes devolvas a dignidade outrora roubada, e já agora, se não fosse pedir muito, que possam ensinar no sítio onde vivem, ou pelo menos pertinho, pois ainda não existe uma máquina do tempo que os possa levar e trazer no mesmo dia quando estão a 400 km da sua residência. Não, Portugal, pagar quartos a todos os nossos professores não é uma solução para o futuro! É só atirar mais um bocadinho de areia para os olhos!

Abençoado Portugal que cuidas tão bem dos nossos médicos, que eles ficam com tanta vontade de retribuir o favor em outros países, que os amam tanto, e que já não os deixam sair. Depois surgem as filas de espera às 5h da manhã, num centro de saúde qualquer perdido no mapa, porque todos aqueles que esperam nestas filazinhas sofrem de insónias, e não sabem mais o que fazer de madrugada.

Abençoado Portugal que queres ser tão “green”, que crias nas nossas belas cidades pistas de ciclovias, nas quais os nossos líderes não querem andar, em estradas em que mal há espaço para um carro, quanto mais para passar uma ambulância, que agitadamente tenta salvar uma vida humana.

Abençoado sejas Portugal!